Nove filmes depois do primeiro Velozes e Furiosos, o que se vê na tela do cinema é algo difícil de explicar. Daquele remake não oficial de Caçadores de Emoção até agora, a série ganhou um tom inexplicavelmente maluco e uma quantidade exorbitante de personagens, inimigos e tramas não mais profundas que um pires. Mas tem carros, muitos, potentes, voando, atirando e só não falando porque os diálogos dos filmes nunca foram seus fortes.
Velozes e Furiosos 10 é tudo isso e talvez até mais um pouco, já que, mesmo em meio a um esforço enorme para ser um desastre, acertam na escolha de Jason Momoa como o vilão que caminha exoticamente entre Jack Sparrow, Coringa e todos outros vilões da série. Mas uma coisa o diferencia de todos: sua motivação.
Não que seja uma grande motivação, ela só é mais pessoal. Para os fãs da série, Momoa vive o filho do vilão Hernan Reyes (Joaquim de Almeida), aquele lá do filme do Rio de Janeiro. Em inglês, “retcom”, uma ferramenta para inserir um detalhe na trama retroativamente e fingir que ele sempre esteve por lá, só você que não percebeu. Mas Dante (Momoa) espera os outros quatro filmes acontecerem para dar as caras e impor agora sua vingança contra Toretto (Vin Diesel) e sua família.
Não importa muito como o roteiro de Dan Mazeau e Justin Lin faz para juntar tudo isso, o que importa é que tem muitos carros, muitos personagens e pouco, ou nenhum, bom senso. Essa falta de razão combina com o Dante de Momoa, já que ele é realmente uma espécie de força da natureza que pinta a unha de cadáveres e não tem a mínima vergonha na cara de se manter ético diante de nenhum de seus inimigos. Até porque ele está sempre na frente de todo mundo.
A falta de capacidade do roteiro de não se deixar ser conveniente é exagerada. Dante está realmente na frente de qualquer ação de qualquer personagem, mas tudo só dá certo para ele, porque o roteiro quer, não por fazer qualquer sentido. A vontade de ser absurdo dos últimos filmes, de se esforçar para ligar e explicar tudo com desculpas esfarrapadas e divertidas, dá lugar a uma seriedade que impacta demais o resultado final. Principalmente porque Dominic Toretto é um chato.
Sem ninguém ao seu lado, ele é só um cara mal-encarado com uma camisa com as mangas cortadas, um carro indestrutível, uma autoestima gigante e frases ruins. No caso das frases, aqui no décimo filme elas são menores do que as que ele fala em Guardiões da Galáxia, e assim como no MCU, entre um grunhido e outro, também parecem ser sempre iguais. Por mais que Vin Diesel seja o coração da série, é sempre seu contraponto que o faz funcionar. Nesse caso nenhum.
A grande péssima ideia do roteiro de “Velozes 10” é separar a “família Toretto”. Enquanto o protagonista vai para o enfrentamento direto contra Dante, sua esposa (Michelle Rodriguez) acaba em um presídio secreto e seu filho fica nas mãos do irmão Jakob (John Cena). O resto do elenco fica por aí sem realmente fazer nada que realmente faça diferença para a trama. Pulando de um lugar para outro de modo pouco inspirado e picotado demais, o ritmo do filme fica absolutamente prejudicado e as duas horas e vinte de filme parecem durar bem mais.
Tudo isso porque o filme precisa de cenas de ação. É lógico que a maioria delas está com Toretto, mas todo mundo tem espaço para alguns tiroteios, socos e maluquices. Exatamente, o mais interessante desse décimo filme está longe de Vin Diesel. É lógico que a direção de Louis Leterrier ajuda nisso, afinal, se tem uma coisa que o diretor francês entende é de cenas de ação.
Mesmo cara de Carga Explosiva, O Incrível Hulk e Truque de Mestre, por mais que não seja conhecido pela profundidade de suas obras, pelo menos diverte quando se permite deixar de lado as questões de gravidade e física. Portanto, Velozes e Furiosos 10 tem mais uma vez boas e impressionantes cenas de ação gigantescas, uma câmera que voa para todos os lados e não tem vergonha nenhuma de mergulhar em janelas e voar por dentro dos motores na hora do NITRO. A cena é velha, mas sempre funciona.
E todo trabalho de Leterrier parece mesmo ser isso, algo que já foi feito em algum outro filme, mas com mais câmera lenta e feito com capacidade estética de um diretor que sabe o quanto o visual impressionante poderá fazer as pessoas ignorarem a quantidade enorme de erros e bobagens que acontecem entre uma sequência de emoção e outra.
Para os fãs da franquia, fica a diversão de ver todo mundo de volta, todo mundo mesmo, basta esperar a cena no meio dos créditos. O que acaba sendo um pontinho de esperança para o décimo primeiro Velozes e Furiosos que, quem sabe, poderá voltar a não se levar a sério, juntar todo mundo em um mesmo carros (ou Kombi… ou submarino) ao invés de deixar todo filme nas costas do Jason Momoa mais uma vez.