Vida Selvagem Filme

Vida Selvagem | Drama sensível surpreende espectador

Vida Selvagem conta a história verídica de um pai (Mathieu Kassovitz) que sequestrou seus filhos (David Gastou e Sofiane Neveu) para viverem no mato. Os fatos são descritos de uma maneira que não deixa muitas brechas para interpretação, assim como suas cenas fazem parte de uma narrativa apressada, intimista e, de certa forma poética.

Mas o que mais encanta no filme é sua história, impressionante e que dá asas à imaginação. Conforme a acompanhamos, e vemos o tempo passar para os envolvidos, repensamos o conceito de civilização moderna, onde um pai pode, sim, ser privado e até preso por cuidar dos filhos, e uma mãe possui, sim, o privilégio de ter a guarda padrão até que a lenta justiça caminhe. Não é questão de tomar a opinião contrária, mas de refletir a respeito de por que as coisas são assim.

Da mesma maneira, ao acompanhar a vida “selvagem” do título, repensamos quais as bases dessa civilização, e por que elas existem. É impossível separar a invenção da propriedade privada e os contratos entre pessoas do respeito ao próprio indivíduo. Essas coisas são citadas no filme, em situações que ilustram quão selvagem pode ser alguém que não está nem aí para as regras estabelecidas de comum acordo (não sujar um lugar comum) ou alguém que não respeita a propriedade dos outros, nem que seja um simples documento.

Ao mesmo tempo, Vida Selvagem dá motivos de sobra para desdenhar das absurdas leis que regem o comportamento humano. Afinal de contas, a sociedade julga um pai não pela forma com que ele cria seus filhos, mas pela diferença em relação à norma.

Sim, há muita filosofia nessa história que também mexe com o coração. Aprendemos a entender o drama dessa família, e para isso temos interpretações fabulosas do elenco-mirim, que logo depois se torna mais fabuloso ainda pela comparação dos jovens que se tornaram (interpretados por Romain Depret e Jules Ritmanic).

Vida Selvagem Crítica

Não há muito dialogo expositivo, e essa é uma experiência quase toda visual. Por isso é essencial o figurino e a direção de arte, que estabelecem não só a essência de cada personagem por duas vestimentas – e como isso muda, principalmente na mãe (Céline Sallette, visceral) – mas também a ilustração de uma vida rústica, mas nem tanto, pois o pai é alguém instruído, e vive essa vida por opção. Viver na natureza é um sonho compartilhado por muita gente que mora na cidade e que não teria coragem de vivê-la, abrindo mão do conforto e consumismo. Pois bem: este é o resultado de um meio caminho, já que obviamente a família ainda se mantém “refém” do capitalismo para algumas coisas, como roupas, cadernos, e até um simples lápis; do contrário, não haveria como conseguir coisas tão baratas ou acessíveis.

Com uma direção disposta a entregar a experiência completa, Vida Selvagem se beneficia do controle enxuto de Cédric Kahn. Nenhuma tomada é feita à toa, e tudo é filmado seguindo basicamente o livro da família Fortin, apenas com diálogos compilados por Nathalie Najem e o próprio Kahn. A câmera na mão e as tomadas estilo filme independente são sacadas de gênio, pois se o filme fala de viver uma vida mais simples, o que reflete uma produção feita de uma maneira mais simples que o normal.

O que de maneira nenhuma desmerece todo o trabalho feito em Vida Selvagem, que surpreendentemente se constitui como uma experiência fugaz das histórias batidas que estamos acostumados a ver.


“Vie sauvage” (Bel/Fra, 2014), escrito por Okwari Fortin, Shahi’Yena Fortin, Xavier Fortin, Cédric Kahn, Nathalie Najem, dirigido por Cédric Kahn, com Mathieu Kassovitz, Céline Sallette, David Gastou, Sofiane Neveu, Romain Depret


Trailer – Vida Selvagem

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