Ao mesmo tempo em que continua acertando (na maior parte do tempo) no charme e na dinâmica entre seus personagens, Truque de Mestre: O 2° Ato também acredita ser mais inteligente e surpreendente do que o primeiro filme, que não era muito inteligente ou surpreendente. Assim, nos vemos acompanhando um elenco divertido em uma história arrastada e que, quanto mais complexa tenta se tornar, mais estapafúrdia se mostra.
Um ano depois dos acontecimentos do filme de 2013, a sequência traz os Cavaleiros frustrados com a aparente falta de confiança da organização O Olho ¿ o que levou à saída de Henley (Isla Fisher). Até que eles se envolvem com o jovem empreendedor bilionário Walter Mabry (Daniel Radcliffe), que sequestra os Cavaleiros e os força a roubar um revolucionário chip de seu ex-parceiro. Os mágicos topam o plano ¿ mas, na verdade, pretendem entregar o chip para o Olho.
Retratando um FBI surpreendentemente ainda mais estúpido do que no primeiro filme, O 2° Ato é prejudicado pelo grande foco dado a Dylan Rhodes, personagem de Mark Ruffalo, um ator tão talentoso que, aqui, surge completamente irritante. Afinal, o roteiro de Ed Solomon repete vários dos problemas do original: as características dos personagens, especialmente Dylan e Atlas (Jesse Eisenberg), são declaradas através dos diálogos, e não do desenvolvimento daquelas pessoas. Assim, enquanto ouvimos inúmeras vezes o quanto Dylan é genial, engenhoso e brilhante como mágico, nada disso torna o personagem minimamente interessante, e o resultado é que a extensa subtrama envolvendo seu passado contribui fortemente para a forma com que a produção se arrasta ao longo de seus 129 minutos.
Por outro lado, a nova adição ao quarteto é definitivamente o destaque de O 2° Ato: Lula, a nova ¿garota Cavaleiro¿ interpretada pela ótima Lizzy Caplan (e que, nas legendas em português, absurdamente teve seu nome alterado para Lola. Pelo menos, o título brasileiro é mais criativo do que o original, como Hollywood perdeu a oportunidade de chamar este filme de “Now You Don’t”?!?). Divertida, irreverente e esperta, Lula rapidamente se familiariza com a dinâmica dos Cavaleiros e mostra porque merece seu lugar no grupo.
Além disso, ela não perde a oportunidade de enfrentar comentários machistas feitos por seus companheiros: quando o grupo precisa escapar de moto, Dylan automaticamente assume que Lula é a única que precisa de instruções sobre o que fazer, algo que ela critica enquanto mostra que sabe muito bem o que está fazendo. Já o “gêmeo malvado” de Merritt (Woody Harrelson) é cansativo e um um recurso falho de trazer mais reviravoltas ao longa.
Fechando o time de novatos, Daniel Radcliffe claramente se diverte no papel do arrogante Walter, um típico vilão mega rico dado a gestos grandiosos e a extravagâncias. Recebendo algumas eficientes referências ao seu próprio “passado” com a magia (“Eu me envolvi um pouco com a mágica na adolescência”), Radcliffe acerta ao conceber Walter como um jovem metido que claramente depende da aprovação e da ajuda de um determinado personagem mais velho.
Jon M. Chu assume a direção no lugar de Louis Leterries e, apesar de ser hábil ao criar espetáculos visuais a partir das performances de mágica dos Cavaleiros, o cineasta não sabe a hora de encerrar e mover a história. Assim, a cena envolvendo uma carta de baralho passada entre os Cavaleiros é, inicialmente, envolvente e fascinante, mas sua extensão apenas torna o truque cansativo, além de ser um insulto à inteligência dos próprios Cavaleiros. Da mesma forma, a insistência em explicar cada truque não acrescenta nada à trama, apenas servindo para que o filme possa se gabar de sua própria (suposta) esperteza.
Assim, em meio a um roteiro que se julga muito mais complexo e inteligente do que a realidade, de sequências inicialmente eficientes estragadas por sua extensão e de reviravoltas sem sentido, Truque de Mestre: O 2° Ato mostra que esta é uma “franquia” de um truque só ¿ que, por sua vez, já era repleto de problemas.
“Now You See Me 2” (EUA, 2016), escrito por Ed Solomon, dirigido por Jon M. Chu, com Jesse Eisenberg, Lizzy Caplan, Woody Harrelson, Dave Franco, Mark Ruffalo, Daniel Radcliffe, Morgan Freeman, Michael Caine, Jay Chou, Tsai Chin, Sanaa Lathan e David Warshofsky.