É uma pena que A Mãe seja um filme tão ruim. Uma mistura de gente interessante com currículos que falam por si só, mas que se juntam aqui para um resultado aquém de absolutamente qualquer outro trabalho de todos envolvidos.
Tudo bem, a estrela Jennifer Lopez na ponta do elenco pode ter feito coisa pior, mas ainda assim os espectadores mereciam algo melhor e não vão encontrar. Mas vamos aos culpados.
Niki Caro dirige o filme de modo quase desastrado, mas antes disso assinou a interessante e caprichada adaptação live-action de Mulan (sem contar o quanto ficou famosa lá para trás com o interessante e delicado Encantadora de Baleias). Mas talvez a culpa não seja só dela, já que filmar uma história genérica, preguiçosa e sem emoção e fazer disso algo decente é um trabalho complicado.
O erro talvez esteja no trio por trás do roteiro: Misha Green, Andrea Berloff e Peter Craig. A primeira fez a adaptação de Lovecrafty County na HBO, o que poderia ser um ótimo cartão de visitas. Já Berloff é mais experiente ainda, tendo sido indicada ao Oscar pelo roteiro de Straight Outta Compton e recentemente assinado o divertido (porém nada demais!) Rainhas do Crime. Falando em Oscar, Craig esteve por lá esse ano pelo seu trabalho em Top Gun: Maverick, mas também poderia ser lembrado por Batman (o último) e Atração Perigosa lá em 2010.
Toda essa experiência em Hollywood parece só ter conseguido fazer uma história onde uma moça do exército dos EUA, depois de ser guarda em Guantánamo e se envolver com um traficante de armas e um só traficante mesmo, decide entregar os dois para o FBI enquanto está quase dando à luz à filha de um deles.
Para a sorte da filha e azar dos espectadores, a menina cresce adotada por uma família comum qualquer, mas sempre sob a proteção “de longe” da mãe, que agora está no Alasca caçando coisas e se preparando para a reviravolta do primeiro ato. Ela vem quando um dos ex-namorados dela decide sequestrar a menina e a mãe então vai à caça dele e de um monte de capangas vestidos iguais e com cara de videogame ruim.
O filme não vai muito além disso e o espectador irá adivinhar 90% das surpresas do filme bem antes delas acontecerem. Como se aquele monte de mãos experientes resolvesse escrever a trama mais óbvia e entediante que pudessem.
Lopez vive a mãe e parece se divertir com o jeito brucutu da personagem, por mais que a direção nunca valorize realmente as cenas de ação e lutas. Em certo momento o espectador vai simplesmente desistir de acompanhar uma repetição enorme de pessoas sendo mortas sem nenhum tipo de personalidade atrelada ou sequer diferença entre elas. Em outro momento o roteiro vai desistir também de tentar entreter o espectador.
O óbvio meio do filme acompanha Lopez descobrindo como ser mãe de uma filha enquanto se mantém sendo uma heroína de filme de ação ruim dos anos 90, daqueles como Chuck Norris, Stallone ou Van Damme (tentei não citar o Schwarzenegger para não precisar procurar como escreve o nome dele). E talvez o filme seja só isso mesmo, um filme de brucutu com uma protagonista igual a um monte de outros exemplos, mas é pouco e o que é feito com isso é realmente mal feito.
A Mãe não tem emoção real. Em nenhum momento ninguém irá se importar pelo relacionamento das duas e muito menos torcer por elas, já que todos terão certeza de que elas irão descer porrada e tiros em todo mundo. Tudo vai só andando como se tivesse sido criado por um grupo de roteiristas amadores. O que é realmente uma decepção, principalmente para os fãs do gênero e que sempre ficam esperando um novo filme de ação bacana e com qualquer coisa minimamente interessante. Algo que não acontece nessa nova produção da Netflix.
“The Mother” (EUA, 2023); escrito por Misha Green, Andrea Berloff e Peter Craig; dirigido por Niki Caro; com Jennifer Lopez, Lucy Paez, Omari Hardwick, Joseph Fiennes, Gael Garcia Bernal e Paul Raci.
SINOPSE – Jennifer Lopez vive uma ex-militar que precisa voltar à ativa quando ex-parceiros de seu passado voltam e colocam sua filha em perigo