Esse é o segundo musical brasileiro que estreia recentemente nos cinemas. O primeiro, Amor em Sampa, tropeça na falta de jeito nacional com trilha sonora. A boa notícia é que Sinfonia da Necrópole não só se sai bem melhor nesse quesito, como possui uma coleção de músicas inspiradas sobre o tema: o além-vida.
A história de passa em um cemitério, com um aprendiz de coveiro como protagonista, o Deodato (Eduardo Gomes). Convidado pelo tio já experiente, Deodato é sensível demais para o trabalho, algo representado no filme pelos seus constantes desmaios. O timing cômico dessas cenas é péssimo.
Curiosamente, o timing dos números musicais funciona muito melhor. Cantado pelos próprios atores, em um modelo naturalista (embora dublado em estúdio), o pecado dessas cenas é nunca conseguir trabalhar o mise-en-scene (a disposição dos elementos na tela), nem o enquadramento. Chega a ser frustrante, pois diante das possibilidades que túmulos, jazigos, flores e corredores que um cemitério como o usado para as filmagens possui, o diretor sempre nos entrega monótonos planos gerais à altura dos atores.
Quando a prática Jaqueline (Luciana Paes), uma agente funerária que chega para modernizar o cemitério, movendo alguns jazigos de lugar para construir o equivalente aos apartamentos cada vez menores de hoje em dia, Deodato é escolhido como seu ajudante, e instantaneamente rola uma química mais que forçada entre os dois.
E apesar desses pesares, Sinfonia da Necrópole acerta, acredite ou não, em toda sua crítica velada (trocadilho não-intencional) ao modo de vida moderno, e ao rebuscar sua história com números musicais imaginados por Deodato, torna tudo mais interessante e mais florido (mais uma vez, trocadilho não-intencional). E quando a questão ética (ou talvez religiosa) faz com que os próprios mortos realizem sua canção, o filme chega próximo de se tornar algo mais do que um episódio inspirado em um especial de humor na TV.
Porém, ainda que cozinhado em banho-maria todo o tempo, ele é capaz de despertar a simpatia por sua leveza em tratar o tema da morte. Nem que seja por piadas como “onde Judas bateu as botas” ou “esse assunto não é da nossa ossada”.
É capaz que essas piadas tenham me influenciado a fazer dois trocadilhos em apenas um parágrafo, embora nenhum dos dois seja intencional. E talvez esse seja o problema com Sinfonia. Ele consegue ser muito bom em alguns momentos, e engraçado em outros, mas parece tornar tudo muito não-intencional.
“Sinfonia da Necrópole” (Brazil, 2014), escrito e dirigido por Juliana Rojas, com Eduardo Gomes, Paulo Jordão, Germano Melo, Adriana Mendonça, Luís Mármora