Torcendo pelos “Pássaros” do Michael Bay

Além de criar uma série enorme de experts em cinema (fora em todos outros assuntos), as redes sociais ainda servem para assegurar lugar para opiniões cheias de raiva sobre qualquer notícia relacionada à Sétima Arte. Ben Affleck foi crucificado, qualquer um que for anunciado para um papel na nova trilogia de Star Wars estará aquém do esperado e qualquer remake que seja é detonado como se estivessem pichando as piramides do Egito. A bola da vez na semana passada foi Os Pássaros.

A refilmagem foi oficializada e será dirigida por um holandes que ninguém conhece chamado Diederick Van Rooijen. E diferente do que um monte de gente por ai acha, não será produzido por Michael Bay (na verdade até pode vir a ser, e provavelmente será, já que seu nome vende demais), mas sim por sua produtora, a Platinun Dunes. E se você acha que isso é um problema, deviar de ter virado à cara antes, já que a empresa, especializada em remakes de filmes de terror, não teve sequer uma decepção nas bilheterias desde que, em 2003, lançou O Massacre da Serra Elétrica.

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Na sequência ela ganhou rios de dinheiro em Terror em Amityville, mais um Massacre, A Morte Pede Carona, Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo, todos remakes. Nenhum muito empolgante em termos de qualidade, mas inegáveis sucessos de bilheteria. E se agora eles vão trazer de volta às telas Os Pássaros, a culpa é dessas mesmas bilheterias. Então, ou parem de reclamar ou escolham melhor os filmes que irão ver no cinema.

Eu acabo seguindo o caminho mais simples, e que todos deveriam seguir: esperar. Talvez a refilmagem acabe por ser uma porcaria, talvez ela acabe por ser maravilhosa. Muito provavelmente não chegará aos pés do original, mas isso nem é um problema. Novas gerações precisam sim conhecer velhas histórias que não cabem mais nos dias de hoje. Certas histórias necessitam ser recontadas.

O velho Robocop que andava com uma enorme lentidão e girava o tronco antes de mover as pernas necessitava de um novo olhar, e José Padilha o fez. Pouco menos de quarenta anos depois de ter sido contada (o filme original é de 1925, e com Heston é de 1959), a história de Ben Hur também mereceu (e fez por merecer) ser recontada. Do mesmo jeito que a história do gangster que quer o mundo todo só para ele ganhou uma nova geração quando Brian de Palma tirou o personagem de Chicago e colocou na ensolarada Miami. E nesse último caso ainda estamos falando de um “clássico intocável”, já que o primeiro Scarface (1932) foi dirigido por Howard Hawks e muitos puristas devem ter virado o nariz para aquele cubano baixinho e mal-encarado.

E quando o assunto é terror e suspense o buraco é muito mais embaixo. Nem tudo que assustava e dava calafrios quarenta, ou trinta (ou no caso de Os Pássaros, cinquenta) anos atrás tem o mesmo efeito hoje. A pouquíssimo tempo atrás, um dos maiores clássicos do gênero, A Morte do Demônio, ganhou uma releitura e não decepcionou ninguém, transportando perfeitamente a ideia original de Sam Raimi para os dias atuais.

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Mas é lógico que Raimi e Hooper (diretor original de O Massacre da Serra Elétrica) não podem nem pensar em serem comparados com Alfred Hitchcock. E muito menos esse tal de Van Rooijen provavelmente não será nem com esses dois citados e muito menos com o mestre do suspense. Do mesmo jeito que D.J. Caruso não foi, e justamente por isso fez um trabalho para lá de eficiente adaptando Janela Indiscreta.

Caruso dirigiu Paranóia em 2007, com Shia LaBeoulf preso a uma tornozeleira eletrônica (cumprindo pena) enquanto observava seu vizinho e desconfiava que ele estivesse cometendo assassinatos. Do mesmo jeito que em 1985 um jovem achou que o novo morador da mansão ao lado era um vampiro (e que já até ganhou uma refilmagem em 2011). Nenhum deles com a classe e a técnica de Hitchcock, mas bem longe de não conseguirem um resultado divertido.

E sabem por que? Por muito provavelmente ninguém nunca tinha percebido as semelhanças, assim como nenhum foi anunciado como “remake de Janela Indiscreta”. Portanto, esqueçam a palavra “remake” e esperem as coisas boas. Torçam por pássaros mais sanguinários em CGI, quem sabe até uma protagonista vivida por alguém menos limitada que a Tippi Hendren, mas não sofram, xinguem e contem com o pior, já que, na maioria das vezes, meio caminho entre o clássico e o lixo já é mais que suficiente para uma ótima diversão.

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