Desconhecidos | Um Thriller em 6 Capítulos… mais ou menos

Se você pensar realmente a respeito de Desconhecidos vai descobrir que ele não faz nada muito mágico ou genial. Mas não é porque a solução é simples que ela deve ser encarada como pobre ou desqualificante para o filme. É dela que o filme precisa e é por ela que ele se torna um baita filmão divertido.

Mas com ela vem um problema: discutir muito além dela vai, com certeza, acabar com a graça de muita gente, afinal as surpresas do filme ficam muito bem escondidas por essa estrutura que não é honesta com o espectador, mas que funciona. Desonesta, pois claramente engana quem estiver embarcando nessa história e que vai “ligando os pontos” da trama sem material suficiente para ter essas impressões.

A boa ideia do diretor e roteirista JT Mollner é justamente não te dar as informações suficientes para você entender o que está acontecendo com essa mulher (Willa Fitzgerald) e a razão dela estar sendo perseguida no meio da floresta por esse cara e sua espingarda (Kyle Gallner). Mas a manipulação de Mollner começa antes, com ela perguntando para ele se ele é um serial killer e o filme apelando até para uma pseudo-veracidade sobre um serial killer que atazanou os Estados Unidos no começo dos anos 2000. Sem contar a trilha sonora tocando “Love Hurts”.

Tudo isso junto aponta a história para um único lugar e qualquer coisa dita além disso pode estragar a maior diversão do filme. Portanto, se você gostou de coisas com Fresh e Noites Brutais, talvez Desconhecidos seja o filme perfeito para você… e talvez você não queira mais ler o resto desse texto (ainda que ele não vá dar spoilers).

Não é spoiler, mas é algo que você perceba logo de cara, já que Desconhecidos nasce na tela com um subtítulo: “Um Thriller em 6 Capítulos”. Mas como você vai logo perceber, o primeiro deles que você acompanhará é, justamente o terceiro, que acompanha essa moça fugindo e encontrando uma casa com dois idosos e pede a ajuda deles. Mollner então começa a colocar em ação seu grande plano de contar essa história um episódio por vez, mas na ordem que ele sabe que fará com que seus espectadores tirem suas conclusões. Algumas certas. Outras erradas. Mas não se preocupe que tudo depois pode mudar de novo.

Portanto, o melhor a se fazer em Desconhecidos é se deixar levar pela ideia e aproveitar Desconhecidos, que funciona, isso não tem como ninguém negar!

A dupla de protagonistas também ajuda nessa hora, já que se permitem construir personagens vívidos e que estão de corpo e alma em cada capítulo, portanto, a mudança dos dois durante o filme é absolutamente divertida e interessante. E isso é ainda mais valorizado pela direção de Mollner e da fotografia de Giovanni Ribsi (sim aquele mesmo ator de O Resgate de Soldado Ryan que agora estreia nessa função). Deconhecidos é tenso também por saber o que fazer com sua câmera o tempo inteiro.

O começo tenso é amplo e você enxergará tudo. A relação entre os dois nos capítulos iniciais é próxima, sexy, delirante e visceral. As revelações são claras e o espectador entende. A relação dos dois quando precisa ser delicada é simples e funciona. O final de um deles é emocional e dolorido a cada respiro. Mesmo desonesto na sua estrutura (no melhor dos sentidos), Desconhecidos é visualmente poderoso em cada plano e mensagem, com os dois atores tomando conta da tela e entendendo o quanto seus esforços é importante para a funcionalidade da trama.

É verdade também que, mesmo divertido e surpreendente, quando todas essas cartas são mostradas não sobra muito para o espectador. A decisão é aceitar um lado poético e filosófico que pode chatear quem queria se manter na ação e nas surpresas. Até uma motivação de um dos personagens parece meio preguiçosa e bobinha, mas funciona. Como um respiro fundo no final das contas depois de toda correria. Ali talvez tenha algo sobre amor, obsessão e loucura, mas não é isso que está sendo debatido, o que não deixa que o filme vá muito além disso em termos de duração.

Mas isso também é uma das características que fazem Desconhecidos uma espécie de terror de serial killer que tenta ser minimamente diferente e inesperado, além de intenso. Nada de muito genial, mas que funciona, funciona mesmo.


“Stranger Darling” (EUA, 2025); escrito e dirigido por JT Mollner; com Willa Fitzgerald, Kyle Gallner, Ed Begley Jr. e Barbara Hershey


Trailer do Filme – Desconhecidos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Menu