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13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi

É difícil saber se Hollywood imita a vida real, ou se a vida real quando quer dar uma apimentada do marasmo contrata algum roteirista de Hollywood. E ele nem precisa ser um cara muito inspirado. Pensando bem, nem precisa de um roteirista, basta contar com Michael Bay no final das contas. E 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazy é justamente sobre isso: o quanto no final das contas a vida real adora Hollywood.

A situação foi real, o assassinado de um embaixador americano na Líbia em 2012 seguida de um ataque em massa contra um complexo da CIA que lutou provavelmente durante uma madrugada inteira. Defendendo tudo isso, apenas seis ex-militares contratados como seguranças do complexo. E com isso em mãos (pode ir conferir na Wikipedia que está tudo lá), ficou fácil para o roteirista Chuck Hogan ligar meia dúzia de pontos e Michael Bay fazer o resto.

O problema é que estamos falando de Michael Bay, o que significa uma quase glorificação do plano sem significado. E se logo de cara o filme começa com uma imagem espacial desse planeta azul que habitamos, aproveite-a, já que mesmo sem ela fazer o menor sentido, vai ser a única vez que seus olhos irão ver uma imagem parada por mais de dez segundos nos próximos 140 e poucos minutos.

E ainda que 13 Horas seja o filme mais interessante que Bay tenha feito desde Bad Boys II (coloque ai nessa conta o monte de Transformers, o esquisito Sem Dor, Sem Ganho e o ruim A Ilha), o diretor não faz absolutamente nada que ainda não tenha feito em algum momento. Tudo continua picotado, artificial e melodramático, seus atores não se permitem nenhuma espontaneadade a não ser diante de uma outra piada, seus planos aéreos continuam enchendo linguinça e seu slow motion continua sendo aplicado em tudo que ele conseguir, desde crianças brincando até pessoa sendo atingidas por projéteis traçantes e alguns velhos conversando.

Curiosamente, para quem gosta de um pouco de gore, Bay acaba se mostrando bem sádico em certos momentos, com decapitações e pessoas explodindo, mas provavelmente a maioria vai perder isso com um corte de cena. E isso nem é o pior, o diretor continua com a estranha mania de entortar o horizonte de seus personagens sem fazer a mínima ideia do significado de tal técnica (chamada de “Dutch Angle”). Em certo momento, numa conversa entre vários personagens, o fundo do plano de cada um vai entortando (e entortando mais!) até que você desconfie que um deles vai ficar de cabeça para baixo ou o Batman da série dos anos 60 vai entrar em cena (Nota: A séria do Batman também não sabia o que fazer com a técnica, mas chegava mais perto do significado que seria causar a desorientação, uma certa loucura até).

13 Horas Crítica

Mas talvez Bay esteja certo, e a ideia dele seja mesmo desorientar seu espectador com todos tiros, explosões e caras barbudos sendo esteriótipos de soldados americanos. E talvez nesse caso a culpa nem seja dele e todas pessoas envolvidas sejam realmente clichês, assim como os acontecimentos sejam essa avalanche de lugares-comuns. Tudo bem, é difícil acreditar que entre um ataque e outro, a calmaria se transforme em um diálogo brega com um piano gritando ao fundo, mas o resto deve ter sido desse jeito mesmo (tirando o reloginho no canto da tela, que ninguém deve nem ter se preocupado para conferir se a ação se deu em 13 horas mesmo).

É lógico também que Bay, sem robôs enormes que se embaralham na tela, ainda sabe fazer cenas de ação tão divertidas como em A Rocha, e isso é o que salva o filme para quem estiver só em busca de adrenalina, testosterona, tiros e explosões. E graças ao roteiro rasteiro de Hogan, também não existe muito mais coisa para se preocupar no filme além disso, até por que, 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazy é o resumo de um dos grandes mitos da história americana: O Álamo.

A “Batalha do Álamo” aconteceu no Texas lá por 1850, e se quiser saber um pouco mais sobre ela, John Wayne já a “estrelou” em 1960. Mas não se engane, de lá para cá George Romero já inventou seus zumbis através de um Álamo, e até John Carpenter colocou seus policiais e bandidos trabalhando juntos em um 13° Distrito. Mas mais do que tudo isso, tudo que aconteceu em Beghazi naquela madrugada de 2012 é apenas mais um daqueles momentos onde o mundo real se cansa e pede ajuda a Hollywood.


“13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi” (EUA, 2016), escrito por Chuck Hogan, à partir do livro de Mitchell Zuckoff, dirigido por Michael Bay, com John Krasinski, James Badge Dale, Pablo Schreiber, David Denman, Dominic Fumusa e David Costabile


Trailer – 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi

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