Tarzan 3D: A Evolução da Lenda é a mais nova adaptação para a telona do personagem criado por Edgar Rice Burroughs em 1912. Aqui, temos um prólogo que mostra um meteoro gigante vindo em direção à Terra há milhões de anos e dizimando os dinossauros. Fastforward para 20 anos atrás e acompanhamos os exploradores John Greystoke e Jim Porter desbravando as matas do futuro parque Greystoke. John acreditava na existência de uma pedra especial na região e se embrenhava nas áreas mais perigosas da mata em busca do tal minério.
E a história continua com um dia, quando sua família vem visitá-lo e uma terrível tempestade se aproxima obrigando-os a partir urgentemente. Mas é durante a fuga de helicóptero que John finalmente encontra o gigante meteoro em meio a densa mata local, fazendo-o então resolver pousar rapidamente para verificar o local e, ao tentar decolar novamente, acabar sofrendo um acidente que tira a vida dele e da mulher, deixando apenas o pequeno Tarzan vivo. Em paralelo a isso, uma gorila fêmea perde seu único filho e quando ela encontra o pequeno sobrevivente, resolve logo adotá-lo. Saltando para os tempos atuais, vemos um Tarzan adolescente vivendo nas matas do parque. Ele avista a jovem Jane – filha de Jim Porter, que continua cuidando do parque – e imediatamente se apaixona pela garota. Enquanto isso, o novo CEO das organizações Greystoke fica sabendo da existência do minério extraterrestre e, então, aposta tudo para encontrá-lo, mesmo que isso signifique acabar com a floresta.
Como é possível ver, Tarzan tem alguns graves problemas em sua trama, a começar pela inclusão de dinossauros e minérios extraterrestres. Fugindo completamente do tema central, a inserção de tais aspectos só vem para enfraquecer o – já bastante ruim – projeto. Para pior, a construção do terceiro ato como uma clara cópia de Avatar(2009) é simplesmente ridícula. É bem verdade que nada se cria, tudo se copia, mas a história do personagem Tarzan é rica o bastante para carregar um longa-metragem (não é por acaso que há dezenas de adaptações). A inclusão da subtrama do minério gerador de energia é desnecessária e, pior que, ao vermos Tarzan controlando a vida animal assim como no longa de James Cameron, esta versão acaba não sendo nada mais do que uma cópia barata do filme de 2009. Como se não bastasse, o filme nem chega a desenvolver tal comunicação de Tarzan com os animais – a não ser com seus amigos gorilas – tornando a sequência terrivelmente forçada.
Mas não é apenas a trama que é mal desenvolvida, os próprios personagens centrais nunca se tornam figuras tridimensionais, com Jane se limitando a ser o interesse romântico de Tarzan e Tarzan não passando de ser o “menino que cresceu com macacos”.
Talvez o problema central do longa – e que colabora em muito para o desenvolvido ruim de todos os personagens – é a falta de uma identidade clara no projeto. Com um estilo de animação que fica exatamente no meio de desenho animado e filme live action, o longa traz consigo todos os problemas de ambos os formatos. O filme da Disney de 1999, ao se vender como uma animação infantil, permitia-se um clima mais leve e mais descompromissado que incluía os gorilas amigos de Tarzan poderem falar. Além disso, os pais de Tarzan tinham um papel bem mais limitado, focando a trama no personagem título e tornando menos chocante a morte dos pais do garoto. Aqui, vemos com clareza a tragédia da morte dos pais de Tarzan, enquanto os gorilas, ao não falarem e serem mais realistas, tornam toda a situação incrivelmente traumatizante e aterradora. Assim, é impossível para o espectador compreender como que aquele menino conseguiu sobreviver e, menos ainda, como ele se tornou um adolescente feliz. (Ou pior, como que ele esqueceu como se fala!) Desta forma, a decisão artística de ter uma animação mais realista só serve para tirar a leveza da história.
Já no que diz respeito à qualidade da animação em si, é triste dizer que não há nada que tenha saído nos cinemas nos últimos 15 anos que seja tão ruim quanto Tarzan 3D. A movimentação – assim como as expressões faciais – dos personagens é de uma falta de fluidez e realismo que incomoda durante toda a projeção. Estáticos, os personagens até são bem desenhados, mas o grau de amadorismo dos movimentos é imperdoável para um filme de 2013.
Para completar, o trabalho de dublagem é de péssima qualidade. Não que isso fosse melhor muito o filme, mas não dúvidas que a dublagem dos desenhos que passam na televisão tem um cuidado muitas vezes maior do que o que vemos aqui. Quando Tarzan está “falando errado”, o efeito não é cômico, é patético. Ficamos com dó do filme e de quem quer que esteja envolvido com ele.
Ainda contando com cortes e transições que parecem ter sido feitos para um telefilme, Tarzan 3D é cheio de detalhes que entregam o fato de que o filme simplesmente não era para estar sendo exibido em um cinema. Se você é um pai que está procurando um programa para fazer com seu filho, qualquer outra opção de filme infantil será melhor. Caso queira muito rever a história do homem-macaco, então sugiro que reveja o longa da Disney ou ainda Greystoke – A Lenda de Tarzan, o Rei da Selva (1984), se estiver interessado em uma versão mais adulta. O que é certo, é que Tarzan 3D logo será esquecido e, posso garantir, não fará falta.
Tarzan (2013), escrito por Reinhard Kloos, Jessica Postigo e Yoni Brenner, dirigido por Reinhard Kloos, com Kellan Lutz, Robert Capron, Jaime Ray Newman, Spencer Locke, Mark Deklin, Trevor St. John e Les Bubb.