Bela Vingança deixa um gosto amargo na boca!

Bela Vingança | Deixa um gosto amargo na boca

A indigestão de Bela Vingança não só é necessária, como também obrigatória.  Não que seja um filme perfeito, tem uma série de pretensões e defeitos que serão ignorados por seus fãs, mas sobre tudo isso existe uma quase necessidade de ser visto. De ser discutido. De ser lamentado.

O filme de Emerald Fennell é um soco bem dado no estômago, daqueles que tiram todo ar até de sua alma. Mas é obrigatório, parece até ser o único jeito honesto de falar sobre esse assunto de modo claro e poderoso. O outro lado dessa equação é Carey Mulligan em mais um momento impressionante de sua carreira quase impecável.

Na verdade, o filme é de Mulligan e ela faz Bela Vingança ser uma experiência ainda mais inteligente, complexa e atordoante. Isso tudo sem nunca ir pelo caminho mais fácil dessa história.

De modo prático, como o título nacional faz questão de contar, Mulligan vive Cassandra, uma mulher em busca de vingança. Mas ela não é “bela” como o título aponta, ela é triste, suja, violenta e imoral. Cassandra perambula por bares se fingindo de bêbada para fisgar homens e esperar que eles comecem a aproveitar de sua embriaguez para estupra-la. A tensão do momento parece ser esticada demais, mas do momento que ela abre os olhos e encara a câmera, você se torna álibi dessa ideia.

Não fica claro o que ela faz exatamente com cada homem que cai em sua armadilha, mas com certeza ela faz com que eles passem a repensar a ideia de repetir isso com qualquer mulher. Cassandra parece presa a essa espiral de vingança anônima, até que descobre o paradeiro de um antigo colega de faculdade diretamente responsável por suas atitudes no presente. A incapacidade de lidar com essa informação a obriga a colocar em prática um plano que deixa marcada a vida de todos aqueles que estiveram ligados a esse acontecimento.

O roteiro também de Fennell coloca Cassandra diante de um conflito ainda maior, o de conseguir confiar em alguém depois do acontecido, o que permite a ela um fiapo de felicidade antes do final trágico e violento. Sem muita criatividade e uma vontade meio rasa de quebrar outra vez a personagem ainda mais, a trama assume o óbvio, ainda que funcione dentro desse esforço.

Funciona, porque talvez tudo siga um ritmo quase de conto de fadas, no sentido mais violento da palavra. Cassandra está lá para ensinar uma lição custe o que custar, independente dos esforços necessários para essa vingança. O que Cassandra faz com todos envolvidos não compensa o trauma, nem é tão violento, mas com certeza ensinará uma lição que nenhuma vai esquecer.

Bela Vingança é sobre esse pagamento de dívida que essas pessoas tinham com Cassandra e com uma amiga envolvida nessa violência durante a faculdade. Todos eles merecem cada momento de dor e desespero que passam. Cada hipocrisia esfregada em suas caras. Cada verdade que precisam encarar.

Fennell faz isso através de um filme moderno, visual e cheio de estilo. Cria uma estética que por vezes centraliza sua protagonista nesse mundo sem ninguém por perto, apenas ela em uma solidão que parece a tomar. Mas Mulligan, na maioria do tempo, não se deixa ir pelo atalho da dor, mas sim da força.

A Cassandra de Mulligan é poderosa, ainda que frágil diante de suas dores, mas nunca se deixando ser tomada por elas, entende o trabalho que tem a fazer, vai lá e o faz. Constrói uma personagem ácida e veloz em seus pensamentos e reações, nunca parecendo ser pega desprevenida, entretanto, isso acontece e sua reação é sempre de uma profundidade que coloca sua personagem ainda mais nesse lugar de dores que ela esconde. Sua felicidade só será completa com sua vingança terminada. Com aqueles quatro palitinhos cortados por um quinto na diagonal.

É lógico que o jeitão moderno e a espécie de lição que deixa, fazem de Bela Vingança um exemplo de como fazer um filme que enfrenta seus fantasmas e tenta fazer algo minimamente novo dentro do gênero. Não se enganem, ele é um daqueles “filmes de vingança” com jeitão de “filme B”, mas com personalidade e uma vontade enorme de ser essa experiência indigesta e que deixa um amargo na boca que demora a desaparecer.


Promising Young Woman” (EUA, 2020); escrito e dirigido por Emerald Fennell; com Carey Mulligan, Adam Brody, Clancy Brown, Jennifer Coolidge, Laverne Cox, Bo Burnham, Christopher Mintz-Plasse, Alison Brie, Connie Britton e Alfred Molina


Trailer do Filme – Bela Vingança

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