A importância de Arquivo X para a cultura pop é provavelmente uma das mais fortes que uma série de TV poderia chegar, por isso, quando o primeiro longa foi pessimamente recebido na época de seu lançamento, decepcionando meio mundo, praticamente selou qualquer chance de uma continuação. Pelo menos não enquanto a série ainda estivesse no ar.
Dez anos depois do filme e seis depois do fim da série, Arquivo X – Eu Quero Acreditar, chega aos cinemas muito mais como um presente aos orfãos da série do que como um filme atrás de números de bilheteria, que, com certeza, se garantirão pelos próprios fãs. Nada de fechar pontas, apenas uma oportunidade de ver a dupla de heróis mais uma vez, todo esse tempo depois, em um episódio um pouco mais comprido.
E é exatamente isso que faz essa segunda tentativa ser muito melhor que a primeira, pois se solta de qualquer amarra e simplesmente faze o que funcionou na TV: um crime para ser desvendado pela dupla, com seu lado extraordinário e uma corrida contra o tempo para chegar ao assassino antes que ele faça uma outra vítima. Exatamente como um zilhão de outros thrillers de serial killers por aí, mas nem por isso indo no mesmo saco.
Eu quero Acreditar não é nenhum Seven, mas está a quilômetros de distância da maioria dos filmes do gênero, principalmente por saber se estruturar em cima da história, guardar uma ou outra surpresa para os momentos certos e contar com uma dupla de protagonistas com uma química de mais de dez anos.
Outra coisa que pode ter ajudado, é a decisão de deixar os homenzinhos verdes descansando e apoiar a trama em uma agente do FBI sumida, mas que começa a aparecer nas visões de um padre com um passado nebuloso. Sem acabar com nenhuma surpresa, o distinto Irmão Joe é na verdade um padre pedófilo vidente, só isso já garantindo esquisitice suficiente para o FBI ir atrás de um Mulder barbudo e uma Scully às voltas com suas responsabilidades de médica.
É verdade que o roteiro do criador da série Chris Carter, que também assina como diretor, junto de Franz Spotnitz, dão uma forçada nas situação, misturando o padre pedófilo vidente (nunca vou cansar de escrever isso e dar risada), com células tronco e alguns russos (agora sim estragando com uma pequena surpresa, se quiser pule um par de linhas) traficantes de orgãos e metidos a Franksteins, algo que pode pular nos olhos de tão forçado, mas nada comparado ao melhores momentos da série e, mesmo assim, ainda conseguindo dar unidade a tudo isso, fazendo tudo se ligar com propriedade e resultando em algo muito melhor do que noventa por cento (antes que alguém reclame, isso é um número estimado!) das produções do gênero que circulam por ai.
Talvez ainda, sem um trabalho regular da direção, que não inventa e só tenta ficar por trás da imagem, e de uma ótima edição do oscarizado Richard A. Harris, o espectador tivesse tempo de parar para pensar no que está vendo, mas o andamento do filme flui tão bem, que qualquer maluquice passa despercebida e ainda aproveita muito bem o tempo para desenvolver o relacionamento dos dois personagens principais, que é isso que os fãs querem ver: Mulder e Scully, sem nada de diferente, apenas o que já cansaram de fazer.
Arquivo X – Eu Quero Acreditar vai agradar muito mais aos fãs, que pescarão e entenderam (alguns chatos até gritarão no meio do cinema) um monte de referências da série, coisa que vai deixar o público em geral até certo ponto perdido, mas que nem por isso não conseguirá aproveitar o filme em seu todo, pelo contrário, certamente até conseguindo acreditar naquilo tudo.
X-Files – I Wanto To Believe (EUA/Can, 2008) escrito por Chris Carter e Franz Sponitz, dirigido por Chris Carter, com David Duchovny, Gillian Anderson, Amanda Peet, Billy Connoly, Xzibit e Mitch Pilleggi