Sobre Amor. Somente para Adultos é um passeio bacaninha por alguns relacionamentos que parecem diferentões (não são) enquanto John Malkovich conduz sua palestra em Moscou sobre como a crescente enxurrada de divórcios ao redor do mundo, que só aumentam a cada ano, e o que fazer para manter o amor. Ah, esse amor idealizado. O amor é de fato hoje em dia essa coisa fluida profetizada por um sociólogo famoso cujo nome não lembro, mas vou pesquisar depois. Zygmunt Bauman. Essa internet decepciona menos os seres humanos do que sua busca por amor.
Apesar de flertar com amor livre, esse filme dirigido e escrito a várias mãos flerta com a pegada libertária de algumas séries de streaming como Easy, Modern Love e Wanderlust, entre outros. Porém, sua abordagem é mais popular, menos agressiva e chega até a ter uma montagem datada. As histórias do filme são cômicas de propósito, para trazer essa leveza. Sempre há um número musical de um artista famoso tocando, o artista faz uma participação video-clipe e a mesma montagem de divisão de tela acontece. A letra da música é genérica, mas fala de amor.
Amor, sexo, casamento, traição, insegurança. O centro do filme é a palestra de Malkovich lançando seu livro sobre o assunto. No começo você não sabe se é um documentário misturado com ficção, mas aos poucos descobre ser uma ficção que une narrativas em torno do mesmo tema. Um Simplesmente Amor menos profundo, mais solto, sem pretensão nenhuma de querer chegar em algum lugar. Este filme está tão perdido quando qualquer relacionamento moderno.
E moderno é o que ele tenta ser, juntando efeitos digitais caseiros com montagens e colagens. Só que ele é tão 2017… nem existia o Tik Tok ainda. Já soa tão datado e bobinho. As coisas mudam tão rápido que filmes como esse, além de esquecíveis têm prazo de validade. Mas tem uma curiosidade, ainda que passageira: John Malkovich sendo dublado em cima por um narrador russo. E, a cereja do bolo: a palestra acaba, Malkovich sai do palco, e acompanhamos sua vida íntima. E o narrador continua dublando suas falas. E de sua esposa. E de sua amante.
O subtítulo Somente Para Adultos é um chamariz enganoso. Não há cenas picantes, sequer eróticas. É apenas uma forma de avisar os desavisados que poderão existir temas mais “sensíveis” como swing e relacionamentos abertos. Situações, enfim, ainda bem novas e polêmicas para o povão, que demorará algumas gerações para se deteriorar no nirvana de Bauman, o profeta que reza sobre uma sociedade que não mais se encontrará no outro, pois o outro vira apenas mais um item de prateleira de supermercado.
“Pro lyubov. Tolko dlya vzroslykh” (Rus/2017); escrito por Aleksey Chupov, Roman Kantor, Anna Melikyan, Natasha Merkulova, Lyubov Mulmenko, Pavel Ruminov, Nigina Sayfullaeva, Evgeniy Shelyakin, Aleksandr Tsypkin; dirigido por Rezo Gigineishvili, Anna Melikyan, Pavel Ruminov, Nigina Sayfullaeva, Evgeniy Shelyakin, Aleksey Chupov, Natasha Merkulova; com Anna Banshchikova, Andrey Bogatyrev, Fedor Bondarchuk, Aleksandra Bortich, Tinatin Dalakishvili, Ingeborga Dapkunaite, Marco Dinelli, Aleksandr Grashin, Lukerya Ilyashenko, Viktoriya Isakova e John Malkovich