Última Parada 174 Filme

Última Parada 174 | Carente… e covarde

Covardia é uma palavra um pouco forte demais, por isso que logo depois de acusar, mentalmente, Última Parada 174 de covarde, resolvi me retratar (ainda no campo mental): o novo filme de Bruno Barreto na verdade é carente, só quer ser aceito e que as pessoas gostem dele, principalmente os velhinhos da Academia de Artes e Cinema lá nos Estados Unidos. E é exatamente isso que faz Última Parada 174 falhar, mesmo com tantas qualidades.

A começar pela direção corretíssima de Barreto, que parece voltar a forma que não vem conseguindo emplacar desde seu O Que é Isso Companheiro, sucinta e enxuta, convivendo perfeitamente com a trama, com composições forte e plásticas, mas sempre facilmente capturadas pelo espectador. O roteiro, do quase onipresente Bráulio Montovani, é outro desses acertos, e quase pelas mesmas razões que a direção de Barreto, tratando a história com simplicidade, sem deixar barrigas para nada, tornando-a facil, tanto de assimilá-la, como de fazer emocionar. E é nesse momento que tudo começa a tomar o rumo errado.

Não se sabe se uma vontade de fazer um filme popular demais, comercial ou até mais simplório, a verdade é que, com isso Última Parada 174 acaba pegando o caminho mais fácil para capturar o espectador, com uma aparente obrigação de criar motivações fortes demais para personagens que não precisam delas para existir dentro da trama. Batendo demasiadamente em teclas já sobrecarregados, como uma infância sofrida e mais uma série de fatalidades que carregam os personagens dentro da trama, deixando um pouco demais toda situação com cara de “lugar errado na hora errada”.

Um quase desespero em humanizar demais o personagem principal, como se ele por poco não tivesse culpa pelos seus atos, seja pela infância, pela falta de oportunidades, pelas drogas, ou até por um coração partido, quase deixando de ter importância o Sandro que fez um ônibus de refém com onze passageiros dentro, mas que aqui acaba se tornando um personagem sem força, movido pelo destino e não pelos seus atos. Um erro até primário para um cineasta experiente, que acaba perdendo o personagem para a trama, justamente em uma história onde o contrário seria seu ponto forte.

Sem o mínimo de comparação, Scarface é sobre Tony Montana e não sobre o tráfico de drogas em Miami, Última Parada 174 seria melhor se fosse do Sandro e não da sociedade que o fez, criando ai um outro problema para o filme: uma necessidade de culpar a sociedade pelos erros do homem. Por inúmeras vezes no filme fica claro que Barreto e Montovani culpam uma sociedade falida e fechada, e não o homem, coisa que obviamente não se pode discordar, mas deixando fácil demais para o espectador acabar o filme com a impressão de que Sandro não teve culpa e que ele era a própria vítima, como uma das sequestradas no ônibus faz questão de comentar. Uma solução um tanto quanto hipócrita e minimalista para um assunto tão amplo.

No fim das contas, acaba deixando demais a impressão de que, ao buscar um filme mais comercial teve que deixar um lirismo de lado, parecendo se preocupar demais em expor seus pontos de vista do jeito mais concreto possível, sem abertura para mais de uma leitura, tornando-o uma via única. Como se fingisse passar desapercebido por uma crítica mais ferrenha, mas só deixando um lugar para ser encarado.

A primeira, e mais evidente, vítima dessa caminho que o filme toma, é o elenco consistente que acaba não tendo espaço suficiente, já que, a todo momento, precisa estar representando uma situação e não um personagem, evidenciando o ótimo trabalho de preparação de elenco de Ricardo e Rogério Blat. O triste, é que fica claro a forte atuação de Michel Gomes, como Sandro, que parece se perder em um desconforto eterno, como se não conseguisse viver em nenhum mundo, ficando fácil ter certeza de que ele levaria o filme nas costas caso fosse possível, coisa que não o deixam fazer.

Última Parada 174 vai acabar agradando o grande público, já que não se cansa de fazer de tudo para fisgar quem está sentado no escuro do cinema, com qualquer que seja o subterfúgio, e mais, fara fãs, já que deixa o espectador sair daquele escuro tendo a impressão, falsa, de ter discutido uma sociedade falida com suas feridas abertas. Infelizmente, perde a oportunidade de fazer um filme forte em suas decisões, sem se importar muito com a opinião dos outros e mais com essa história, ou tragédia anunciada, que perde força quando precisa ser vendida como um drama visual, e por vezes situacional demais.


idem (Bra, 2008) escrito por Bráulio Montovani, dirigido por Bruno Barreto, com Michel Gomes, Chris Vianna, Marcelo Mello Jr., Tay Lopez


1 Comentário. Deixe novo

  • Filme horroroso. “Vítima da Sociedade” uma pinoia. O moleque foi morar com a tia e não quis ir pra escola, fugiu de casa, encontrou uma falsa mãe que o acolheu e mesmo assim não quis saber de andar na linha.

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