É fácil o espectador se acostumar com a ideia de não encontrar mais nada de novo no cinema. Mas acredite, ainda há espaço para se fazer algo original, 7500, novo filme da Amazon Studios, é um desses exemplos.
O filme é escrito pelo bósnio Senad Halibasic em parceria com o diretor alemão Patrick Vollrath, ambos com pouca experiência, mas com uma óbvia vontade de chegar em um lugar diferente. Vollrath, por sua vez, estreia nos longas e já tenta fazer algo que é esteticamente complicado e digno daqueles desafios que nem todo cineasta está pronto para enfrentar.
7500 não acompanha o co-piloto americano vivido por Joseph Gordon-Levitt enquanto seu vooo “Berlim-París” é atacado por um grupo de terroristas, mas sim se posta dentro da cabine do avião e não sai de lá enquanto o filme não acabar. E não vai longe, quando isso acontece dá um passo para fora dela para observá-la vazia, com a chuva desenhando fios na janela do avião enquanto o celular de um dos terroristas toca e não será atendido, doloroso e esquecido.
E se isso pode soar como um spoiler para você, não se preocupe, ele representará para todos espectadores um alívio tão grande que talvez você esqueça de admirar essa linda opção estética e narrativa. Isso, pois 7500 é sufocante, tenso e desesperador. Uma fantástica experiência que faz o espectador se sentir dentro daquela cabine e isso não é pouco.
Vollrath e seu diretor de fotografia Sebastian Thaler não buscam criar uma cabine onde caiba sua história, mas sim buscam um realismo tão apertado e asfixiante que é surpreendente perceber a quantidade enorme de ângulos e cantos onde conseguem se esgueirar com a câmera para que a ação se passe toda ali. Não estamos falando de um filme “paradão”, mas sim uma construção entrecortada, cheia de ritmo e que não deixa a velocidade da história dar descanso para ninguém em seus sofás de casa.
O poder de imersão é tão grande que talvez incomode os espectadores até mais do que o esperado. A câmera de Thaler treme na intensidade de uma turbulência real e junto de uma ambientação sonora extraordinária, a impressão é a de estar dentro daquela cabine, portanto, viver “seu” avião ser sequestrado por um grupo de terroristas pode não ser a melhor experiência do mundo.
Mas é lógico que com a cabine instransponível, 7500 poderia ser um filme sobre um co-piloto pousando seu avião em um aeroporto diferente enquanto os vilões brigam com os passageiros, mas o roteiro de Vollrath e Halibasic consegue construir muito bem essas situações onde a estabilidade do protagonista não lhe permite sair dessa circunstância sem enfrentar os terroristas, tanto no campo mental, quanto físico mesmo. O texto da dupla pega poucos atalhos e não se deixa carregar muito por clichês e estereótipos e isso ajuda a criar esses personagens tridimensionais em ambos os lados dessa porta que fecha a cabine. É isso que permite que um terceiro ato foque em uma relação sensível entre uma dupla de personagens, levando em conta muito mais do que a simplicidade desses dois lados de uma situação intrincada e que foca em seres humanos, não somente em heróis e vilões.
Joseph Gordon-Levitt dá conta da complexidade do personagem e ainda entrega uma humanidade incrível para a situação, principalmente por precisar, em boa parte do filme, atuar sozinho e através de um fone e uma tela que dá acesso à parte de trás do avião. Gordon-Levitt não cai nunca para o atalho do herói, mas sim força uma fragilidade e uma tensão que acrescentam a 7500 ainda mais emoção e vida.
E talvez isso seja o que mais chama atenção em 7500. Além da ideia de, sem muita expectativa, dar de cara com um filme que faz algo novo dentro de tempos onde nada de muito novo acontece no cinema, o filme busca contar uma história humana, tensa, desesperadora e que irá passar tudo isso para seu espectador.
Portanto, não se engane, em um cinema que quer aceitar essa vontade de conversar com os serviços de streamings, mais importante do que encher seus telespectadores de títulos, é buscar entregar experiências novas e impactantes. Um 7500 e um A Vastidão da Noite valem muito mais do que 100 “poços” e “milagres em qualquer que seja as celas onde eles estejam”.
“7500” (Ale/Aus/EUA, 2019); escrito por Patrick Vollrath e Senad Halibasic; dirigido por Patrick Vollrath; com Joseph Gordon-Levitt, Omid Memar, Aylin Tezel, Carlo Kizlinger e Muratha Muslu.