[dropcap]S[/dropcap]e desde o começo não havia dúvidas de que encaixar o Deus do Trovão nessa “mitologia realista” que a Marvel vem impondo no cinema era uma das tarefas mais difíceis, depois de sete filmes Thor: O Mundo Sombrio deixa claro que, talvez, isso nem seja tão complicado assim. Melhor ainda, lembra que, assim como em uma edição de 20 e poucas páginas, talvez o espectador não esteja somente afim de uma sequencia de Os Vingadores.
Diante disso, mesmo enraizado dentro de todo esse “master plan” da “casa do Stan Lee” (com ou sem sapatos) esse segundo Thor pode ser apreciado sozinho, em uma história de fantasia e ação que cabe perfeitamente na mítica do personagem e, melhor ainda, mais uma vez serve para contrabalancear todo peso de ter que explicar cientificamente cada detalhe de todos outros filmes. O Mundo Sombrio então é divertido por estar livre para brincar com seus nove mundos, elfos negros, alinhamentos cósmicos e um artefato que dá a vitória ao vilão. Simples assim.
Do começo didático onde os ancestrais asgardianos do herói travam mais um batalha para impedir que uma raça de vilões (de um dos mundos com nomes complicados de soletrar) roube a luz (os tais dos elfos negros) até a épica luta final entre Thor (Chris Hemsworth) e o líder desse povo, Malekith (Christopher Eccleston), no meio de Londres (dando folga para os Estados Unidos), todo resto é montado de modo extremamente simples. Simples o bastante até para soar pueril, mas, que, no final das contas, é tão seguro de si que fica difícil não se divertir com tudo aquilo.
Isso mesmo, O Mundo Sombrio é feito para fazer todos saírem do cinema com a sensação de dever cumprido. Até por que tudo está lá e todos tem sua relevância dentro da história (que é escrita por mãos demais, mas ainda assim não se deixa ser confusa em nenhum momento). Melhor ainda, para quem no primeiro filme torceu o nariz por passar tempo demais naquele vilarejo genérico no meio do deserto ao invés de em Asgard, dessa vez a dourada cidade com sua “ponte de arco-íris” é a grande estrela do filme. Tanto ela quanto seus moradores.
Durante boa parte do filme a ação procura fugir do Planeta Terra e se divertir com o verdadeiro mundo do personagem, onde subterfúgios como esse tal de Éther (que na verdade é uma das “joias do infinito”, uma daquelas bugigangas cósmicas da Marvel, como o Thesseract, vulgo “cubo cósmico”, e que agora devem mover essas “fase 2” no cinema), ficam muito mais fáceis de serem encarados. Onde a fantasia é muito mais benvinda e todo mundo pode usar roupas muito mais chamativas e divertidas sem parecerem cosplayers no meio de Nova York.
É verdade também que o filme só funciona pontuado por esse punhado de cenas de ação que parecem finalizar o outro punhado de sequencias que alternam o grupo de cientistas da Terra correndo contra o tempo para entenderem o que está acontecendo com os “bips” e ponteiros de seus aparelhos complicados, Jane Foster indo até Asgard indo conhecer os sogros (resultando em uma dinâmica bem divertida) e, por fim… por fim mais nada, por que no resto do tempo “Mundo Sombrio” é sobre batalhas, fugas e o mundo(s) sendo salvo no último segundo.
E isso talvez só funciona graças, tanto a direção “feijão com arroz” de Alan Taylor, que não nega os anos dirigido Game of Thrones, Mad Men, Família Soprano e Deadwood e entrega um trabalho prático e objetivo (sem ficar entortando horizontes…), com pouco estilo, mas que não deixa nada de fora e cabe perfeitamente bem diante de algo que, sem esse cuidado, poderia até soar cômico.
Por fim, e ainda falando em “funcionar bem”, Thor: O Mundo Sombrio acerta em cheio na formação desse tripé que sustenta a história: Loki (Tom Hiddleston), Malekish e o próprio Thor.
De um lado um herói Thor (Chris Hemsworth sendo apenas… Chris Hemsworth) que é a personificação de todo e qualquer estereótipo, que não precisa ter lados cinzentos e pode conviver, justamente, apenas com ações que sejam… heroicas. Do outro seu meio-irmão (com Hiddleston aproveitando cada oportunidade, como fez em Os Vingadores), que ganha mais atenção e profundidade ainda em um roteiro que não permite que ele se torne repetidamente “apena um vilão traiçoeiro”. Melhor ainda, dando espaço para um bom humor que encaixa bem no personagem (o “momento Capitão América” é ótimo) e ainda um arco dramático que não permite que ele se torne dispensável em nenhum momento sequer.
No outro pé, um vilão de verdade (vivido por um Eccleston que nunca decepciona), uma força da natureza, que fala pouco, age muito e só quer (o “bom e velho”) dominar o universo, pouco ligando para Terra, Vingadores e todo resto do melodrama. Apenas tirando de cena quem se enfiar em seu caminho, mesmo que seja Asgard.
Uma trinca que reflete a simplicidade do filme (principalmente diante da “dificuldade” de estar dentro desse universo da Marvel, coisa que é lembrada no “final surpresa” durante os créditos) e, se não faz um filme sensacional ou memorável, mostra que às vezes apostar no mediano é a solução… ou pelo menos vem sendo no caso da Marvel.
“Thor: Dark Word” (EUA, 2013), escrito por Don Payne e Robert Rodat (história) e Christopher Yost, Christopher Markus e Stephen McFeely, dirigido por Alan Taylor, com Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins e Christopher Eccleston
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