Dois anos depois da ótima bilheteria do primeiro Se Eu Fosse Você, o diretor Daniel Filho volta a comandar a história do casal formado por Tony Ramos e Gloria Pires em Se eu Fosse Você 2. Que, mais uma vez, trocam de corpo e tem que enxergar o mundo pelos olhos de seu parceiro. Dessa vez, diante de uma iminente separação e de uma gravidez indesejada da filha adolescente.
Logo de cara, o que fica mais que evidente, e incômodo, é uma correria desesperada para apresentar essa trama. A partir de seu começo, em muito menos tempo do que eu demorei para escrever o paragráfo anterior, todo cinema já sabe da maioria dos rumos que a trama pode tomar, e desconfia de todos outros que restam, não deixado absolutamente espaço nenhum para qualquer tipo de surpresa.
Aquela linearidade comum entre as comédias, que facilita e suaviza seu entendimento, é extrapolando ao máximo e não deixa nada sobreviver fora das sequências onde os protagonistas tem que lidar com os problemas do outro enquanto residem em corpos trocados. Como algo apressado, correndo contra o relógio. Uma aparente pressa que acaba se extendendo para quase todos outros aspectos do filme, talvez até um desespero para colocar todas situações no menor tempo possível afim de não deixar o espectador se cansar, e ao seu fim, só se lembrar de que ficou rindo durante todo filme. Um uso claro de umas das piores ferramentas do cinema: fazer tudo passar tão rápido na frente de seus olhos que você não consiga ter tempo suficiente de ver nada direito, com isso, não deixando ninguém perceber o número imenso de defeitos da produção.
Além de já a princípio tornar o filme totalmente episódico, quase sem ligação entre as cenas, acaba por fazer dele algo facilmente esquecível, que será lembrado por uma ou outra sequencia, mas que, para a grande maioria, será aquele filme onde “dei risada o tempo inteiro”. Principalmente, por que todas piadas são jogadas nas costas dos protagonistas, que a cada sequencia, precisam dar de cara com alguma situação característica de seu novo corpo. Helena (Gloria Pires) em seu novo corpo, precisa jogar futebol enquanto Cláudio (Tony Ramos) precisa organizar o casamento da filha e assim por diante, nada de muito surpreendente, e muito menos perto de ofender qualquer uma das partes em um cuidado exagerado em ser politicamente correto, acabando por tornar tudo um pouco limpo e bonitinho demais, deixando o resultado geral insosso e meio infantilizado até.
Pelo menos a dupla de protagonistas consegue segurar toda ação do filme, principalmente Gloria Pires, que além de dar um show quando entra em cena, consegue enxergar todas nuances que o personagem precisa, usando isso a seu favor e brindando o público com uma atuação baseada em sutilezas, é fácil enxergar um homem incomodado naquele corpo, coisa que acaba não acontecendo com seu parceiro em cena, Tony Ramos, que, mesmo ainda em um ótimo trabalho, acaba escorregando um pouco demais no exagero, caricaturizando em excesso e pendendo demais para um tipo muito mais afeminado e não para uma mulher dentro de um corpo de homem.
Se Eu Fosse Você 2 extrapola a fórmula de seu antecessor e faz o espectador rir, por mais tempo, e em maior quantidade, é muito mais ágil e no fim das contas, acaba funcionando bem melhor, mas, por outro lado, continua carregando consigo os mesmo problemas, principalmente os técnicos, que por pouco não afundam o filme de vez.
Na direção, Daniel Filho continua cometendo erros grotescos, tanto técnicos quanto narrativos, e mesmo parecendo se esforçar para deixar de lado todo estilo televisivo, com seus planos fechados e duros, fazendo até um ou outro movimento de câmera mais rebuscado, ainda assim acaba, infelizmente, resultando e algo sem propósito nenhum, parecendo esquecer do que tem em mãos, e, talvez em uma tentativa de evitar esquemas como o de plano e contra-plano nos diálogos, acaba deixando, por mais de uma vez, personagens fora de quadro, como um off fantasmagórico, e pior ainda, em diversas vezes acaba esquecendo Gloria Pires de costas para a câmera durante suas linhas de diálogo, mostrando uma péssima composição de cena.
Além disso, o diretor, ou o montador é preciso fazer justiça (ou ambos, sendo mais justo ainda) acabam interrompendo demais toda ação (pressa), picotando demais as sequencias na tentativa de criar velocidade, e, em oposição a isso, perdendo tempo com cenas longas que não dizem nada.
Ainda nesse quesito tempo, fica claro todo desperdício quando você começa a perceber as doses cavalares de merketing que pipocam na tela e que acabam permitindo ao espectador sair do cinema sabendo a marca do carro da família, que TV por assinatura o amigo de Cláudio tem em sua casa (assim como todas suas vantagens em uma momento vexatório), que cartão de crédito eles usam, e mais um monte de detalhes, roubando tempo de personagens como o de Francisco Anysio (o Chico mesmo, creditado dessa maneira, não consegui descobrir porque), que parece ser totalmente desperdiçado dentro da trama, com pouquíssimas linhas e igual tempo na tela.
É preciso antes de finalizar, não esquecer de mencionar a péssima qualidade das cenas externas, com um som vergonhoso, que deve ter sido dublado, provavelmente graças a maiores problemas na captação direta, se encontrando totalmente fora de sincronia com os atores, acompanhados de uma fotografia inexsistente, com jeito de televisão (olha a pressa, de novo) e que se repete por todo resto do filme. Por sorte Se Eu Fosse Vocês 2 parece se esconder desse tipo de cena, e acaba parecendo preferir o sossego de algum “PROJAC”. Erros bizarros demais para um filme que vai lotar as salas de cinema, e acabar nivelando por baixo toda produção nacional.
Mesmo “chovendo no molhado” é isso mesmo, Se Eu Fosse Você 2 mostra mais uma vez que o cinema nacional “produzido” pelo braço de um certo canal de TV, parece esquecer que está fazendo algo para aquela tela gigante iluminada pelo projetor e não para seu horário nobre, resultando quase sempre em um produto apressado, com cara de inacabado, falho em sua narrativa, que, mesmo conseguindo atingir seu objetivo de divertir seu espectador, com certeza, nem chega próximo de onde poderia ir com um pouco mais de cuidado.
Idem (Bra, 2008) escrito por Adriana Falcão, Euclydes Marinho e Renê Belmonte, dirigido por Daniel Filho, com Tony Ramos, Gloria Piras, Isabelle Drumond, Cassio Gabos Mendes e Chico Anysio