Roza | Sem heróis e sem vergonha

Nem sempre “heróis” do cinema são personagens que merecem ser fonte de inspiração para sermos pessoas melhores. No caso desse Roza, uma ode a pessoas fracas. Chega a dar vergonha chamar qualquer uma dessas pessoas de herói.

Seu protagonista real, apesar dos créditos finais sugerirem quatro, é Hector (Hector Ramos). Pai de família, ele foge de casa e deixa mãe e pai, esposa e filho. O filme começa quando ele retorna, contra todos os prognósticos da família, e logo começa a arrumar problemas em casa. Mas sua esposa não o reconhece mais e seu filho não sabe sequer como reagir com sua presença. E sua mãe, agora viúva, é um autômato da geração passada, repetindo o que lhe foi ensinada sobre arrumar um porto seguro e sobreviver. Ela ainda fala a língua nativa de seu povo e não usa o espanhol.

Por falar em povo, este é claramente um filme onde a etnia interessa. De maneira pejorativa, no caso. Existe um descompasso entre o que esperamos que um ser humano ideal seja e as pessoas do filme. Como não fica claro quais os fantasmas que as atormentam, a conclusão natural do espectador é concluir ser este um caso genético, cultural ou ambos. De qualquer forma, sob qualquer ponto de vista de pessoas que almejam o melhor a cada dia, Hector é um desastre.

A escalação e atuação ajuda nesse sentido. De cara arredondada e quieto, a escolha de Hector Ramos é simbólica. Quando o ator diz algo é com uma voz fraca e fina. Falta fôlego e caráter nesse sujeito. Ele não tem fibra para afirmar nada, esteja certo ou errado. Com falhas graves de comunicação e de postura, se isolando de um mundo que não lhe interessa, é fácil entender a dinâmica dessa família disfuncional.

O roteiro de Andres Rodriguez, ou melhor dizendo, a ausência de um, já que estes são personagens da vida real, é minimalista. Cria situações bem demarcadas sobre o retorno de Hector com começo, meio e fim. Não há trama, os eventos se sucedem como na vida real. E como um filme de arte preguiçoso que se preze, se há alguma mensagem escondida sua interpretação fica sob total responsabilidade do espectador, esse pobre coitado que entrou em uma daquelas sessões erradas da Mostra de SP. Acontece. O lado bom é que sempre há um próximo filme para tirar o gosto ruim do que já passou.


“Roza” (Gua/Mex, 2022), dirigido por Andres Rodriguez, com Clara Colop, Antonia Maldonado e Hector Ramos.


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Trailer do Filme – Roza

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