Meu filho de nove anos adora Minecraft. Eu no máximo sei que tudo lá naquele lugar é quadrado. Ele joga o tempo inteiro, sabe os nomes e os lugares, ficou empolgado quando soube que haveria um filme sobre seu jogo preferido e mais excitado ainda quando descobriu que Um Filme Minecraft havia estreado e que iria vê-lo. Eu só fui levá-lo (e paguei os ingressos).
Eu não entendi as referências, mas meu filho sabia todas, ainda apontou durante o filme alguns detalhes que são diferentes do jogo, mas foram poucos, na maioria do tempo ele estava satisfeito demais com o clima que recorria tão bem ao jogo. “Legal, gostei das referências, da trama e das piadas”, me apontou depois do filme enquanto íamos embora para casa.
A trama conta a história de Steve (Jack Black), um cara que quando criança queria só minerar, mas acabou em um emprego ruim qualquer… antes de ter uma epifania de que poderia mesmo é ir minerar. Ele então parte para dentro de uma mina, descobre um orbe (ou bloco!) que abre um portal para um outro mundo onde tudo é quadrado e pode ser criado.
Ao que tudo indica (e meu filho me falou!) Steve é o nome do personagem que você controla no Minecraft, aquele de camisa azul e que começa com uma picaretinha enquanto prospecta embaixo das montanhas e mistura elementos para criar outros elementos para construir aquilo que quiser. Até mesmo um portal para o Nether, esse lugar que parece o oposto do mundo colorido e simpático onde vive Steve, que é onde começa a ação.
Lá no Nether, quem reina é a Malgosha e seu exército de “piggles”, que na verdade são porcos quadrados e que não constroem nada, apenas destroem. Mas Malgosha quer mais, pretende dominar o “mundo do Minecraft” para acabar com a criação. O fã de nove anos do jogo que mora aqui em casa me explicou que nada disso existe no original, que na verdade o Nether não tem vilão específico que reine, “mas que no filme isso funcionou bem, afinal a personagem é divertida e, principalmente, é muito legal ela ter um passado que a motiva a agir daquele jeito”. Tudo bem, talvez ele não tenha dito nessas palavras, mas gostou da vilã. Mas ele enfatizou o quanto se divertiu com os “momentos finais” dela “com as faquinhas”.
Mas para chegar nesse lugar, antes disso Minecraft (o filme) conta a história desses quatro personagens do mundo real que acabam encontrando a orbe e vão parar no “mundo quadrado”, onde recebem a ajuda do Steve para arrumarem um jeito de voltar para casa. E nesse meio tempo ajudam a libertar o mundo do perigo da Malgosha.

A ideia é simples, afinal é para o meu filho de nove anos absorver todas questões rapidamente e entender as motivações. Não existe nenhuma tentativa de satisfazer os gostos e complexidades dos pais que irão acompanhar seus pequenos e qualquer adulto que esteja lá no cinema fazendo sabe-se lá o que. Minecraft é feito para as crianças, não entender isso e cobrar o filme de algo diferente disso, chega a ser injusto com a produção, e isso quem acha sou eu, não meu filho, que só vai pensar nisso daqui a uns anos.
Enquanto esse “despertar crítico” não acontece, ele “gostou muito da dupla de irmãos e da ideia dos grupos se separarem em certo momento” e completou que “assim o filme tem mais espaço para mostrar mais coisas sobre aquele mundo”. Mas ele também achou que a maioria da diversão dessa separação ficou com os meninos, enquanto o grupo formado pela parte feminina do elenco ficou meio sem fazer nada que importasse para a trama (orgulho do meu garoto!). Além disso, meu filho também achou que a personagem Dawn (Danielle Brooks) acabou ficando muito de lado o filme inteiro e que poderia ter mais espaço. Concordo com ele em tudo isso também.
Isso porque, talvez Minecraft tenha realmente vontade de entregar o protagonismo para o garoto Henry (Sebastian Hansen), mas não consegue fazer isso muito bem. “Gosto do menino, porque ele inventa um monte de coisas e isso tem tudo a ver com a ideia do jogo”, disse meu filho, mas apontou algo muito mais importante: “Mas o Steve e o Jason Momoa são as melhores coisas do elenco”. E ele está mais uma vez certo.
Confesso que quanto mais o Jack Black está “solto” no filme e mais Jack Black ele é, menos eu tenho paciência, mas meu filho nem sabia o nome dele (afinal ele não passa muito na TV de casa pela razão do começo desse parágrafo), então se divertiu um monte com toda excentricidade e maluquice corporal do ator. Também riu do quanto o passado do personagem é inesperado e o quanto as canções que ele tira de lugar nenhum durante o filme são ridículas, mas, mesmo assim, divertidas. Isso eu também achei.
Mas o Jason Momoa ele conhecia de nome (afinal ele tem nove anos e cresceu com o Aquaman). “Melhor personagem e melhores piadas que ele faz com ele mesmo” afirmou meu filho fã do mundo quadrilátero e ainda lembrou o quanto se divertiu com “a vida dele no mundo real e principalmente da química dele com o Steve”, e nisso eu concordo, os dois juntos funcionam muito bem em tela, principalmente, pois parecem estar se divertindo demais. Sem contar o visual ridiculamente maravilhoso do personagem vivido por Momoa.
Isso tudo ainda casa muito bem com o visual, principalmente, porque tirando os cinco atores, todo resto é gerado por computador e na maioria do tempo você acredita bem nessa junção. Já no contrário, um arco que coloca um dos “villagers” no mundo real, de acordo com o meu filho, “é legal já que deixa tudo muito esquisito e a moça que está com ele o tempo inteiro é ótima”. A “moça” em questão é a ótima Jennifer Coolidge e, realmente, é engraçada o suficiente para fazer com que esse momento completamente fora da trama ganhe a atenção dos espectadores.
“O visual faz a gente se sentir dentro do filme e isso vale a pena”, concluiu meu filho logo na saída da sessão, bem antes de refletir mais sobre o assunto e achar que “muita gente vai criticar o filme, porque joga Minecraft e vai reclamar das coisas diferentes, mas isso está errado e eles deveriam apenas esquecer o jogo e se divertir… e deixarem de ser chatos”. Essa última parte é minha, mas também acho que ele está certo no resto, afinal, eu mesmo não gostei muito e acho que haveria espaço para aproveitar melhor a marca com algo menos óbvio, mas talvez eu seja um desses chatos e você não devia confiar em mim. Se eu fosse você, confiaria no meu filho de nove anos que adora Minecraft e adorou o filme, até porque, o filme foi feito para agradar ele, não a mim.
“A Minecraft Movie” (EUA, 2025); escrito por Allison Schroeder, Chris Bowman, Hubbel Palmer, Neil Widener, Gavin James e Chris Galletta; dirigido por Jared Hess; com Jason Momoa, Jack Black, Sebastian Hansen, Emma Myers, Danielle Brooks, Jennifer Coolidge, Rachel House (voz), Alla Henry (voz), Jamanine Clemente (voz) e Hiran Garcia.