S.O.S. Mulheres ao Mar 2 é uma sequência que faz jus ao filme original, lançado em 2013: é igualmente estúpido, sem graça, misógino e ofensivo. Mais uma vez focando na possessão e no ciúme psicopáticos da protagonista, o longa traz agora, também, uma pitada de síndrome de vira-lata e de como envelhecer é a coisa mais embaraçosa que uma mulher pode fazer.
Depois dos eventos do primeiro filme (não é informado quanto tempo se passou), Adriana (Giovanna Antonelli) viu seu livro de auto-ajuda se tornar um best-seller e está prestes a inaugurar uma coluna feminina em um jornal. Ela está, também, em um relacionamento sério com o estilista André (Reynaldo Gianecchini). Ele quer que a namorada o acompanhe em um cruzeiro de três dias em que ele apresentará sua primeira coleção solo, mas Adriana tem compromissos importantes no trabalho. Até que ela descobre que a ex-noiva de André, a bela e jovem top model Anita (Rhaísa Batista), será a principal modelo de desfile e passará o cruzeiro todo ao lado de seu namorado. Adriana, então, reúne sua irmã, Luiza (Fabíula Nascimento) e Dialinda (Thalita Carauta), que agora vive em Miami. O trio é acompanhado até o cruzeiro pelo jovem modelo Maurício (Felipe Roque) e seu primo, Rafael (Gil Coelho).
Portanto, se antes Adriana era obcecada com o novo relacionamento de seu ex-marido e armava planos para humilhar a nova namorada dele, ela, aqui, é obcecada com o antigo relacionamento do atual namorado e arma planos para humilhar sua ex-noiva – e o fato de que André não se abala com os avanços da moça não importa em nada para Adriana.
Outro “grande tema” do roteiro de Sylvio Gonçalves e Bruno Garotti é a obsessão das mulheres pela juventude e a terrível ameaça (na visão do longa) das mulheres mais jovens – sem celulite, mais bonitas, mais bem dispostas, mais em forma, mais interessantes… A culpa, é claro, é da beleza da juventude e da destruição causada pela idade; jamais da indústria da beleza e da sociedade que criam um padrão de beleza impossível de ser alcançado sem cirurgias plásticas, inúmeros produtos caríssimos e photoshop.
A diretora Cris D’amato, aliás, ainda estabelece Adriana como uma protagonista excêntrica, imprevisível, dona de um “humorzinho especial” – nas palavras de André – que a torna charmosa, divertida e única. D’amato, a palavra que você está procurando é “psicótica” – e ela, provavelmente, se aplica a ambas as partes do casal, já que André perdoa até mesmo um fiasco que quase arruína seu desfile. Os protestos por parte dele, aliás, surgem em momentos em que o roteiro precisa de algum drama ou conflito; na maior parte do tempo, o estilista se diverte com o ciúme doentio da namorada (que, portanto, parece não estar sozinha em sua psicopatia).
Diolinda e Luiza, ao menos, são personagens moderadamente divertidas, mesmo que Diolinda seja prejudicada por representar uma visão estereotipada do latino-americano que migra para os Estados Unidos. Por outro lado, enquanto o longa claramente ache graça no jeito namorador de Luiza, ela, ao menos, não é criticada por isso. A irmã da protagonista também se destaca por ter em sua intérprete, Fabíula Nascimento, a atriz mais à vontade do elenco: ela é a única que vende com naturalidade a personalidade de seu papel, mostrando-se confiante, determinada e divertida – apesar de ser bastante próxima de Adriana, Luiza não parece dar muita importância a seus dramas (estúpidos e cansativos).
Mais uma vez, Giovanna Antonelli investe em caras e bocas e em gestos largos para tentar fazer graça, se entregando constantemente a gritos histéricos ou a sussurros dramáticos embaraçosos.
Outro exemplo de comédia da Globo que investe em uma direção mais adequada a um especial de TV, S.O.S. Mulheres ao Mar 2 é exatamente o produto esperado de qualquer um que tenha visto o filme original – e, portanto, quem gostou do primeiro certamente se divertirá com o segundo. Pena que esse entretenimento seja às custas de temáticas tão ultrapassadas.
“S.O.S. Mulheres ao Mar 2” (Brasil, 2015), escrito por Sylvio Gonçalves e Bruno Garotti, dirigido por Cris D’amato, com Giovanna Antonelli, Reynaldo Gianecchini, Rhaísa Batista, Fabíula Nascimento, Thalita Carauta, Felipe Roque e Gil Coelho.