[dropcap]E[/dropcap]sses filmes do diretor sionista que exibe pedaços da vida de várias pessoas cruzando a Terra Santa são mensagens confusas e ambíguas, de um naturalismo capenga e canalha. Esse mais recente, Um Trem em Jerusalém, próximo de seu final nos dá vontade de falar ao seu diretor: vá para casa, Amos Gitai; você está bêbado.
Mas como voltar para casa quando sua própria existência ainda está em debate?
Nessa ficção pseudo-documental (e poética) Gitai passa o tempo todo filmando pessoas comuns (na verdade são atores, sendo o mais famoso o francês Mathieu Amalric) indo e vindo pelo trem de Jerusalém. Recortes do dia-a-dia ilustrados com música e diferentes nacionalidades, origens e passaporte. Uma miscelânea que dá oportunidade de tecer diferentes tipos de comentários e críticas sociais. Uma boa ideia, sem dúvida.
Porém, não há conflito; nem narrativa; nem história. Gitai nos convida, mais uma vez, a conhecer a diversidade da Palestina e dar sua sutil cutucada sionista pelo tempo de tela onde ouvimos passagens da Bíblia e Torá. Os argumentos palestinos, pra variar, são muito fracos, mas essa é uma ficção e Amos o seu diretor incondicional.
Mas a fotografia é bela, os movimentos de câmera divertem e há momentos belíssimos de canções típicas. O ator francês, Mathieu Amalric, em dado momento é o convidado de luxo que não quer saber dessa bagunça que é a Palestina. O turista acidental em seu percurso. Ele está com o filho e está fascinado por poder comparar a própria Jerusalém com os textos de um escritor relatando sua própria viagem. Talvez essa seja a comparação mais justa entre esse filme e uma viagem de fato na cultura e valores das pessoas que lá habitam.
Esse texto faz parte da cobertura da 42° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
“A Tramway in Jerusalem” (Isr/Fra, 2018), escrito por Amos Gitai, Marie-Jose Sanselme, dirigido por Amos Gitai, com Yaël Abecassis, Mathieu Amalric, Lamis Ammar.