Religiões do Oriente Médio são sinônimo de respeito absoluto aos costumes e às regras impostas aos fiéis, sobretudo as vestes de cerimônia. E é por isso que Sonne é um exemplo foge à regra e faz você reavaliar esse sinônimo nos tempos atuais.
O que chacoalha os conceitos são sempre eles, os jovens. A nova geração. Yesmin (Melina Benli) nasceu em território estrangeiro, na Áustria, faz faculdade com responsabilidade, mas às vezes se diverte com as amigas. Em uma dessas vezes as três gravam um vídeo cantando, dançando. Detalhe: com hijab, vestimenta usada para orações pela sua mãe. E rebolando. Ela não enxerga nada de errado nisso. Seu pai apóia as meninas, mas sua mãe ainda se lembra dos tempos difíceis se escondendo em sua própria casa quando ainda não haviam fugido para a Europa.
O que impacta no começo, o motivo de ser do filme, é essa gravação que Yesmin e as amigas fazem e acabam publicando na internet. Usando a mais que sugestiva música “Losing My Religion” (Perdendo Minha Religião), boa parte do filme pensamos este ser motivo suficiente para levar o filme até o fim, até as últimas consequências desse movimento, por exemplo.
Ledo engano. Os caminhos tortuosos e naturalistas do roteiro da diretora iraquiana Kurdwin Ayub preferem traçar um panorama em volta dessa família, que inclui seu outro filho caçula, que diferente de sua irmã é um adolescente como tantos outros, consumindo drogas e experimentando bobagens nas horas livres. O apoio do pai a sua filha e as críticas para seu filho viram a recorrência da história, que não consegue mais gerar a mesma tensão de seu início.
Sonne constrói uma atmosfera propícia para a discussão sobre a mudança de ares, costumes e horizonte. E o filme decide não fazer nada disso. O motivo? Sem religião não há motivos. Talvez este seja o melhor eco do que acontece quando uma família perde suas origens ao preço da liberdade.
“Sonne” (Aus, 2022); escrito e dirigido por Kurdwin Ayub; com Melina Benli, Law Wallner e Maya Wopienka.
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