O mais complicado de Rua do Medo: 1994 – Parte 1 é funcionar, e isso ele faz. Melhor ainda, deixa uma pontinha de expectativa para conferir as outras duas partes dessa trilogia. Talvez não pela qualidade, mas com certeza pela vontade de ver onde essa história irá parar.
Não que isso seja algo contra essa primeira parte, ela realmente funciona quase que independentemente, mas qualquer coisa diferente disso nem parece ser a intenção do filme. Ele é a adaptação de uma série popular de livros escrita pelo mesmo R.L. Stine de Goosebumps, que também marcou a infância de muito jovem americano e depois fez um pequeno sucesso nos cinemas.
A ideia de Rua do Medo é, no mínimo, interessante, já que Stine tem dezenas e mais dezenas de livros que se passam na cidade de Shadyside, além de algo em torno de 80 milhões de copias vendidas. Ficou a cargo da diretora Leigh Janiak, em parceria com Kyle Killen e Phil Graziadei a incumbência de juntar tudo isso em uma história só. Mais precisamente, três, mas que são contadas meio de trás para frente. A Netflix topou a ideia e contará tudo isso primeiro em 1994, depois 1978 e, por fim, 1666.
Isso quer dizer que é preciso fazer com que as pontas soltas sejam interessantes o suficiente para que o espectador não perca o rumo nos filmes e nem fique órfão de uma história aberta. Rua do Medo faz bem isso, principalmente, pois ninguém forçará muito essa ideia nos espectadores e o espaço entre os lançamentos dos capítulos não passará de duas semanas entre o primeiro e o último. É claro que a Netflix também sabe que o filme depois disso será assistido como uma série mesmo, portanto, não fazia sentido criar qualquer espera. Principalmente, pois o primeiro acaba realmente esperando pelo segundo.
Nesse capítulo mais avançado no futuro da cidade, depois de uma misteriosa chacina dentro de um shopping center, mesmo com o assassino morto pela polícia, algo de esquisito parece continuar pairando pela cidade. É exatamente isso que acaba atingindo em cheio a vida de Deena (Kiana Madeira) e seu irmão Josh (Benjamin Flores Jr.), que acabam sendo pegos em meio a uma caçada esquisita onde o perseguidor parece ser o próprio assassino morto no shopping.
A trama vai além disso e encontra esse lado místico da cidade, marcada por assassinatos misteriosos de tempos em tempos e ainda uma lenda envolvendo uma bruxa sacrificada alguns séculos antes de tudo isso.
Todo esse clima funciona, já que os questionamentos vão crescendo e a mitologia da cidade vai ficando mais e mais complexa, assim como os personagens vão se descobrindo em uma situação ainda mais perigosa. Junte a isso um trabalho honesto e interessante da diretora Leigh Janiak, que consegue construir um filme claro e que sabe se comportar dentro do gênero. Melhor ainda, entende o lugar onde está o filme, ali entre um espectador jovem demais para estar acostumado com terror mais explícito, mas também perto um público um pouco mais velho e que já está em busca de um pouco de gore.
Com isso em mente, esse primeiro Rua do Medo pode até começar mais leve, mas aos poucos vai mergulhando sutilmente em um terror mais visual e até alguns poucos, mas bons assassinatos. Resumindo, uma porta de entrada interessante para muitos futuros fãs do gênero.
O filme tem uma óbvia referência aos slashers dos anos 90, o que também é um prato cheio para seu público. Entretanto, nunca consegue encontrar realmente sua real inspiração no já clássico Pânico. O filme de 1996 marcou a década, mas já contava com um público muito mais cascudo, podendo encontrar atalhos narrativos muito mais cínicos e desafiadores. Nesse primeiro filme, o que Janiak consegue fazer é chegar mais perto de Stranger Things do que do filme de Wes Craven, já que se resume bastante a um monte de jovens adolescentes (um pouco menos crianças que os da série) correndo pela cidade tentando sobreviver a um inimigo sobrenatural.
Mas é uma correia com ritmo, com uma história que vai se descobrindo com propriedade, algumas boas cenas de ação e, é claro, inimigos divertidos e que são sempre o que os fãs mais esperam. E mesmo com um elenco pouco ou nada interessante e um monte de diálogos de doer de tão ruins, ainda assim Rua do Medo: 1998, acerte mais do que erra, e isso é sempre uma ótima notícia.
“Fear Street:1994 – Part 1” (EUA, 2021); escrito por Leigh Janiak, Kyle Killen e Phil Graziadei, a partir da série de livros de R.L. Stine; dirigido por Leigh Janiak; com Kiana Madeira, Benjamin Flores Jr., Julia Rehwald, Fred Henchinger, Ashley Zukerman, Maya Hawke e David W. Thompson