Quando eu disse no texto de Vingadores: Guerra Infinita que ele era o final de uma temporada, talvez eu não achasse que seria possível que acontecesse algo como Vingadores: Ultimato na sequência. Esse sim não só é o verdadeiro final dessa temporada, como ainda a celebração máxima desse esforço, desses 22 filmes que mudaram a história do cinema.
“Mudar a história do cinema” pode parecer exagero, mas não é. Nunca antes um esforço tão complexo de contar uma única história dividida em duas dezenas de filmes independentes aconteceu. Muito provavelmente isso nem nunca mais se repetirá. Portanto, aproveite esses “segundos finais” com toda energia que você tiver.
Obviamente, Ultimato é a continuação direta de Guerra Inifnita, e se você não viu esse “primeiro filme”, muito provavelmente nem está “aqui” lendo essas linhas, portanto, podemos passar adiante. Thanos (Josh Brolin) estalou os dedos, os que sobraram no universo não sabem o que fazer, mas diante de um sopro de possibilidade, os Vingadores têm um plano e o colocam em prática.
Na verdade, Vingadores: Ultimato começa com o, sumido no filme anterior, Gavião Arqueiro (Jeremy Reiner) e sua família em uma tarde bucólica até que eles somem sob seus olhos. O personagem mais uma vez serve de âncora humana, afinal é o mais mundano dos Vingadores originais, e enquanto o espectador tem seu coração partido, um resquício de esperança move os personagens para essa empreitada.
Talvez esses sejam os 10 minutos mais emocionantes do Marvel Cinematic Universe, não por uma grande batalha ou clímax, mas sim pelo poder de envolver todos no cinema nesse clima que mistura depressão, esperança e frustração, com violência e um personagem complexo, honrado e verdadeiro como Thanos. Tudo que vem depois disso pode ser considerado spoiler.
Sim, “tudo”. Sem exceção. Por mais que nada seja tão surpreendente ou vá explodir cabeças, o roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely, que já tinha assinado Guerra Infinita, Guerra Civil, Soldado Invernal e Thor: O Mundo Sombrio, escolhem o caminho da coerência e chegam ao final com segurança e emoção à flor da pele.
Ultimato não tem gordura em sua história, acontece muita coisa (muita mesmo!), mas tudo com calma e eficiência. Melhor ainda, quase como um espelho de Guerra Infinita, esse último filme tem espaço para desenvolver personagens e situações mais do que apenas apelar para a diversão através de grandes cenas de ação. Elas estão lá, mas quase como a cereja do bolo, já que o recheio é a mais pura homenagem.
São 11 anos de filmes e 22 produções que culminam em Ultimato e, mais do que isso, são citados, referenciados e reverenciados. Tudo que foi feito desde Homem de Ferro tem espaço nesse novo filme. E isso não é um exagero. Todos os filmes têm algum ponto a ser lembrado enquanto os 181 minutos de Ultimato dão conta de tamanha responsabilidade. O jeito que isso é feito talvez não surpreenda muita gente, mas o carinho e a novidade com que tudo isso é jogado na tela é de um prazer inenarrável.
É interessante notar o quanto o conflito de Tony Stark (Robert Downey Jr.) e Steve Rogers (Chris Evans) não some em um primeiro momento só para tudo ficar bem, mas sim é algo doloroso e que precisa de tempo para “sarar”. E talvez ai esteja a principal arma de Ultimato: o tempo.
Não existe pressa no novo filme dos irmãos Russo, cada história, personagem e relação tem tempo suficiente de tela para que Vingadores: Ultimato seja uma das produções mais maduras do MCU, já que sabe que não precisa ter pressa, mas sim pode ir acumulando uma tensão que irá culminar em uma batalha gigante e que, muito provavelmente, entrará para os anais da história do cinema. Uma emoção que vem não só do clímax, mas de seu tamanho, quantidade de personagens e ainda de alguns momentos que te farão ter vontade de levantar no cinema e bater palmas.
Tudo isso filmado de modo dinâmico e épico. A câmera dos irmãos Russo parece continuar sabendo exatamente o lugar perfeito que devem estar, assim como agora, mais do que nunca, entendem a força de uma sequência sem cortes em meio a ação desenfreada. A luta sem cortes em Tóquio é de uma beleza ímpar, próxima à ação, visceral e meio prostrada diante da violência.
Essa força estética ainda se estende para o resto do filme. Mesmo onde não tem ação, os Russo são precisos e criam um filme que funciona, seus diálogos são limpos e suas escolhas e composições valorizam um roteiro que não se esconde por trás de clichês batidos. É lógico que com isso vem o bom humor. De um jeito ainda mais maduro, Vingadores: Ultimato parece saber “brincar” quando é a hora certa, enquanto deixa os lados emocionantes serem realmente emocionais.
Vivido mais uma vez pelo ótimo Chris Hemsworth, Thor é hilário e impagável na maioria do tempo, faltando apenas um “white russian” para completar sua presença em grande parte do filme. Ao mesmo tempo, convive com uma culpa e uma dor que o arrastam em um arco interessantíssimo e que valoriza ainda mais seu personagem.
E não se engane, não é só Thor quem ganha essa atenção, Vingadores: Ultimato é sobre o ciclo dos seis heróis da primeira formação da equipe. Cada um deles precisa entender seu papel dentro do grupo e encarar o sacrifício necessário para que todos possam ter uma segunda chance. É lógico que as grandes transformações acabam movendo a “santíssima trindade”, provocando então as maiores mudanças em Thor, Capitão América e Homem de Ferro. E é justamente o enfrentamento dos três a Thanos que pode muito bem ser considerado um dos momentos mais empolgantes e emocionantes do MCU (sem exagero!).
Sobre isso, esse esforço de fechar esses ciclos abertos lá na chamada “Fase 1” desse universo, Ultimato é preciso e bebe diretamente nos filmes de origens dos três personagens. São eles que servem para fazer o espectador entender suas motivações finais e esforços derradeiros. O que “fica para depois” é agora um epílogo daquilo que começou em 2008 e atinge seu único auge possível. Sim, Vingadores: Ultimato é tudo aquilo que, tantos os fãs dos quadrinhos, quanto essa nova legião de fãs cinematográficos, queriam e terão no exato momento que as luzes do cinema se apagarem.
Como o próprio Tony Stark lembra em certo momento, “parte da jornada é o fim”, e nesse caso o fim é incrível. Portanto, “Avante, Vingadores”.
“Avengers: Endgame” (EUA, 2019), escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely, dirigido por Anthony Russo e Joe Russo, com Robert Downey Jr., Chris Evans, Chris Hemsworth, Brie Larson, Scarlett Johansson, Karen Gillan, Josh Brolin, Paul Rudd, Jeremy Renner, Don Cheadle e Mark Ruffalo.