“A vida lá fora é crue”l. “Não pode vacilar”. “Você tem que ser duro”. “Tem que manter o respeito”. Ouvimos vários testemunhos como se estivéssemos em um documentário no começo de Um Homem sobre a completa impotência do sexo masculino nesta geração.
Estamos em Bogotá, capital da Colômbia e da violência da América do Sul. Acompanhamos um desses testemunhos, Carlos. Ele acabou de fazer um novo corte de cabelo. “Para homem”, ele pediu à cabeleireira. Porém, sua cara e seu corpo não negam: ele é uma menina. Não uma garota, o que remeteria a uma mulher jovem. Uma menina, mesmo: frágil, vulnerável, delicada. E usa roupas esportivas para disfarçar. E caminha com gingada para se enturmar.
O objetivo de Carlos é reunir novamente a família. A mãe está abrigada em algum lugar desconhecido. A irmã está se prostituindo nas ruas. Ele está em um abrigo para homens e faz um dinheiro vendendo drogas de um parceiro das ruas. É véspera de Natal e a saudade bate. Carlos faria de tudo para ter um final de ano normal.
Este é um filme sem fim. Se trata de um fatia de vida. A fatia de Carlos é fingir a todo momento ser um cara durão para sobreviver. Ele segue com a cara fechada e o movimento dos ombros, idioma oficial dos manos. Porém, ele chora em dois momentos de um filme curto sobre um assunto prático: sobreviver nas ruas. Patético.
Menos crítica social e mais uma denúncia velada de como homens hoje em dia não são como antigamente, Um Homem termina rápido e fugaz. A lembrança é de um testemunho sobre o fracasso masculino nos ombros de uma menina.
“Un Varón” (Col/Fra/Hol/Ale, 2022), escrito e dirigido por Fabian Hernández, com Felipe Ramirez.
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