É lógico que anos atrás quando Robert Rodrigues resolveu filmar a série de quadrinhos de Frank Miller o que mais saltava aos olhos era a oportunidade de levar para as telas exatamente a estética dos quadrinhos. Isso fez de Sin City um clássico instantâneo, mas também faz de Sin City – A Dama Fatal quase a antítese disso.
Tirando do lado o hype e a novidade, o que era cult e celebrado, sou agora comum. O próprio Miller copiou o visual em seu desastroso Spirit, e Zack Snyder repetiu nas telas as pinceladas do mesmo Miller em 300 (além de usar os quadrinhos de Watchmen como storyboard), resumindo: acabou a novidade.
Acabou ainda a criatividade de Miller (que mais uma vez “co-dirige” a produção), já que tendo usado a três principais histórias de sua cidade (Basin City) no primeiro, lhe resta agora apenas a própria Dama Fatal para adaptar, optando no resto do tempo por “historietas” muito menos interessantes, ainda que mantenham o clima noir, violento e femme fatale da ideia principal. Opção que deve acabar agradando os fãs, mas não empolgando quem vai em busca de algo relativamente novo.
E dessa vez somos apresentados de modo entrelaçado a um misterioso e charmoso homem com sorte nos caça-níqueis e uma ótima mão para um pôquer e ainda a vingança de Sally contra o senador Roark, responsável direto pela morte de seu salvador e grande amor (no primeiro filme). Enfim, dando nome ao filme, Eva Green é a dama fatal, um antigo amor do fotógrafo Dwight, que acaba lhe pedindo um favor irrecusável que coloca-o no centro de uma caçada pelas ruas de Sin City.
Entrelaçado com o primeiro de modo hábil e interessante, Sin City 2, por esse lado, cumpre o que promete: expande o universo e mata a saudades dos personagens. O brutamontes Marvin está lá, mostrando mais uma vez que Mickey Rourke nasceu para o papel, enquanto Green, praticamente nua o filme inteiro, já pode entrar para entrar para o olimpo das grandes “femme fatales” do cinema, mas ainda assim falta uma pitadinha de “algo mais” para que o filme deslanche como mereceria.
Talvez por não se reinventar, talvez por apostar nos mesmo pontos, na mesma narração “detetivesca” e nos mesmo subterfúgios visuais para chegar em um ponto em comum. Talvez até por se tratar de um Robert Rodrigues muito menos inspirado (ou até uma “mão” maior do fraco Miller) que acabam não chegando nem perto do ritmo e do resultado plástico do primeiro, se deixando por muitas vezes soarem demais entre o real e o exagero. Ou talvez por simplesmente não terem uma história tão interessante para contar.
E isso esbarra até nesse “entre o real e o exagero” citado, já que enquanto o primeiro mergulhava nas páginas dos quadrinhos, Sin City 2 parece pairar longe da estética original, mas ao mesmo tempo também não muito perto daquele noir ao qual é homenageado. Falta exagero, falta uma sombra mais escura tapando o seio de Green, como se estivesse pintada em seu corpo. Ou até um Marvin destruindo um exército de silhuetas de modo violento e carniceiro, ao invés de corpos voando como em um filme B.
Mas ainda assim, com suas mulheres coloridas lembrando a perdição de cada personagem e violência exagerada e ousada (ai sim, quase cômica e até provocando alguns risos), Sin City – A Dama Fatal promete pouco e cumpre isso. Não se permite (ou nem tenta) tornar-se um clássico e muito provavelmente nem acabará sendo lembrado por muitos, só aposta na diversão pura e simples de matar a saudade de Basin City e seus moradores.
“Sin City: A Dame do Kill For” (EUA, 2014), escrito por Frank Miller, dirigido por Robert Rodrigues e Frank Miller, com Mickey Rourke, Jessica Alba, Josh Brolin, Joseph Gordon-Levitt, Rosario Dawson, Eva Green, Powers Boother e Bruc Willis.