[dropcap]O[/dropcap] plano da Sony é simples, depois de um acordo que permitiu que a Marvel retomasse o controle criativo do Homem-Aranha e usando-o em seu universo (MCU), por que então não usar o resto de seus personagens em filmes solo meia bocas e genéricos que custem pouco e rendam um trocadinho? Venom é o primeiro deles.
Para quem não ligou o nome à pessoa, Venom é um dos vilões mais conhecidos da lista do Homem-Aranha nos gibis, chegando até a dar as caras no vergonhoso Homem-Aranha 3 da primeira trilogia, dirigida por Sam Raimi.
Agora, Venom é Tom Hardy. Na verdade, Hardy é Eddie Brock, um jornalista investigativo que acaba trombando com a Fundação Vida, comandada por um inescrupuloso Carlton Drake (Riz Ahmed) e que faz questão de acabar com a carreira de Brock. Por mais que, de verdade mesmo… quem faça isso é o próprio Brock e Drake nem parece influenciar essa derrocada, mas o que importa para o roteiro é a mágoa.
O problema (sempre tem um problema!) é que Brock decide voltar a investigar a Fundação Vida, mesmo em meio a uma vida miserável cheia de comida com cara de estragada e um apartamento sujo e minúsculo. Brock então acaba dando de cara uma das formas de vida que a Fundação tinha trazido do espaço, um simbionte, que consegue se adaptar perfeitamente a seu corpo e juntos… bom, o que eles fazem juntos não é tão simples assim.
Primeiro de tudo, é bom lembrar que quem viu o filme de terror de 2017, Vida, pode achar que Venom é uma continuação dele, e por um período todo mundo achou que a Sony iria apostar nisso, já que, realmente, isso seria uma das melhores coisas de Venom, já que o resto é incrivelmente cheio de problemas.
O roteiro escrito à seis mãos por Jeff Pinker, Scott Rosenberg e Kelly Marcel é uma grande aposta no genérico. Uma grande história que você já viu em tantos lugares que até dá preguiça. Homem que ganha poderes em um laboratório e depois precisa enfrentar um vilão com poderes similares aos seus e que é o chefe do laboratório (e que sempre se adapta muito melhor a eles). Você já viu isso no Homem-Aranha, no Homem de Ferro, no Homem-Formiga e em mais em um incontável número de filmes sem super-heróis. A diferença de Venom para a maioria desses outros, é que Venom não tem motivação.
Drake não é a razão da queda de Brock, ainda que eles seja um vilão bem mau, assim como o tal simbionte não decide direito o que quer da vida. Na verdade diz, mas é tão estapafúrdio que nem deveria contar como dito. Primeiro ele quer dizimar o mundo e prepara-lo para a chegada de toda sua espécie, tempo depois, aparentemente por “gostar de Brock”, ele decide se tornar um traidor de sua raça. O que poderia fazer muita gente a achar que Venom não é muito mais do que um filme de romance entre Brock e o alienígena com duas ou três cenas de ação.
E essas cenas de ação estão bem longe de serem um acerto de Ruben Fleischer, que dirigiu o divertido Zumbilândia e mostra que deixou suas qualidades como diretor por lá. Igualmente genérico como o roteiro, o visual de Venom não empolga e ainda se esquece de encontrar soluções mais interessantes para os poderes do personagem. Seu monte de apêndices que se projetam como braços negros só são legais se lidos aqui nessa frase, no resto do tempo é só uma opção repetitiva e sem limites demais (o que torna tudo enfadonho).
Do fundo de todo esse desastre, talvez só se salve o esforço de Hardy em criar um personagem que faça sentido, mesmo em meio a toda bagunça. Melhor ainda, lidando bem com os poucos momentos bons de Venom, onde ele precisa conviver com simbionte em sua cabeça, uma voz gutural que tem as boas piadas do filme.
Uma relação que deve acabar salvando Venom para grande parte do público que não deve sair muito irritada do filme, já que um bom protagonista acaba sendo meio caminho andado entre o fracasso e o sucesso. O que talvez fique ainda mais reforçado com a cena do meio dos créditos que mostra uma grande vontade da Sony de continuar com a franquia, talvez por ter percebido a força “dos protagonistas” e que, fora de uma trama rasteira, talvez funcione bem melhor.
Mas talvez o problema maior seja ter que apostar em um futuro com Venom quase como um anti-herói injustiçado em busca de saciar sua fome com bandidos enquanto tem um “bromance” com seu hospedeiro, Eddie Brock e lutam contra um Hoody Harrelson ruivo em um simbionte vermelho e completamente descontrolado… pensando bem, está aí um filme que muita gente (incluindo eu) iria correndo ver.
“Venom” (EUA, 2018), escrito por Jeff Pinkner, Scott Rosenberg e Kelly Marcel, dirigido por Ruben Fleischer, com Tom Hardy, Michelle Williams, Riz Ahmed, Scott Hazé, Reid Scott e Jenny Slate.