Visages, Villages é um filme fácil de assistir. Se trata de um documentário meio road-movie com um artista jovem cuidando do projeto de uma artista experiente. Ambos se respeitam e estão juntos pelo mesmo objetivo: viver.
E viver para um artista é botar o pé na estrada e sair fazendo arte. A arte dele são colagens. A dela é fotografia. Passando de vilarejo em vilarejo ele e ela tiram fotos das pessoas da paisagem e as expandem, fixando-as na mesma paisagem e nos mesmos muros, paredes e mentes dessas pessoas. Elas viram famosas por estarem destacadas do cotidiano.
Os vilarejos do filme e do título não são exatamente o que nossa imaginação pode trazer à tona. Em vez daquelas casinhas e camponeses temos fazendeiros fabricando queijo, estivadores cuidando de um porto e funcionários de uma fábrica. Existem histórias inspiradoras do passado, como um casal que se casou via um sequestro de amor e uma única moradora que resiste se mudar de uma antiga vila de mineradores.
Para essa jornada eles usam um furgão com uma enorme lente de câmera desenhada. O estilo deles é a soma dos clichês. Mas isso, só porque se trata de um documentário onde a vida deveria ser maior que a arte. Não é o caso. Há alguma coisa barrando a arte e a vida. Um roteiro manipulador demais torna a experiência inofensiva. E mesmo que existam surpresas pelo caminho elas não são suficientes. É preciso conhecer quem são esses artistas para respeitá-los e ter uma ideia da importância do que fazem.
Agnès Varda dispensa apresentações. A diretora belga de mais de 89 anos demonstra, apesar da idade, estar sob o controle de suas criações ao mesmo tempo que se torna protagonista de suas histórias. Dirigindo e escrevendo filmes desde a década de 50, Varda parece estar em constante movimento e não se limita em definir o que faz com palavras simples. Suas observações enquanto vai entendendo o projeto durante a própria viagem são perspicazes demais para entendermos de primeira, o que torna a experiência rica e complexa.
Já JR é um cineasta-incógnita. Sempre de óculos escuros e tendo estreado com um longa documental (“Women Are Heroes”, em 2010), talvez seu curta mais conhecido seja Ellis (2015), onde Robert de Niro revisita sua origem de imigrante. JR também demonstra estar em constante movimento e faz sentido ele ser fascinado em fazer colagens. Seu objetivo parece ser arquivar o mundo em paredes ou películas. Embora nunca faça muito sentido vê-lo junto de uma senhorazinha minúscula e cheia de estilo, aos poucos a combinação da “dupla dinâmica” vai fazendo ganhando alguma coerência. Mas não muita.
A questão é que Visages, Villages parece um trabalho em andamento que foi filmado como um documentário de si mesmo. O que aquelas pessoas significam no todo do filme? Tudo é muito vago para encontrarmos alguma linha de raciocínio aí. Se trata de um filme itinerante, mas doce, tranquilo, com um pouquinho de tratamento narrativo e aparentemente muito improviso. Infelizmente esse improviso não vem à tona como realmente um improviso.
“Visages, villages” (Fra, 2017), escrito e dirigido por JR e Agnès Varda, com Jean-Paul Beaujon, Amaury Bossy, Yves Boulen, Jeannine Carpentier, Marie Douvet