Um Crime em Comum | Um terror sem monstros


O filme argentino Um Crime em Comum pode até não parecer um terror, mas é. Um sem monstros ou assassinos, apenas com fantasmas que surgem através da culpa e do medo. E o resultado disso é assustador e destrói qualquer personagem.

Na cadeira de diretor, Francisco Márquez ainda assina o roteiro com Tomás Downey. A trama é simples, sobre uma mulher que vive com seu filho em uma casa, sozinhos e felizes. Durante o dia ela dá aula de algo ligado a economia com raízes marxistas, junto disso, uma vontade empática de entender a intersecção das classes.

Isso tudo vai para o mais profundo e escuro buraco, quando ela, Cecília (Elisa Carricajo), acorda no meio da noite com uma aparente tentativa de invasão em casa. Quem tenta entrar é o filho da empregada, que acaba aparecendo morto no dia seguinte.

Um Crime em Comum não expõe certezas, mas sim vai acompanhando a destruição dessa personagem através dessa culpa, que que nasce, justamente diante de um medo maior do que suas ideologias.

Márquez e Downe constroem uma normalidade justa e confortável, mas os pedaços que vão sendo quebrados são poderosos e sufocantes. O medo e o suspense nunca são algo físico, mas sim uma ideia, uma impressão e um barulho que podem ou não estarem lá. Um Crime em Comum é uma experiência de insegurança, mas por não saber onde está o perigo, é então sobre o que ele é. Ou se até ele existe ou não.

Elisa Carricajo, por sua vez, nunca posa de vítima de filme de terror, mas sim como alguém interrompida pelos caminhos que toma. Sua culpa nem é realmente uma culpa real, mas ela não consegue se desvencilhar disso, já que acredita nisso. A dupla de roteiristas não poupa ela, não “passam um pano” ou abraçam a personagem, apenas deixam ela perdida entre as ruelas de uma favela. Não por sadismo, mas sim por entenderem perfeitamente bem sua personagem.

A dúvida é sufocante, e o filme nunca se preocupa em responder essas questões, está muito mais preocupado com um estudo dessa personagem que enfrenta seus fantasmas, sejam reais ou não.


“Un Crime Común” (Arg, 2020); escrito por Francisco Márquez e Tomás Downey; dirigido por Francisco Márquez; com Elisa Carricajo, Mecha Martinez, Eliot Otazo, Ciro Coien Pardo e Cecilia Reinero


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