Bailarina | Sobrevive à sua bagunça

Existem momentos no cinema onde é impossível separar o resultado final (o filme em si) de seus bastidores. Bailarina era para ser apenas um spin-off da série John Wick, mas só de ser um filme que fica minimamente em pé já um milagre.

A ideia era clara, manter o interesse na franquia entre filmes apresentando uma história que fugiria do protagonista, mas expandiria aquele mundo ao redor dos hotéis Continentais e seus assassinos. O roteiro original era de 2017 e contava uma outra história, mas parte de suas ideias foram mudadas para passar a fazer parte do mundo capitaneado por Keanu Reeves. Logo na sequência o nome de Len Wiseman foi atrelado à produção na cadeira de diretor. Nesse momento surge uma pergunta: Que tipo de filme você imagina que será feito com Wiseman comandando a ideia toda?

Wiseman tem no seu currículo coisas como Anjos da Noite, Duro de Matar 4.0 e o remake de O Vingador do Futuro, portanto, é difícil imaginar que ele agora fosse dar conta de algo como Bailarina, que vinha tão cheio de expectativas e com uma “nota de corte” tão alta graças ao sucesso de John Wick. Mas antes de se falar sobre a trama, é preciso lembrar que, mesmo com o nome de Shay Hatten nos créditos como roteirista, os bastidores do filme também não deixaram esse setor sem polêmicas.

Entre o roteiro dos dois últimos filmes de John Wick, Hatten também assinou Army of the Dead e Rebel Moon, ambos dirigidos por Zack Snyder, portanto, tire suas próprias conclusões. Rumores indicam que Michael Finch (também do quarto John Wick) e até Emerald Fennel (Bela Vingança) tenham reescrito o texto, além Rebecca Angelo e Lauren Schuker Blum (Dinheiro Fácil) também terem mexido no roteiro, o que faz com que fique difícil esperar um material que tenha o mínimo de união. Portanto, ao ter o mínimo de sentido, acreditem, os espectadores deram uma sorte incrível. Mas não tanta sorte assim.

Ana de Armas vive Eve, uma assassina da Ruska Roma, mesma do John Wick, mas ela tem uma introdução absolutamente chata e muito mais longa do que devia para mostrar que, ainda pequena, ela viu o pai ser morto por um grupo de assassinos liderados pelo sempre preguiçoso Gabriel Byrne quando aceita papéis de vilões. Mas calma, antes de partir para a ação, Eve ainda precisa passar por um monte de treinamentos chatos com cara de filme sem criatividade e uma missão onde ela usa umas balas de NERF para salvar a filha de um bilionário que não tem nada a ver com o resto da trama.

E lá se vai um terço do filme quando Wiseman e “seus roteiristas” decidem andar para a frente com a história. Mas calma, tudo ainda pode ser uma ilusão, já que o diretor, aparentemente (ainda no campo dos bastidores e especulações), apresentou um primeiro corte tão ruim e bagunçado que o produtor e “verdadeiro pai” do John Wick, Chad Stahelski, acabou se sentindo obrigado a programar dois meses de “refilmagens” que acabaram sendo dirigidas por ele, já que Wiseman “acabou tendo problemas de saúde” justamente nesse período.

Resumindo, talvez Wiseman não tenha culpa nenhuma de nada que deu certo em Bailarina, até porque, os acertos são justamente muitos daqueles mesmos que já tinham funcionado em John Wick: as cenas de ação.

As boas coreografias funcionam e a câmera (seja de Stahelski ou de Wiseman) aproveita muito bem esse trabalho, principalmente com uma montagem que acompanha as intenções das cenas. Melhor ainda, criam para Eve um estilo próprio de luta e que parece até ser mais violento e explosivo do que do próprio John Wick. Portanto, os fãs da série de filmes e de produções de ação ficarão satisfeitos e ainda terão um punhado de soluções visuais inesperadas em cenas visualmente empolgantes e um desenho de som absolutamente interessante.

É impossível não se empolgar com o criativo uso de granadas durante vários momentos do filme, assim como quem não se empolgar com um duelo de lança-chamas está morto por dentro e não deveria estar tentando se divertir entrando em uma sessão de um filme com a marca John Wick.

Mas todos esses acertos precisam ser amarrados em uma trama e nesse momento Bailarina é capenga demais, ainda que acrescente uma quantidade interessante de novidades para a mitologia da série. O tal do passado de Eve é o motivador dela, mas parece nunca ser forte o suficiente para perder esse tempo todo discutindo a ideia. No resto, as questões éticas e morais dentro desse mundo de assassinos tem tão pouca coisa nova que dá até uma certa preguiça de acompanhar os personagens falando e “descobrindo” coisas que você já imagina que acontecerá.

Mas isso não atrapalha o resultado final. Muito provavelmente arrumado por Chad Stahelski, Bailarina se mantém firme dentro desse mundo, abrindo portas e possibilidades enquanto mantém a qualidade elevada das cenas de ação e das lutas, o que, com certeza, é mais que suficiente para manter a franquia viva e os fãs cheios de esperança para terem sempre um novo capítulo dessa saga. E não há bagunça nos bastidores suficiente para passar por cima de uma marca que, mesmo se enfraquecendo em filmes como esse, ainda assim se mentém firme como um dos personagens mais famosos e celebrados de sua geração.


“Ballerina” (EUA/Hun, 2025); escrito por Shay Hatten; dirigido por Len Wiseman; com Ana de Armas, Keanu Reeves, Ian McShane, Anjelica Huston, Gabriel Byrne, Catalina Sandino Moreno, Ava Joyce McCarthy, Norman Reedus e Lance Reddick.


Trailer do Filme – Bailarina

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