Tim Burton é com certeza um cineasta icônico de sua geração, seu estilo inconfundível, meio gótico, quase barroco com suas pontas espiraladas, seus personagens esquisitos, descabelados e complexos, seus contos de fadas obscuros e aquela estética de sonho. Na maioria dos casos, de pesadelos é verdade, e Sweeney Todd – O Barbeiro Demoniáco da Rua Fleet não escapa nada disso, além de ainda, cair como uma luva nessa coleção de personagens únicos que o diretor vem fazendo, desde o fantasma “Beetlejuice”.
Procurando vingança de um juíz que o condenou, mesmo inocente além de roubar sua família, o barbeiro Benjamin Barkey volta a Londres sobre a alcunha de Sweeney Todd, fazendo as barbas “mais rentes” que seus clientes já viram, assim como se torna a chance de Burton fazer aquilo que parece vir tentando fazer a um tempo: seu musical. Por mais que já tivesse se aventurado com animações em Stop-Motion, A Noiva Cadáver e O Estranho Mundo de Jack, que são musicais, e A Fantástica Fábrica de Chocolates que tem também suas canções, seu novo filme extrapola esses exemplos.
Da primeira a última cena, o filme é inteiro cantado (salvo uma meia dúzia de diálogos), mais com cara de ópera, exagerado, dramático e fadado ao fim desatroso. Mas a grande vantagem de Burton é que ele sabe contar uma história por meio de imagens, com isso imprimindo uma linha narrativa tão visual que, sem qualquer tipo de conversa (ou cantoria) o filme funciona do mesmo jeito. É como uma trilha sonora cantada pelos personagens, e não uma história contada por suas músicas, coisa que ajuda a fisgar quem não gosta muito do gênero.
E na verdade, Burton parece fazer esse filme pensando em quem não gosta de pessoas cantando na tela do cinema, tamanha a quantidade de possibilidades no filme para serem apreciadas.
Na sua sexta parceria com o diretor, Johnny Depp é uma delas, dando ao barbeiro mais uma atuação única, diferente de tudo e de todos, sumido dentro do personagem, mas ao mesmo tempo extremamente natural, sempre levando consigo um aspecto fantasmagórico que vai desde a voz levemente mais engrossada até os movimentos repletos de objetivos, como se tivesse vindo ao mundo somente com uma função, a da vingança.
E grande parte da beleza do filme vem disso mesmo, de você sentir o que o personagem central sente, isso graças a extraordinária direção de arte do italiano Dante Ferreti, em outras épocas parceiro de Fellini e um especialista em criar mundos, como em As Aventuras do Barão de Munchausen e o mais recente Dhalia Negra, entre outros. A cada mudança de ânimo de Sweeney, tudo vai junto, as cores das roupas, os cenários que ganham o amarelo e o vermelho quanto mais perto da tão sonhada vingança, ausentes na maioria da história , a não ser pelo sangue que colore tudo que vê pela frente quebrando de vez a brancura de seus personagens frios, quase enemicos, como que sem o mesmo líquido quente em suas veias. Assim como o azul brilhoso da roupa do barbeiro rival Todd Pirelli, vivido por Sacha Baron Cohen (“Borat”), que é como um contraste dentro do lúgubre mundo do protagonista, e que precisa ser eliminado.
Sweeney Todd se apresenta com um visual tão impecável e rebuscado que é fácil se perder olhando para suas imagens extraordinárias, pulando na tela em cores vivas, mesmo até o mais escuro dos cinzas, sem perceber o filme passando.
Sweeney Todd – The Demon Barber of Fleet Street (EUA/ Ing, 116min) escrito por John Logan, Stephen Sondhein e Hugh Wheeler, dirigido por Tim Burton, com Johnny Depp, Helene Bohan-Carter, Alan Rickman, Sacha Baron Cohen
Trailer de Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet