Uma das melhores animações de 2009, o primeiro Tá Chovendo Hambúrguer foi também uma agradável surpresa. Seu universo colorido, o humor nonsense e os ótimos personagens resultaram em um longa divertido, carismático e criativo. Esta sequência se mostra também um trabalho eficiente, tanto ao manter elementos do primeiro filme, como explorando-os além do que já havíamos visto.
Depois dos acontecimentos do longa original, Boca da Maré encontra-se tomada pela comida criada pela máquina de Flint Lockwood. A tentativa do cientista e de seus amigos de recuperar a ilha parece chamar a atenção do CEO Chester V, um Steve Jobs elevado à décima potência e que é o maior ídolo e inspiração de Flint desde a infância (problemas de sequências não planejadas, com a existência deste personagem nunca sendo mencionada no primeiro filme). Chester então convida Flint para trabalhar em sua empresa, a gigante Live Corp (cuja sede parece saída de um filme distópico), enquanto a equipe do CEO trabalha na recuperação da ilha. Ao descobrir que a comida está ganhando vida, Flint, seu pai, a meteoróloga Sam Sparks, o policial Earl e Brent partem em uma tentativa de recuperar e desligar a máquina que ele inventou.
Dominado ainda mais por cores neon e raios brilhantes, Tá Chovendo Hambúrguer 2 é um espetáculo visual beneficiado pelo domínio da linguagem 3D mostrado pelos diretores Cody Cameron e Kris Pearn. Mesmo não alcançando o nível do primeiro longa, o roteiro escrito a seis mãos por John Francis Daley, Jonathan M. Goldstein e Erica Rivinoja consegue manter o foco e construir uma narrativa interessante. Se, por um lado, é difícil acreditar que ninguém desconfia da vilania de Chester e de suas intenções, pelo menos a trajetória de sua “secretária” Bárbara, uma primata com cérebro de humano e inteligência excepcional mas que ele trata, para desgosto dela, como uma “macaca” faz-tudo”, é tratada com mais sutileza. Ainda sobre isso, é claro que assim que o Sr. Lockwood diz ao filho que permanecerá no barco enquanto eles adentram a perigosa floresta repleta de “comidanimais”, sabemos que ele não fará isso; mas é inesperada – e divertidíssima – sua amizade com uma tribo de picles.
Afinal, os “comidanimais” são, naturalmente, um espetáculo à parte, sendo utilizados na medida certa para não cansarem e com designs fascinantes. Percorrer aquela floresta repleta de belíssimas cores e de animais como tacodilos, serpentortas, melanfantes e sushivelhas é como visitar uma bizarra mistura de Pandora, a lua criada por James Cameron em Avatar, e o Parque dos Dinossauros. Como o morango Berry, que ganha mais destaque, protagoniza ótimos momentos, como quando “traduz” um discurso motivacional de Flint e seus atos heroicos na Live Corp.
Mantendo o humor surrealista do original (ainda que, como já dito, nunca alcançando a mesma criatividade) em sequências como a que mostra Earl fazendo sua barba e bigode crescerem de volta automaticamente depois de temporariamente trocar o uniforme de policial por um emprego em uma loja de cupcakes, Tá Chovendo Hambúrguer 2 também traz belíssimas cenas, tanto visualmente quanto no aspecto narrativo, como a de Flint conhecendo uma família de marshmallows, ou quando o cientista, após um desapontamento na Live Corp, atravessa a cidade escura e adormecida enquanto um experimento falho cria uma trilha de cores atrás dele.
Assim, esta sequência pode ficar abaixo do original, mas faz um trabalho eficiente e divertido o bastante para que sua existência se justifique. E foi um prazer reencontrar Flint, Sam, seu amigos e suas ideias bizarras.
Cloudy With a Chance of Meatballs, escrito por John Francis Daley, Jonathan M. Goldstein e Erica Rivinoja, dirigido por Cody Cameron e Kris Pearn, com as vozes no original de Bill Hader, Anna Faris, James Caan, Andy Samberg, Will Forte, Terry Crews e Neil Patrick Harris.
Trailer do filme Tá Chovendo Hambúrguer 2