Ainda que a câmera de Zach Cregger dê uma dica importante sobre o futuro de Noites Brutais logo no primeiro plano do filme, a melhor coisa que pode ser feita é entrar no filme sem saber absolutamente nada sobre sua trama. O resultado disso pode ser um dos terrores mais inteligentes e divertidos do ano.
Mas o que se pode dizer do filme antes de estragar qualquer surpresa é que, além da tradução pouca inspirada, o original “Barbarian” casa muito melhor do que a brasileira, é que o filme acompanha uma jovem, Tess (Georgina Campbell) que chega à Detroit para uma entrevista de emprego, mas descobre que a casa que tinha alugado via aplicativo já tinha um outro locatário, Keith (Bill Skarsgard). O resto é surpresa (e garanto não acontecerá o que você está esperando!).
A ideia de Zach Cregger, que também escreve o roteiro é, justamente, enganar ser público. A precisão com que faz isso é gigantesca e absolutamente todos cairão nesse truque de mágica à lá Hitchcock, mas com um pouco mais de gore e violência. Portanto, quem ainda não viu o filme, o melhor mesmo é correr lá para assisti-lo antes de dar de cara com algum spoiler (principalmente na sequência desse texto).
E fica extremamente claro de Cregger sabe disso e valoriza absolutamente bem cada uma dessas possibilidades de colocar seu espectador dentro de um filme que ele espera, só para poder arrancá-lo de lá momentos depois. O primeiro passo de Tess para dentro da casa é carregado de uma tensão poderosa que coloca o fã dentro de um filme que não é aquele que eles estão esperando, mas o trabalho é tão bem feito que vai ser fácil se perder no suspense desse filme, mesmo não sendo “esse filme”.
Melhor ainda, do momento que o espectador se descobrir dentro de um outro filme, será tarde demais. Feliz de quem embarcar nessa viagem. A outra parte dessa jornada fará os surpreendidos espectadores terem que construir novas empatias, dessa vez com alguém muito menos simpático, mas que você já sabe onde vai parar. Lembrando mais uma vez de Hitchcock, a ideia do suspense agora é o da mala com uma bomba embaixo da mesa que você sabe que vai explodir. Mas nesse caso talvez seja mais fácil de torcer para isso acontecer… pelo menos antes de um terceiro filme ainda entrar em cena.
Um último momento ainda une tudo isso em uma situação que deixa o espectador livre para torcer contra e a favor de quem quiser, cheio de violência, sustos, gore, ainda mais surpresas e um final que demonstra o quanto Cregger estava o tempo inteiro no total controle da situação, tanto narrativa, quanto plasticamente.
Cada plano detalhe de Cregger que parece aleatório e só bonito, é sempre resgatado e bem usado em algum momento da sequência do filme. Da chave em cima da mesa até a trena jogada no chão. “Barbarian” é um filme centrado em suas intenções e o resultado é uma diversão completa, tanto para os fãs, quanto para quem entrar sem querer nessa história e for raptado pelas ótimas intenções de Cregger.
Intenções inteligentes e que criam personagens ainda mais inteligentes em suas soluções, sejam inocentes, arrogantes, rejeitáveis e até selvagens. É fácil entender absolutamente qualquer caminho, motivação e opção de qualquer personagem e isso coloca o espectador em um terror que sai da mesmice frustrante daqueles velhos e mofados protagonistas que gritam mais do que pensam.
“Barbarian” pode entrar na lista de filmes que irão te surpreender e não há nada melhor no cinema do que ser surpreendido. Portanto, surpreenda-se.
“Barbarian” (EUA, 2022); escrito e dirigido por Zach Cregger; com Georgina Campbell, Bill Skarsgard, Justin Long, Richard Brak, Jaymes Butler e Matthew Patrick Davis