[dropcap]S[/dropcap]e Rian Johnson é o futuro de Star Wars, depois de Star Wars: Os Últimos Jedi é impossível que qualquer fã não fique empolgado com isso. O diretor de Looper e A Ponta de Um Crime deve iniciar uma nova trilogia depois do Episódio IX, mas desde agora deixa claro o quanto entendeu o que deve ser feito para que a franquia continue sendo a maior do cinema.
Johnson então não segue o espalhafatoso J.J. Abrams em O Despertar da Força, mas sim vai na mesma esteira do Rogue One, se aproximando dos personagens. Talvez mais que isso até, se afastando ainda mais dos bastiões da série e mostrando que quem chegou agora tem força de sobra para carregar isso tudo daqui para frente.
Johnson, que também escreve o roteiro, está preocupado com Ray, Finn, Poe Dameron e Kylo Ren, assim como com Luke e Leia, mas parece querer mesmo é fazer de Snoke um vilão que valha a pena, assim como do General Hux um personagem tridimensional e complexo. Um cuidado que aparece até em gente que só surge agora, como Laura Dern e sua Almirante Holdo e Benicio Del Toro como DJ. Mas são nos segundos finais do filme, com um pequeno garotinho, é que Johnson mostra realmente o que quer: esperança.
Sim, Os Últimos Jedi é sobre esperança. A Primeira Ordem mais uma vez alcançou o poder, enquanto a Resistência, comandada por Leia (Carrie Fisher), só tem duas opções: fugir e esperar que Luke Skywalker (Mark Hamill) “volte à ação” para salvar todos. Resta para o quarteto de protagonistas, cada um a seu modo, tentar resolver essa situação.
Ray (Daisy Ridley) tenta convencer Luke, enquanto Finn (John Boyega) parte em uma missão com poucas chances de dar certo, com Rose (Kelly Marie Tran). Já Dameron (Oscar Isaac), que ganha mais destaque e ainda o legado de ser o anti-herói charmoso no lugar de Han Solo, precisa entender seu papel dentro da Resistência, deixando de ser um piloto e se tornando um líder. Por fim, Kylo Ren (Adam Driver), ainda continua tentando provar sua capacidade de ser confiável para Snoke.
Os Últimos Jedi é essa empolgante trama onde essas linhas paralelas se afastam e se cruzam de um jeito orgânico e que talvez crie o mais complexos dos episódios da série. Curiosamente, espelhando O Império Contra-Ataca que é famoso, justamente, por dividir sua trama entre dois arcos bem delimitados.
Como é de se esperar, ambos os filmes ainda rimam em mais um série de sutis e deliciosas situações, o que entrega mais força ainda para Os Últimos Jedi do que tinha o filme anterior, que era muito mais próximo de seu “espelho” (Episódio IV). Johnson parece se divertir com isso muito mais que Abrams, ao mesmo tempo em que o faz de modo muito mais fino. Esse oitavo episódio começa também com a fuga de uma base, mas o faz através da que, com certeza, é a maior batalha espacial da franquia, já que ela dura praticamente os dois primeiros atos inteiros do filme.
Enquanto isso, Luke finge ser Yoda ensinando Ray a ser uma Jedi em um planeta desconhecido, mas não se preocupe, o resultado disso é bem diferente. Assim como a traição de um dos personagens, que não é Lando Carrissian, também está lá, mas de um jeito muito menos sutil. Por fim, uma incrível e inesquecível batalha final em um planeta branco substitui o gelo do começo do Império Contra-Ataca por sal e uma terra vermelha que cria um espetáculo visual que desde já entra para os anais da série.
E esse apuro visual vem do estilo de Johnson, amplo, claro e quase sempre preocupado com composições que colem no cérebro do espectador. Em um momento chave de Os Últimos Jedi coloca dois personagens quase no limite da tela, assim como já tinha feito com seus protagonistas em Looper. E não só isso, repete a plasticidade quase exagerada de A Ponta de Um crime para criar não só o que talvez seja a melhor luta de sabres de luz da franquia, como usa e abusa dos planos detalhes e de uma montagem precisa e ágil para compor sequências cheias de detalhes.
Tanto a tal luta quanto esse uso incrível de uma construção de planos detalhes acontecem no lindíssimo “salão vermelho” do Supremo Líder Snoke (¿vivido¿ por Andy Serkis), que, por sua vez, definitivamente ganha nessa sua segunda presença a força e a potência de um personagem sentado na cadeira que um dia foi de Palpatine. Sua personalidade se mostra realmente poderosa, assim como sua relação com Kylo Ren e com o General Hux (Domhnall Gleesson) elevam ainda mais a importância desse trio de personagens que representam a Primeira Ordem e definitivamente são um ameaça ainda mais perigosa que o Império um dia foi. Diferente de Darth Vader e seus amigos, a Primeira Ordem não hesita em matar alguns milhares de pessoas bem mais próximas do que na impessoal Estrela da Morte.
E falando em uma grande arma mortal, o trabalho do designer de produção, Rick Heirichs de recriar todo esses mundos e personagens é tão bem feito e marcante que não é preciso uma arma enorme para focar seus esforços. Pelo contrário, são os pequenos detalhes e a ambientação que ¿roubam a cena¿. Ao mesmo tempo em que continua o visual dos outros filmes de modo marcante, consegue ainda encontrar espaço para imprimir sua personalidade e, muito provavelmente, deixar sua marca para o resto dos episódios que vierem à seguir.
Sobre “marcas”, quem talvez vá deixar o maior legado talvez seja o roteiro de Johnson, que mesmo que escorregue em alguns diálogos não muito inspirados e alguns momentos de alívio cômico “cômico demais” que saem fora do resto do clima (que sim, tem bom humor na maior parte do tempo, mas não só pelas piadas), cria uma história poderosa e que não é parecida com nada mais que já tenha sido feito. Na verdade, até é, já que consegue juntar tudo de melhor da franquia. O “bem contra o mal” (vulgo a luz e o lado sombrio) nunca esteve tão na corda bamba, assim como seus personagens nunca foram tão movidos por uma filosofia, uma ideologia até, uma vontade de fazerem o que é certo independente do perigo que isso possa significar.
Essa verdade é o que realmente move Os Últimos Jedi. Essa esperança de estar fazendo o que é certo mesmo diante da aparente derrota. É essa coragem que move esses personagens. Aquele momento de silêncio antes da explosão, mas que aponta todo significado daquelas ações. Seja com um gesto gigantesco (e kamikaze… literalmente) ou apenas um pequeno garoto olhando para as estrelas e entendendo que em algum lugar daquela galáxia alguém está se sacrificando por ele, mas também que talvez ele próprio seja a esperança que Rian Johnson procura quando embarca junto de seus espectadores um pedaço dessa que é a maior história que o cinema já viu.
“Star Wars: The Last Jedi” (EUA, 2017), escrito e dirigido por Rian Johnson, com Daisy Ridley, Mark Hamill, Adam Driver, Domhnall Gleesson, Carrie Fisher, Andy Serkis, Laura Dern, Oscar Isaac, John Boyega, Kelly Marie Tran e Benicio Del Toro.