Salão de Baile: This is Ballroom | Espetácular, colorido, humano e maravilhoso

O nível de imersão de Salão de Baile: This is Ballroom é exuberante. Como se você fosse convidado, não só para participar de um desses eventos, como também ver a história sendo escrita diante de seus olhos, contada por quem estava lá vivendo aquilo e sobrevivendo graças a isso.

Isso porque o documentário dirigido por Vitã e Juru não é apenas uma oportunidade didática de descobrir sobre o que o filme está falando, mas também para apontar a sua câmera para as pessoas que fazem daquilo o único jeito de estarem inseridas em um mundo que as aceita como elas são, não vítimas de uma imposição violenta de uma sociedade que gostaria de torná-las invisíveis. A resposta a isso é deslumbrante.

O filme se divide em três frentes. Uma delas, um “Ball” criado exclusivamente para o doc e comandada pela House of Alafia. A outra conversa com as pessoas que construíram essa cena e vivem através dela. A terceira junta as duas para ser didática, explicar para quem não está acostumado com a criação das “Ballrooms”, tanto sua gênese, quanto seus termos, categorias, diferenças e deliciosos detalhes que criam esse mundo próprio.

Mas sobre qualquer coisa Salão de Baile é sobre acolhimento. Em certo momento uma das entrevistadas explica a festa de um jeito que talvez resuma melhor o evento: “Como a UPA, você entra machucado e sai curado”. O bom humor e esperança das palavras de cada entrevistado é sempre coberto por um véu de dor, como se entendesse o quanto aquilo é uma ilha dentro de um sofrimento maior. Entretanto, não uma válvula de escape e sim uma possibilidade de existir com a dignidade merecida por todos.

A complexidade desses personagens cria uma quantidade de camadas enorme em Salão de Baile, assim como uma humanidade gigantesca. A câmera parece pedir licença para entrar naquele mundo durante a “Ball”, mas, ao mesmo tempo, se permite ser um ouvinte próximo e íntimo dessas pessoas que, enquanto tentam costurar a história do “Ballroom” pelo mundo e no Brasil, encontram espaço para entender quem realmente são dentro daquele mundo.

O resultado disso é um ritmo incrível e um desfile de personagens sensacionais, humanos e divertidos, mesmo diante de suas dores e traumas. O bom humor e a alegria de estar na Ballroom é contagiante, colorido e significativo. Salão de Baile consegue demonstrar a importância do foco do documentário. É impossível não se sentir dentro daquele mundo, principalmente, porque o filme não está apenas preocupado em polir uma imagem, mas sim mostrá-la.

Os momentos que poderiam manchar uma imagem incólume do movimento são usados para acrescentar camadas e discussões. Discutir os preconceitos internos dentro de um movimento que está tão ligado às letras do LGBTQIA+ demonstra ainda mais uma verdade dentro da ideia. Humaniza ainda mais os personagens, as situações e toda a história por trás dessas pessoas.

Uma opção que consegue passar toda emoção e importância de existir esse lugar onde tudo isso pode ser discutido. Afinal, o que seria um acolhimento sem uma transformação e um lugar onde a liberdade de se permitir ser você mesmo garante isso com segurança.

Agora faça tudo isso funcionar, toda essa mistura de pessoas, ideias, ritmos, passos de dança, personagens e conteúdo entrar no ritmo dos duelos de dança (montagem de Peterkino é extraordinária!) e o resultado é Salão de Baile se tornar esse espetáculo colorido, humano e maravilhoso.


“Salão de Baile: This is Ballroom” (Bra, 2024); escrito por Juru, Peterkino e Vitã; dirigido por Juru e Vitã.


Trailer do Filme – Salão de Baile: This is Ballroom

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