Tal Mãe, Tal Filha supostamente é uma comédia, mas há poucos momentos em que me peguei dando risada. Por outro lado, houve vários momentos que observei, atônito, o quão baixo uma comédia consegue ir. E mesmo assim não funcionar.
Ele conta a história de uma mãe, Mado, que é jovem, inconsequente e totalmente dependente de sua filha, Avril. Mado, interpretada por Juliette Binoche, obviamente é deslumbrante e consegue se passar pela geração meia-idade baladeira tranquilamente. Já Avril, interpretada por Camille Cottin, 14 anos mais jovem que Binoche, é produzida pelo filme para parecer mais feia, velha e chata em múltiplas proporções comparada à sua mãe. Ela também é um tanto incompetente no trabalho e casada com um marido imprestável, mas por algum motivo isso não a torna digna de pena, mas de escárnio. É como se esse ser humano nem merecesse viver.
Talvez porque ela faz questão de manter as aparências, como não contar aos seus sogros que seus pais se divorciaram há muito tempo, algo que parece fugir completamente do estereótipo francês e ainda inspirar uma certa antipatia pela desonestidade familiar de Avril. Quando ela anuncia em frente a todos que está grávida a notícia surge ainda mais apagada que ela própria, que parece não conseguir cinco minutos de atenção. O tipo de piada que surge nesse primeiro momento do filme não ajuda em nada. Mado pergunta à sua filha se ela pretende manter a gravidez… Ha ha ha. Sua sogra não parece conviver bem com o mimado cachorro de seu pai, que no natal usa um chapéu de papai noel como ela… Ha ha ha. Em uma série de acontecimentos forçados Mado também fica grávida e acaba mantendo o filho porque a pílula do aborto era grande demais e ela estava sem água no momento… Ha ha… hã?
De inverossímil a grotesco, as piadas “arquitetadas” pela roteirista estreante Agathe Pastorino nunca funcionam. E nem poderiam. Apresentando personagens que de cara já não nos preocupamos, sequer acreditamos, o que segue são esquetes televisivas na melhor das hipóteses, e isso nem Juliette Binoche nem o clássico cachorro fofinho das comédias parece salvar.
O material se torna quase um completo desastre nas mãos da diretora Noémie Saglio, que aqui redigiu os diálogos e pega uma história muito menos interessante, dinâmica e criativa que um de seus trabalhos anteriores, Beijei uma Garota, e que parece não entender o buraco em que se meteu. Misturando momentos pseudo-dramáticos – e filmando-os como tal – em uma orquestra e uma confusa Juliette Binoche andando em círculos com sua moto cor-de-rosa, a história só consegue não se tornar completamente insuportável porque sabemos que se trata de uma comédia, que deve acabar, e deve acabar rápido.
“Telle Mère, Telle Fille” (Fra, 2017), escrito por Agathe Pastorino, Noémie Saglio, dirigido por Noémie Saglio, com Juliette Binoche, Camille Cottin, Lambert Wilson, Catherine Jacob, Jean-Luc Bideau