Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras | Mantém o interesse do primeiro filme


[dropcap]É[/dropcap] bem verdade que os puristas continuarão reclamando da modernidade de Guy Ritchie em sua revisão, um tanto quanto livre, do maior detetive da literatura mundial, mas uma coisa é indiscutível: Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras não só mantém o interesse do primeiro filme como dá um passo à frente em busca de tudo aquilo que não pode ser usado no anterior.

Isso se dá não só pela presença do maquiavélico arquiinimigo do personagem, o Professor Moriarty, mas também pela possibilidade de se manter menos refém de um arco predeterminado, optando assim por uma trama muito mais madura e que deixa Holmes muito mais à vontade com sua própria personalidade, ficando um pouco de lado aquele pugilista bêbado e indo mais ainda em direção àquela perspicácia característica do personagem, mesmo que seu lado físico continue em alta, já que em nenhum momento o diretor inglês parece preocupado e fazer algo senão uma aventura divertida.

Mas falando em amadurecimento, quem mais parece sentir essa diferença é, justamente, Guy Ritchie que, diante de uma maior liberdade, já que demonstrou que sua ideia inicial já tinha dado certo, consegue imprimir muito mais seu estilo, aquele mesmo que o fez tão famoso no ótimo Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes. Um estilo que foi arranhado no filme anterior, mas que agora tem a chance de ser levado mais ainda ao limite, já que todo modo dedutivo de Holmes parece mais aflorado.

E não só isso, mesmo dentro daquilo tudo que já poderia ser “adivinhado” pelo personagem, Ritchie se esforça para inovar, quebrar a expectativa de seu espectador ao invés de simplesmente seguir o que está sendo “pensado” pelo personagem. Durante todo filme, em cada momento que o personagem parece congelar o próprio tempo para adiantar, em seu raciocínio, as reações de seus oponentes o resultado é diferente, desde um momento onde tudo funciona perfeitamente até um derradeiro onde ele percebe que, na ausência da possibilidade de vencer tal batalha o fator surpresa seria o único a funcionar.

Tudo isso, porém, tem um problema que deve diminuir o interesse de quem vai ao cinema à procura de uma continuação qualquer e pasteurizada, Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras não tenta agradar logo de cara quem vai em busca de ação pura e simples. Como o próprio subtítulo já diz, essa continuação então é um jogo, onde Holmes de um lado e Moriarty de outro primeiro colocam suas peças no tabuleiro, dão seus lances iniciais e só se permitem toda essa emoção nos momentos finais, antes do xeque-mate. Essa opção faz então com que o filme demore um pouco para engatar uma segunda marcha e ainda, por não poucas vezes, pareça muito mais preocupado em estruturar o final do que mover a trama por uma ou outra sequência de ação, ainda que elas existam e não deixem de valer à pena (como a impressionante perseguição em slow motion pela floresta).

Isso por que, na verdade, ainda que esse jogo nunca seja jogado de modo misterioso, e logo de cara Ritchie já coloque Moriarty como um vilão à altura do herói, tanto pelo seu poder quanto pela sua perspicácia (além de dar a Holmes uma certa motivação pessoal), logo quando o mesmo sai das sombras dentro do restaurante, não é Moriarty quem mais impulsiona Holmes, mais sim sua presença, como um fantasma que não permite que o protagonista viva sabendo que tal mente criminosa exista, o que dá, mais ainda, uma profundidade impressionante ao Sherlock Holmes vivido por Robert Downey Jr.

Por outro lado, Jared Harris na pele do vilão, pouco faz de tão diferente e se contém na frieza que o personagem pede, já que tem a total consciência que o filme é da dupla Downey Jr. e Jude Law, mais uma vez esbanjando uma química que funciona perfeitamente em todos os momentos do filme e torna sua dinâmica mais interessante e deliciosa ainda, já quem ambos sabem os limites de suas personalidades e, em nenhum momento, deixam que isso fuja de seus controles, ainda mais com a facilidade de Ritchie para lidar com vários personagens interagindo ao mesmo tempo, como está acostumado em seus filmes.

E depois de Downey Jr e sua oportunidade de ter um “Jack Sparrow” vitoriano só para si, podendo ir onde toda sua personalidade caricata lhe permitir, o grande destaque de Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras é mesmo Guy Ritchie que ainda, graças ao roteiro bem construído da dupla Michele e Kieran Mulroney, tem a possibilidade de dar toda liberdade para seus personagens, que acabam tendo que viajar por toda Europa para impedir que o Professor Moriarty coloque em ação um plano que pode mudar a cara do mundo, não em termos de um vilão qualquer, mas sim de modo moderno e socioeconômico, o que, para os tempos de hoje acaba sendo meio batido, mas ainda assim funcionando perfeitamente.

Infelizmente, o que não funciona perfeitamente é a sutileza com que, tanto o roteiro quanto Ritchie, poderiam ter para costurar o filme, já que por vezes procuram por pistas e dicas que serão resgatas mais para frente de modo estabanado e mastigado, como se precisasse de planos detalhes demais naquele objeto para que o espectador menos atencioso não os apontasse no decorrer da trama de tirarem soluções “da manga”, porém, sem perceberem que, esse mesmo espectador vai então prever completamente certas reviravoltas do roteiro graças a essas mesmas pistas.

Mesmo assim, lento em certas partes e até um pouco óbvio em outras, Sherlock Holmes: O Jogo das Sombras sobrevive perfeitamente a esses deslizes diante de seu ritmo acelerado, seu punhado de sequências de ação impressionantes e uma resolução final cheia de estilo e simpatia, que mantém suas raízes da mitologia clássica para agradar os puristas e fãs do personagem ao mesmo tempo em que mostra que uma história bem contada não precisa ser clássica para render essa deliciosa homenagem a um dos personagens mais conhecidos da cultura moderna.


Sherlock Holmes: A Game of Shadows (EUA, 2011) escrito por Michele e Kieran Mulroney, dirigido por Guy Ritchie, com Robert Downey Jr., Jude Law, Noomi Rapace, Rachehl McAdams, Jared Harris e Stephen Fry.

Trailer do Filme: Sherlock Holmes – Jogo das Sombras

Sherlock Holmes: A Game of Shadows (Trailer 2)

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5 Comentários. Deixe novo

  • kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

  • lixooooo

  • achei esse filme muito rui

  • Amei legal recomendo para todos e também amei a parte que Sherlock embura a noiva do amigo do trem

  • Mais uma vez Robert Downey Jr. interpreta ( com seu jeito todo especial ) o lendário detetive Sherlock Holmes. Com a ajuda de ninguém menos que, o espertíssimo e melhor amigo, Dr. Watson (Jude Law), eles irão enfrentar um vilão do mesmo nível de intelectualidade do que o deles, Professor James Moryart que pretende ser o mentor da GUERRA MUNDIAL. Com sequências de luta formidáveis no estilo SILVER PICTURES
    (produtor), a segunda parte do mais inteligente detetive da Inglaterra está imperdível sem nenhuma dúvida. Downey Jr. dá um “banho” de interpretação em seu estilo e ganha definitivamente seu lugar como o Sherlock Holmes do atual cinema. Vale a pena conferir Sherlock Holmes – “O Jogo De Sombras”

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