Deixem de ser chatos, Bright não é ruim. Tudo bem que ele também não é bom e mostra um David Ayer escorregando em alguns dos mesmo erros que ele vem cometendo nos últimos anos, mas ainda assim é um filme que tem lá seu charme.
E nesse caso, o erro não vem só com o Ayer, vem também do roteiro de Max Landis (que já acertou em Poder Sem Limites, mas depois disso…). Ambos se atrapalham com um imenso e interessante material que têm em mãos. O que resulta em uma enxurrada de diálogos expositivos e uma mitologia estabanada que ao invés de deixar um gostinho de quero mais, opta por tentar contar ao espectador muito mais do que seria necessário para o filme funcionar.
Bem verdade, Bright já funcionaria com uns vinte minutos a menos de embromação se entendesse o quanto funcionaria diante de uma simples trama onde dois policiais de Los Angeles, um humano (Will Smith) e um Orc (Joel Edgerton) diante de um chamado em uma noite tranquila que resulta na descoberta de uma ¿bright¿, uma elfa que consegue manipular uma varinha mágica. Isso os coloca como alvo de um punhado de grupos que querem a tal varinha.
Sim, Bright posiciona seu espectador em um mundo onde dois mil anos atrás uma guerra contra um vilão mal qualquer e genérico do Sauron permitiu que humanos, orcs, fadas e mais um monte de criaturas místicas (em um momento tem um centauro passando por uma cena!) convivessem juntas e evoluíssem em um mundo atual e urbano.
O interessante disso é que só isso já seria suficiente para jogar o espectador no clima do filme. Bastava uma animação toda explosiva e que colocasse todos esses seres místicos pela história para que todo o resto funcionasse, mas a opção de Ayer e Landis é contar essa história (na verdade tentar… na verdade não conseguir) por meio de uma série de grafites nos muros de LA. Mas como o espectador pouco entende do que está acontecendo, é preciso explicar tudo de novo, como se seus personagens fossem completos idiotas e não soubessem nada sobre o mundo que vivem.
E mesmo assim essa mistura entre o contemporâneo meio ¿gangsta¿ que vem com Los Angeles e um ¿conto de fadas¿ funciona. Imagina então se Landis e Ayer soubessem melhor o que poderiam fazer!
Por trás da câmera, e para sorte dos espectadores, Ayer traz pouco do desastre que é seu trabalho em Esquadrão Suicida e continua meio desinteressante, como nas vezes em que parece se sentir preso à suas raízes policiais como em Marcado Para Morrer, Tempo de Violência e ¿Os Reis da Rua, sem perceber que seu melhor trabalho em Corações de Ferro opta por um ambiente claustrofóbico, mas por composições muito mais abertas e que valorizam a criação daquele mundo.
Landis ainda erra ao entregar a Ayer motivações ruins como um policial ¿prestes a se aposentar¿ e uma vergonhosa passagem por um distrito de Elfos meio só para constar. Falta agilidade para o texto de Landis, o que não permite que a história simplesmente acompanhe os dois protagonistas em sua fuga. Por si só, essa jornada funciona, eles aprendem algumas coisas sobre um ¿novo mundo de mágica¿, enfrentam um monte de inimigos ¿mais fodões¿ que eles, levam a pior e se salvam sempre no limite de se ferrarem. E o melhor, ainda deixam que um cliffhanger interessante possa até funcionar em um segundo filme. Tudo isso ficaria melhor ainda se Landis soubesse escrever diálogos menos desinteressantes e tivesse qualquer tipo de capacidade de lapidar seu texto.
Mas mesmo assim, com uma produção acima da média e maquiagens (tanto dos Orcs, quanto dos Elfos) que partem, no bom sentido, de um óbvio visual do Senhor dos Anéis de Peter Jackson, Bright é um passatempo que não incomoda. Que obviamente ao final de tudo deixa aquela impressão de um potencial meio mal explorado, mas ainda assim tem lá seu lado divertido. Portanto, não seja chato e se deixe levar por essa ideia interessante e divertida.
¿Bright¿ (EUA, 2017), escrito por Max Landis, dirigido por David Ayer, com Will Smith, Joel Edgerton, Noomi Rapace, Edgar Ramírez, Lucy Fry, Happy Anderson e Jay Hernandez.