Tudo Por um Popstar Filme

Tudo por um Popstar | Não vai além de seu público-alvo


[dropcap]T[/dropcap]udo por um Popstar deve agradar seu público-alvo, seja pela identificação com a cultura de ídolos abordada no filme, seja pela dinâmica eficiente entre as três personagens centrais. Portanto, é uma pena que o longa não aproveite seu teor universal — que adolescente não foi também uma fã? — para fazer algo que não fosse uma mistura bagunçada de mensagens rasas e personagens secundários que variam entre o sem graça e o insuportável.

As jovens Manu (Klara Castanho), Gabi (Maisa Silva) e Ritinha (Mel Maia) são melhores amigas e compartilham a paixão pela boyband Slavabody Disco Disco Boys, especialmente por Slack (João Guilherme Ávila), o integrante brasileiro do trio. Quando elas ficam sabendo que o grupo virá para um único show no Rio de Janeiro, as amigas fazem de tudo para convencer seus respectivos pais a deixá-las viajar de sua cidade do interior para a capital com a prima de Manu, a excêntrica Babette (Giovanna Lancellotti). Mas, ao chegarem no apartamento de um amigo de Babette no Rio, os dois decidem partir para uma festa no litoral, deixando as três meninas sozinhas na cidade e, depois de uma série de confusões, sem saberem como vão fazer para entrar no show e, quem sabe, realizar o sonho de conhecer pessoalmente os Disco Disco Boys.

Para começar, Tudo por um Popstar é cansativo por depender de uma série de acontecimentos não apenas exagerados (o que não é exatamente um problema dentro da proposta do filme, que remete bastante às comédias pastelão), mas por forçarem as garotas a agirem de forma extremamente estúpida. Isso é resultado não apenas do humor bagunçado da roteirista Thalita Rebouças (adaptando seu próprio livro homônimo) e do diretor Bruno Garotti, mas também de uma grave falta de estrutura e de lógica interna.

O trio de amigas, por exemplo, é fã de carteirinha do grupo e, como boas adolescentes que são, não desgrudam do celular e das redes sociais — entretanto, elas não ficam sabendo do show no Rio quando Slack anuncia o evento em seu próprio perfil, mas apenas quando o YouTuber Billy Boyd (Felipe Neto, interpretando um personagem que consegue ser ainda mais absurdamente insuportável do que ele mesmo) divulga a notícia em seu canal. Outro exemplo é o fato de as garotas mal parecerem se importar de perder um pocket show que a banda faz na área externa do hotel enquanto elas percorrem os quartos atrás de Slack para, é claro, tirar uma selfie com ele.

Aliás, outro grave problema do longa é que as meninas simplesmente não parecem ser assim tão fãs da boyband — é como se Rebouças jamais tivesse tido qualquer experiência de fã ou não conseguisse adaptar isso para os jovens da atualidade, enquanto Garotti ainda parece ter dificuldade em identificar-se com suas personagens femininas. O filme ativamente critica a maneira condescendente com que meninas adolescentes e fãs são tratadas, o que é algo que realmente acontece — qualquer coisa voltada para esse público é automaticamente taxada de boba, fútil — mas que Tudo por um Popstar infelizmente não consegue discutir com propriedade justamente por causa de suas lacunas.

É apenas no terceiro ato, e em uma pequena cena, que as amigas demonstram terem motivos particulares para amar o grupo e que sua paixão vai além do fato de que eles são populares. Mas as garotas não são as únicas responsáveis por isso — muito pior é a completa falta de carisma ou de energia dos Slavabody Disco Disco Boys, especialmente de seu líder, Slack. Para reforçar isso, o longa ainda insere um draminha interno entre o grupo no terceiro ato, sem dar qualquer indício disso anteriormente, apenas para tentar aumentar a importância da paixão das meninas pela banda.

Pelo menos, a amizade entre Manu, Gabi e Ritinha funciona muito bem — elas realmente parecem amigas de infância, já que comportam-se de maneira natural e íntima ao redor umas das outras. As três jovens atrizes fazem um bom trabalho e conseguem estabelecer as personalidades distintas de cada garota — Manu, ela própria sonhando em ser cantora, é doce e determinada; Gabi é mais espontânea e, fechando o trio, Ritinha é a “voz da razão” do grupo. Nesse sentido, é uma pena que o filme torne-se tão melodramático quando fala sobre a morte da mãe de Ritinha e do luto enfrentado pela garota, que chega muito perto de tornar-se o único fato sobre a personagem.

Enquanto isso, Babette, prima de Manu, consegue arrancar algumas risadas, mas também irrita por ser apenas um recurso de roteiro que some e ressurge para resolver ou causar obstáculos de acordo com as necessidades de roteiro.

O resultado final, portanto, é uma obra pouco coesa e que, apesar de abordar temas relevantes, faz isso de maneira rasa, bagunçada e inverossímil de uma forma que não é resultante de uma escolha, mas de uma aparente falta de familiaridade com o universo que retrata. Assim, mesmo que Tudo por um Popstar deva agradar às adolescentes da idade do trio central de amigas, o fato é que elas não precisam se contentar com algo tão desesperado para alcançá-las e que, menos ainda, se preocupa em fazer isso de forma sincera.


“Tudo por um Popstar” (BRA, 2018), escrito por Thalita Rebouças a partir de seu livro homônimo, dirigido por Bruno Garotti, com Klara Castanho, Maisa Silva, Mel Maia, Giovanna Lancellotti, Felipe Neto, João Guilherme Ávila, Isacque Lopes e Victor Aguiar.


Trailer – Tudo Por Um Popstar

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