Não há dúvida nenhuma que David Ayer fez um trabalho ímpar quando escreveu Dia de Treinamento, mas essa segunda tentativa de sentar na cadeira de diretor, mostra outro fato importante: que ele já poderia começar a pensar em voltar a só escrever. Os Reis da Rua é um filme tão capenga, que é fácil fazer o espectador se questionar o que está acontecendo diante de seus olhos.
De longe que a trama seja confusa, cheia de detalhes ou reviravoltas, pelo contrário, é simplista demais, só que tenta se mostrar tão barroca que esquece não ter detalhes para esculpir, resultando em algo sem sentido com personagens rasos e situações mediocres.
Nela, Keanu Reeves é o detetive Tom Ludlow, um policial que atira primeiro para não precisar perguntar depois, mas que começa a ser investigado pelos Assuntos Internos graças a um ex-parceiro que resolveu bater com a lingua nos dentes. Nisso, o tal parceiro é assassinado e todos olhos se voltam mais ainda sobre ele. Afastado, resolve então investigar essa morte, mas acaba achando muito mais do que procurava.
O roteiro escrito a seis mãos por Jamie Mosso, Kurt Wimmer e pelo “Best Seller” James Elroy (que tembém escreveu o livro que deu origem a Los Angeles Cidade Proibida), mas simplório em todas soluções que procura. Principalmente no que se refere ao personagem principal.
Ludlow é tão mal que dorme abraçado com a arma, engatilha ela quando acorda a leva para o banheiro para escovar os dentes para, logo depois, a desmontar para uma limpeza, solitário em um apartamento sem luz. E não é só isso, o personagem ainda fica tomando garrafinhas de vodka ¿pois elas não deixam cheiro¿ e tudo isso por que perdeu a mulher em algum lugar do passado glorioso como policial. Um excesso claro de informações visuais jogadas na cara do espectador sem a menor preocupação de parecer exagerado e pouco sutil.
Resumidamente, o personagem principal, que tem que levar o filme nas costas, é gênérico de milhões de outros, só com uma diferença: Keanu Reeves. O astro não tem cara de casca-grossa e acaba se mostrando uma péssima escolha para o papel, ainda mais quando todo mundo a sua volta é muito melhor ator e consegue expremer muito mais de seus personagens. E Ayer parece ser o único a não perceber isso, já que cisma em separá-lo do mundo com closes que criam uma frieza eterna.
O diretor ainda opta por uma uma câmera mexida que não finge fazer questão de enquadrar nada, se sentido moderna, mas que em momento nenhum perde o enquadramento e acaba se tornando uma ferramente artificial e sem naturalidade. Sem deixar aquele “tom documental”, mas sim um de puramente tremido. Quase com jeito de erro.
Os Reis da Rua é cansativo, se estende demais na segunda parte, onde o a verdade começa a aparecer (por mais óbvia que ela já fosse para todos) e tenta pegar todo mundo desprevinido, mas só consegue arrancar bocejos. É covarde, limpando o anti-herói de qualquer maldade, e, com certeza, se não fosse chapado de estrelas como Forest Whitaker, Chris Evans e Hugh Laurie não teria outro destino a não ser um lançamento obscuro direto para as locadoras do mundo.
Street Kings (EUA, 2008) escrito por James Elroy, Kurt Wimmer e Jamie Moss dirigido por David Ayer,com Keanu Reeves, Forest Whitaker, Chris Evans, Hugh Laurie