Walt nos Bastidores de Mary Poppins

Mary Poppins foi um dos maiores sucessos da Walt Disney. O filme de 1964 não só tinha seu elenco capitaneado por Julie Andrews e Dick Van Dyke, como foi indicado a 12 Oscars, ganhou cinco e até hoje é celebrado como clássico do cinema. Nele, uma Walt nos Bastidores de Mary Poppins Posterbabá cheia de truques mágicos chega para “salvar” uma família inglesa. Walt nos Bastidores de Mary Poppins tenta desvendá-lo, mas a um custo alto demais.

Embora simpático e interessante, o novo filme de John Lee-Hancock (que dirigiu Um Sonho Possível” e escreveu o remake de Branca de Neve) tem coisas erradas demais para conseguir ser aproveitado sem incomodar em termos de estrutura, personagens, trama e mais alguns detalhes.

E para começo de conversa: a escolha do título em português, que mastiga demais uma opção original que respeitava e celebrava a inteligência do espectador (que seria traduzido em “Salvando o Mr. Banks”). Uma escolha que, curiosamente, acaba refletindo, justamente, o tom burocrático do filme. Desequilibrado, que não consegue contar uma história das mais simples sem meter os pés pelas mãos para ser “certinho”.

Nela, a escritora inglesa P.L. Travers (Emma Thompson) vai até os Estados Unidos (mais precisamente Los Angeles) para uma semana onde trabalhará na adaptação para os cinema de sua maior obra, Mary Poppins. Relutante em todos os sentidos, acaba usando esse período para tentar ser convencida de assinar os direitos de adaptação, coisa que o próprio Walt Disney (Tom Hanks) vem tentando fazer há duas décadas.

A trama então não apresenta um caso amoroso secreto entre Travers e Disney, mas poderia, já que o roteiro de Kelly Marcel e Sue Smith parece não ter mais nada em mente. Com a escritora sendo uma espécie de mocinha rabugenta e o Walt o galanteador simpático, ambos se conhecem, ele conquista ela, ambos vão em um carrossel e se divertem, ela descobre uma mentira e vai embora, ele vai atrás dela e tudo acaba feliz para sempre. E isso só não foi um spoiler por que ninguém deve esperar muito mais do que isso desde o começo.

Walt nos Bastidores de Mary Poppins Filme

Uma estrutura pobrinha e que só não é mais esquecível ainda pois corre em paralelo com a infância da própria escritor, que obviamente explicará como nasceu a personagem título de seu livro na vida real. E mais uma vez, isso não é um spoiler, pois se a ideia do filme era esconder essa relação (a personagem criança tem um nome diferente), a tentativa beira o desastre. Na verdade, não beira, mergulha nele.

Primeiro, pois perde muito tempo nesse flashback, tornando alguns momentos do filme pra lá de chatos. Segundo, pois não se importa de resvalar em um machismo incômodo e que nem de perto se reflete na composição da personagem adulta. Enquanto na ficção o Mr. Banks do título original precisa ser salvo (e em Mary Poppins foi vivido por David Tomlinson), aqui, mesmo ela achando que a dita “babá mágica” tenha chegado para fazer isso, não existe dúvida que quem merecia o salvamento era mesmo a Ms. Banks, que sofreu com o marido alcoólatra e irresponsável.

E essa lente desfocada ainda continua na linha principal, onde parece haver uma necessidade de diminuir Travers para que a enorme personalidade de Walt seja tão cativante assim. Com um esforço enorme na hora de compor essa personagem, Thompson até consegue sobreviver a essas armadilha, fazendo essa rabugentisse virar à favor dela mesmo, mas ainda assim é difícil não se incomodar com ela maltratando uma aeromoça, desprezando uma mãe com uma criança e pedindo para o voo cair, tudo na mesma sequência. É óbvio então que o filme é criado para exaltar a mudança dessa mulher diante do charme de Walt, mas se pegasse menos pesado ainda assim teria o mesmo efeito.

Sutileza que, pelo contrário, é usada para compor o fumante Disney (que até faleceu de câncer no pulmão), criando um personagem infalível, que diz todas palavras certas, mas é humanizado, e não simplesmente “cretinizado”, como Travers.
Mas isso era o que podia se esperar, já que Walt nos Bastidores de Mary Poppins é uma tentativa autofágica da casa do Mickey de celebrar ela mesma. Contar como um de seus maiores clássicos nasceu. Tudo naquele “walt disney way”, com uma produção impecável (a recriação de época é de encher os olhos, tanto no “presente” quanto no flashback), mesmo que isso seja o subterfúgio perfeito para deviar os olhares do monte de opções equivocadas.


“Saving Mr. Banks” (EUA/RU/Aus 2013), escrito por Kelly Marcel e Sue Smith, dirigido por John Lee Hancock, com Emma Thompson, Tom Hanks, Annie Rose Buckley, Colli Farrel, Ruth Wilson, Paul Giamatti, Bradley Whitford e Jasin Schwartzman.


Trailer do filme Walt nos Bastidores de Mary Poppins

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