Filmes de guerra estão em baixa? Não havia muitas pessoas na cabine de imprensa de Zona de Risco. Bom, não é dos gêneros mais populares. Talvez nunca tenha sido, se limitando quase sempre aos clássicos da luta interna de seus personagens, assim como boxe e outros esportes. Porém, se trata de um ótimo entretenimento para se ver na telona. E não é só pelas explosões, tiros e bombas. Há neste longa, por exemplo, o desenvolvimento de uma ideia fina, quase sutil, sobre tecnologia na guerra e distrações do mundo moderno, que faz pensar por um breve momento. Para um filme de ação já é muito.
A história começa da maneira mais clichê possível: uma tropa de elite das Forças Aéreas americana está em uma missão em território inimigo tomado por extremistas. O novato tenta começar um diálogo com os veteranos e, no processo, vários dos elementos da fórmula “filme de guerra” vão sendo destilados em frases nada brilhantes nem engraçadas. O objetivo é unicamente suscitar a empatia e entrosamento com aquelas pessoas que acabamos de conhecer, e como estão de farda transformá-los, nem que seja um pouco, em seres humanos como eu e você.
Se houvessem muito mais astros de ação e armamento de nicho prontos para estourarem miolos poderíamos estar em mais um episódio de Os Mercenários, mas o filme quer justamente mostrar o contraste entre o distanciamento do trabalho tecnológico do pessoal que fica no escritório soltando mísseis remotamente e o cara-a-cara com o perigo dos soldados em campo.
Bastam alguns minutos dessas pessoas conversando e fica claro que o filme está ciente que é mais um filme de guerra, mas é um truque sagaz nesse caso, pois o filme acaba piscando inconscientemente para o espectador. O melhor momento disso é após um discurso sobre a barbárie que se esconde por trás de drones e ataques remotos em massa. É quando a barbárie das antigas ameaça tomar o palco que o ator Ricky Whittle rouba a cena por três segundos com sua sucinta e marcante frase: “que irônico, não?”.
O pai de Whittle trabalhou nas Forças Aéreas inglesa e ele viveu a rotina de mudanças constantes, o que para mim dá um toque especial em sua fala e sua participação como um todo. Bem mais do que as caras mais conhecidas de Hollywood, os irmãos Liam e Luke Hemsworth, que representam a visão ideal do soldado branco americano em versões jovem e velho. E por falar em velhos, Russell Crowe encabeça a lista como o amargurado e quase aposentado capitão Eddie Grimm “Reaper”. Nenhum desses personagens realmente se merecem no filme e poderiam ser desenvolvido por atores mais baratos.
Ou talvez não, pois a visão do americano médio (e velho) é que se não há atores de elite trabalhando neles é porque não vale a pena ser visto, pois talvez não tenham cenas de ação “que paguem o ingresso”. Por outro lado, quem vai mais ao cinema? Os velhos ou os jovens? Jovens não saem da telinha tanto quanto os velhos hoje em dia, o que acaba transformando o papel de Crowe em um herói por acidente. Ele é o único focado em seu trabalho de ajudar os meninos em campo.
Mas enfim, depois que as piscadelas ao espectador sobre “sim, este é mais um filme de guerra nada imprevisível” a ação começa a chacoalhar o cinema, com uma tensão que se mantém pelo filme inteiro. Não há espaço para respirar. Quando há, é para gerar um contraste inquieto, como as transições entre o Capitão Reaper fazendo compras no supermercado e os garotos em território inimigo precisando de alguém que os entenda além dos protocolos militares e limite de horas no trabalho (como se eles tivessem limite de horas para serem caçados pelos modernos vietcongues).
A ação pode ser claustrofóbica para espectadores, a depender da imersão na experiência de se sentir no lugar. Um lugar, aliás, onde se é o menos querido possível. Ou não: o número de pessoas por metro quadrado tentando te matar e disposto a gastar quantas balas e bombas for necessário gera sentimentos mistos sobre a virtude de ser desejado (ou almejado). Talvez seja uma tara americana ser odiado por quase todo o mundo não-civilizado (e algumas partes ditas civilizadas também).
Parte da responsabilidade pela imersão tensa e orgânica na ação é da direção de William Eubank, que também é um diretor de fotografia experiente e designa ao filme uma experiência mista com filtros noturnos, ângulos mistos e planos fechados que combinam perfeitamente com a sensação de não conseguir seguir adiante nem se esconder o suficiente para retomar as energias. Não que as cores do filme não queira dizer muita coisa, mas apenas o fato de não ser um enfoque com cores enérgicas, enquanto a ação sim, já nos diz algo.
Interessante quase apenas pela ação, seus heróis são esboços bem carregados pelos seus carismáticos e energéticos atores, que encontram seus opostos nas figuras alienadas e impessoais do resto do batalhão assistindo uma partida de basquete pela TV do quartel. A exceção fica por conta do capitão Reaper e sua colega, que ensaiam o único traço de humanidade. Ela está para se casar e Reaper tem tudo planejado para ir à cerimônia. Ela possui um convite emocionante para o final, mas não sentimos essa emoção. Há tensão na tela para esquecermos as histórias dessas pessoas antes que elas voltem a conversar casualmente.
Porém, se não ficou claro até agora, sim, existe muita ação em Zona de Risco. Que fica tensa do começo ao fim se assistido no cinema, ou pelo menos em um ambiente livre de distrações. Um desafio e tanto. Esta é a guerra dos cinéfilos civis em conseguir um lugar tranquilo para ver um bom filme.
“Land of Bad” (EUA, 2024); escrito por David Frigerio e William Eubank; dirigido por William Eubank; com Liam Hemsworth, Russell Crowe, Ricky Whittle, Milo Ventimiglia, Chika Ikogwe, Daniel MacPherson e Luke Hemsworth.