Enquanto o primeiro filme era uma espécie de homenagem àquele terror dos anos 60 e 70, cheio de clima, criaturas medonhas, sustos e um jeitão de pesadelo, de lá para cá, Sobrenatural foi, a cada continuação, perdendo mais e mais sua força. Portanto, uma continuação direta e dois “prequels” depois, não é de se esperar que Sobrenatural: A Porta Vermelha seja apenas um arremedo de seu original.
Esse original (assim como segundo) foi dirigido por James Wan (Jogos Mortais e Invocação Mal), depois a série ficou nas mãos do roteirista original Leigh Whannell nos dois últimos e agora vai, justamente, para as mãos da estrela dos dois primeiros filmes, Patrick Wilson, com roteiro de Scott Teems, que recentemente assinou o remake de Chamas da Vingança, mas como ninguém o assistiu, a referência fica vazia. De qualquer jeito, a impressão que fica é de quase um legado, onde os envolvidos com o projeto original perduram na sequência tentando dar mais vida à ele.
Por isso é tão difícil desatrelar tanto assim qualquer sequência do clima original. Realmente tudo parece estar dentro de um mesmo mundo, o que, com certeza, agradará os fãs da série, que não são poucos, já que, mesmo com a caída de qualidade de todos os filmes depois do primeiro, seus números de dólares nas bilheterias sempre batem em torno de seis a dez vezes o investimento do estúdio. Portanto, todos sucessos enormes e que devem garantir ainda que a série tenha mais algumas estreias nos próximos anos.
Obviamente isso não aponta nenhuma qualidade de nenhuma obra, mas, pelo menos, mostra que os filmes continuam entregando tudo aquilo que prometem, em resumo: fantasmas, aquela criatura com a cara vermelha e sustos (muitos sustos). O segredo então é saber como dar esses sustos, nesse assunto, Wilson, mesmo em seu primeiro trabalho, dá conta do recado. No resto não. Mas quem se importa com essas conversas todas em um filme de terror?
O filme se passa nove anos depois do segundo, mas começa logo depois dele, com a sessão de hipnose que apagou da mente do filho Dalton (Ty Simpkins) e do pai os acontecimentos dos dois primeiros filmes. Mas sabe como é, esse tipo de ideia nunca dá muito certo em filmes de terror, por isso, quando Dalton sai de casa e vai estudar do outro lado do país, ele e o pai voltam a “interagir” com “O Além”. Para quem não lembra, aquele lugar onde os fantasmas vagam por uma penumbra azulada e uma névoa que faz o chão desaparecer. Casa também daquele monstro/demônio/coisa ruim/capiroto com a cara vermelha e uma casa toda bagunçada.
Passado um terço do filme, então começam os sustos. Do lado do menino, um monte de “jump scares” altos e vindos de lugar nenhum. Do lado do pai, um pouco mais de cuidado do diretor na preparação dos sustos. Como se os mais jovens não tivessem paciência nem para construir o pulo na poltrona do cinema. O que é uma pena, já que Wilson se mostra eficiente nesses bons momentos. A cena na máquina de ressonância é ótima, assim como a aparição do homem que se aproxima da janela da casa dele. Do outro lado, com o filho, só sustos mesmo. Uma pena, já que o mesmo cuidado para ambos elevaria bastante a qualidade final da experiência, que é justamente o que acontece no primeiro.
Não ocorre esse carinho de ambos os lados, assim como o roteiro parece perdido tocando uma nota só. É verdade que ele empurra o pai buscando um detalhe de seu passado, mas isso não vai para a frente e a trama parece repetir um monte de ideias do primeiro filme. E como diria Karl Marx, “a história se repete a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Portanto, ninguém espera muito de Sobrenatural: A Porta Vermelha e o monte de sustos será mais que suficiente para ultrapassar o roteiro rasteiro, preguiçoso e repetitivo.
Até porque, é difícil acreditar que a franquia coloque seu ponto final aqui. Talvez o novo Dalton, agora não mais se vestindo de preto e mudado, pintando cenários coloridos com sua camisa branca e seu shorts, não continue na série, talvez nem Wilson, mas a marca, os sustos, o Além, mais sustos e uns fantasmas usando maquiagem em vez de CGI, sempre terão espaço para um público que, no final das contas, só quer isso mesmo. Portanto, enquanto tiverem pessoas querendo pular de suas poltronas no escuro do cinema, com certeza haverá mais Sobrenatural nos cinemas.