The Alto Knight – Máfia e Poder | Dois De Niros é bom… mas só isso

Talvez Robert De Niro interpretar os dois protagonistas de The Alto Knights – Máfia e Poder prejudique o filme, já que cria uma expectativa muito maior do que o filme consegue cumprir. Por outro lado, o novo filme do ganhador do Oscar Barry Levinson parece não ligar muito para isso, na verdade, não parece se importar com nada, quer apenas contar sua história, ainda que ninguém se importe muito com ela.

É lógico que para os americanos é quase um retrato dessas décadas dos Estados Unidos e (como Costello aponta no filme) como um grupo de imigrantes chegaram no país sem falar a língua, mas em pouco mais de uma década construíram o sindicato mais forte que os americanos já viram em sua história: a máfia.

O roteiro é do mesmo cara que escreveu o livro que deu origem a Os Bons Companheiros e Cassino (esse último também escreveu o roteiro). Em 2012 ainda criou a série Vegas, que ninguém lembra, mas que reforça o quanto Nicholas Pileggi manja do assunto. Nesse caso, agora, para contar a história de Frank Costello e Vito Genovese, mais precisamente o começo do fim dessa relação.

Tem um pouco do começo também, e do meio, mas parece que Levinson não estava interessado em fazer um épico à la Martins Scorsese com montagem ágeis em flashbacks violentos e poderosos, apelando aqui apenas para umas imagens de arquivo e fotos em preto e branco enquanto Costello narra parte da história após seu atentado.

Narra tudo, pois aparece em sua versão envelhecida olhando para a câmera e trocando slides, ainda que também passe pelos momentos onde o seu personagem não está presente, mas também está lá. Convenções a parte, The Alto Knights tem como foco essa espécie de acontecimento histórico que “expôs para os Estados Unidos” a existência de uma rede de criminalidade organizada comandada, justamente, por Costello.

Mas antes disso acontecer no filme, o espectador fica apenas lá, olhando para os dois personagens em meia dúzia de situações e três embates diretos. Vito é visceral, violento e “das antigas”, está interessado ainda em uma máfia que impõe seu respeito através de sua presença, das ruas para as ruas, com ainda a visão de lucrar com o comércio de drogas para compensar os prejuízos com o fim da Lei Seca. Frank se torna o “chefe dos chefes” e se sente confortável diante das palmas, celebração e respeito de uma aparente legalização e influência dentro das redes de poder do alto escalão dos Estados Unidos.

O velho contra o novo. A violência contra a parcimônia. O mafioso antigo contra o moderno. The Alto Kings tem tudo isso para discutir, mas não chega muito nesses lugares a não ser em um ou outro momento mais inspirado, mas são tão poucos que é fácil perder a paciência com essa história burocrática e uma direção quase preguiçosa de Levinson, que nem parece ser o mesmo diretor intenso de coisas como Rain Man, Bom dia, Vietnã, Bugsy e Mera Coincidência. Por mais que a verdade é que Levinson, depois disso, tenha seguido por um caminho muito menos interessante e potente, mas que ainda assim assinou coisas minimamente interessantes como Você Não Conhece Jack e O Último Ato, coisas muito mais humanas e delicadas, focadas em seus personagens. Bem diferente de Alto Knights.

Tudo isso seria um problema se não tivéssemos Robert De Niro no papel de ambos os personagens. Por quê? Difícil apontar com precisão a razão. Talvez seja uma ideia experimental. Talvez pelo desafio. Talvez pelos custos, afinal colocar um ator do gabarito de De Niro para contracenar com ele e chamar a mesma atenção, provavelmente seria inviável para qualquer filme que não custe uma fortuna até para os padrões de Hollywood. Mesmo sem uma resposta, para o filme o que importa é que De Niro está obviamente se divertindo com a possibilidade. Consequentemente o espectador também o fará.

De Niro tem a oportunidade de criar realmente dois personagens muito diferentes e, na maioria do tempo, dominar as cenas com esse trabalho. Mesmo com a maquiagem tentando diferenciar os dois, é o trabalho do ator que mais faz a diferença. Um esforço que passa por composição corporal, gestual e até uma voz que é tão diferente que é impossível confundi-los. Vito parece uma versão ainda mais nervosa, paranoica e irritada de um Joe Pesci em filmes de máfia, se tornando a contrapartida perfeita para o Frank classudo e calmo que controla sua vida e a vida de todos ao seu redor, mesmo diante do imprevisível, como um atentado a sua vida ou diante de uma comissão do senado americano que entrou para a história do país.

Os “dois De Niros” são a coisa mais interessante do filme, mesmo The Alto Kings – Máfia e Poder tendo tão poucas coisas interessantes para o espectador. É lógico que ao final você conhecerá muito mais sobre a história da máfia americana, mas Bons Companheiros, Cassino e Bugsy também o faziam e não precisaram ser meio chatinhos para isso acontecer.


“The Alto Knights” (EUA, 2025); escrito por Nicholas Pileggi; dirigido por Barry Levinson; com Robert De Niro, Debra Messin, Katherine Narducci, Cosmo Jarvis e Michael Rispoli


Trailer do Filme – The Alto Knights – Máfia e Poder

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