Existe um momento em X-Men: Apocalipse que, em pleno ano de 1983, as jovens versões de Ciclope, Jean Grey, Noturno e Jubileu (que não é citada pelo roteiro, mas que a jaqueta amarela não deixa mentir!) saem de uma sessão de O Retorno do Jedi e apontam que “o terceiro filme é sempre o pior”. Talvez uma alusão ao próprio O Conflito Final de 2006, dirigido por Brett Ratner depois de duas produções comandadas por Bryan Singer. Por outro lado, será impossível tirar da cabeça dos espectadores que a piada poderia ser sobre o próprio Apocalipse.
Mas talvez não seja tão simples assim apontar isso como uma verdade absoluta, já que Singer nem de longe faz um filme ruim, e graças ao escorregão do filme anterior de não saber direito o que fazer com todo “arco futuro”, também não fica atrás dele. O problema é que isso quer dizer pouco, já que, mesmo confiante e com uma vontade de ser épico e enorme, Apocalipse é uma casca vazia e tão cheia de equívocos que faz ser impossível sair dele sem ter a impressão de ter visto algo muito aquém de suas possibilidades.
Na história, um mutante ultra poderoso que parece ser o primeiro da espécie fica dormente por 2300 anos até acordar em 1983 e resolver que irá remodelar o planeta à sua vontade. Do outro lado, mais ativa do que nunca, a Escola Xavier para Jovens Superdotados tem seu dia-a-dia interrompido quando o tal Apocalipse (vivido por um encoberto e desperdiçado Oscar Isaac) consegue controlar Charles Xavier (James McAvoy, não Patrick Stewart, entendeu Deadpool?!) e ameaçar o mundo inteiro com o fim da corrida nuclear. Ok, visto desse jeito parece que o vilão azulão está fazendo algo de bom para o mundo, mas não está.
A questão maior é que diante disso, Apocalipse e seus quatro Cavaleiros, ainda por cima, acabam capturando o diretor da escola, o que faz com que seus jovens alunos precisem partir em uma batalha para salvar seu mestre e ainda o mundo. Sobre os “Quatro Cavaleiros”, tirando a presença de Magneto (Michael Fassbender), que mais do que nunca é supra utilizado, o resto está lá de enfeite para uma batalha final (na verdade única do filme!) pouco interessante.
Pelo menos, Singer se diverte bastante recriando esse universo espalhafatoso dos anos 80, ainda mais com a possibilidade colorida e exagerada dos mutantes, o que resulta em um visual que é tanto fiel aos quadrinhos, como mantêm a ideia dessa nova trilogia que teve início com Primeira Classe e delimita uma década diferente para cada filme. Ainda no visual, Singer acerta mais uma vez ao colocar todo seu esforço tecnico em uma sequencia com o velocista, Mercúrio (Evan Peters). Uma cena maior ainda que a do pentágono, envolvendo ainda mais situações, igualmente impressionante e que continua sendo a melhor coisa do filme.
Ao lado dela, a presença especial (nem creditada!) de um certo mutante canadense surge para brigar por esse posto, tanto por conseguir resumir boa parte de uma das HQs mais clássicas do personagem, como por encontrar a ferocidade que faltava ao herói desde sua primeira aparição. Do qualquer jeito, a sequência tem a capacidade de ligar nada a lugar nenhum e só parece estar lá para satisfazer os fãs (além da aparente obsessão de Singer), o que fragiliza demais a trama inteira.
Um problema que ainda se estende para a presença de um outro mutante famoso, Noturno (Kodi Smith-McPhee), que mesmo bem caracterizado e divertido, parece só existir para corrigir uma série de conveniências do roteiro, que desse jeito permite que seus personagens transitem de um ponto “A” a um ponto “B” sem nenhuma explicação muito complexa. Chega até a ser incômodo perceber como a presença do “mutante demoníaco” simplesmente resolve praticamente todos conflitos dos personagens a não ser na derradeira batalha.
E falando nessa última sequência, o que sobra para ela é um Bryan Singer burocrático (como geralmente é), que não empolga em momento algum e, mais do que tudo isso, fica extremamente para trás tanto em relação ao que já fez na franquia, quanto nos exemplos recentes de super-heróis no cinema. Tanto o ruim Batman vs Superman, quanto o incrível Capitão America: Guerra Civil conseguem usar muito melhor o “material super-humano” que têm em mãos, enquanto Apocalipse se resume a opções quase anticlimáticas que acabam soando lentas perto dos dois citados.
O lado bom disso tudo é que, mesmo sem empolgar tanto assim em termos de ação, Apocalipse ainda assim consegue trabalhar bem o grande número de personagens que compõe a trama. Tanto todos protagonistas tem seus bons momentos, como o roteiro de Simon Kinberg (que já tinha escrito o último filme, e curiosamente também O Conflito Final) consegue valorizar a química entre os personagens e até desenvolve bem a complicada personalidade do vilão, que poderia ser um desastre enorme, afinal, ele se enxerga como um Deus e um escorregão o tornaria brega e exagerado, coisa que não acontece aqui, já que a todo tempo ele soa ameaçador e pungente.
Mas o maior acerto do filme talvez seja mesmo o do quarteto de jovens saídos do cinema, já que depois de ver X-Men: Apocalipse não é nenhuma surpresa que muita gente saia do cinema achando a mesma coisa: que o terceiro filme é sempre o pior.
“X-Men: Apocalipse” (EUA, 2016), escrito por Bryan Singer, Simon Kinberg (roteiro), Michael Dougherty e Dan Harris, dirigido por Bryan Singer, com James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Oscar Isaac, Rose Byrne, Evan Peters, Sophie Turner, Tye Sheridan, Kodi Smit-McPhee, Olivia Munn e Alexandra Shipp.
1 Comentário. Deixe novo
A Mística original é mais bonita e interessante do que está que não convence! ok