Dívida de Honra Filme

Dívida de Honra

Diferente de como o Cinema costuma retratar o velho Oeste americano, o ator e diretor Tommy Lee Jones abraça um projeto que planeja desmistifica-lo. Em uma versão desprovida do romantismoDívida de Honra Poster de Bravura Indômita dos Irmãos Coen, a história de Dívida de Honra é um road-movie com dois excluídos da sociedade levando outros três em uma viagem reveladora antes mesmo do seu início.

A primeira sequência do filme mostra de diversos ângulos uma paisagem que não tem nada a oferecer exceto o sol nascendo, e uma fotografia que oprime por suas cores drenadas e um pó que consome as pessoas. A pequena cidade com meia-dúzia de casinhas serve de suporte para seus esparsos habitantes, ou sobreviventes. Coisas triviais como música ou um pedaço de queijo são valiosos, e é por isso que a bela trilha sonora de Marco Beltrami arrisca apenas um tema e é usada em momentos pontuais.

Nossa heroína é a solteirona Mary Bee (Hilary Swank), que vemos logo no início arando um solo intragável e tentando arrumar um casamento através do seu senso prático. Uma mulher naquele ambiente precisa de ajuda. Nesse caso não é machismo, mas a sobrevivência em um ambiente hostil.

Por falar em ambiente, é curioso perceber como é ele o responsável por moldar os valores dessa sociedade, onde a religião acaba se limitando a definir e manter acordos (com o apelo da “honra”), enquanto a invasão de propriedade, como dito por um personagem, é 90% da lei, e cuja pena é o enforcamento de quem não se dispõe a respeitar o mais fundamental dos direitos alheios. Além disso, uma questão recorrente e que se torna mais óbvia no terceiro ato são as diferenças entre o Oeste e o Leste do país, quase que sugerindo um separatismo velado. É preciso lembrar, no entanto, que ainda não existe um país de fato, e Dívida de Honra pode muito bem figurar entre os filmes que ilustram as bases de uma sociedade em formação, comparando-se (não em importância, claro) a O Nascimento de uma Nação.

Dívida de Honra

Embora até aqui o filme pareça uma maravilha impecável, seu “calcanhar de Aquiles” começa na direção e termina na escolha do elenco. Apesar do trabalho eficiente de Tommy Lee Jones, a sua atuação como o “velho inútil” com um passado de erros acaba perdendo o tom da narrativa. Seus momentos mais engraçados são os que ele justamente não os força para ser. Já Hilary Swank tem uma personagem tão coesa que flerta com sua unidimensionalidade. É uma personagem trágica por definição, mas a escolha da atriz por seu trabalho passado é uma bobagem. Sua nostalgia da “civilização” (mais do que sua família) e seu tom pragmático são uma fraqueza fundamental em sua existência. Paradoxalmente é Tommy Lee com seu papel de bruto que ganha notoriedade por nos fazer voltar sempre à questão histórica e cultural. É um homem simples cujas conclusões o tornam complexo.

Por fim, mas não menos importante, a ação acontece no território de Nebraska, criando uma comparação curiosa com os habitantes do filme recente homônimo (para não-americanos, uma maneira de entender a sociedade por lá, embora talvez simplista). Não é incomum por lá os ventos levarem toda a plantação e invernos rigorosos acabarem com muitas vidas. Quase podemos fazer um paralelo com o Nordeste brasileiro primordial, onde o sertanejo, de acordo com Euclides da Cunha escritor, é antes de tudo um forte.

Há um momento em que o personagem de Tommy Lee resolve um possível conflito com os índios em cinco minutos, alertando sabiamente: se eles virem, não tente usar a espingarda, entre na carroça e dê um tiro na cabeça. Essa cena fascina menos pela tensão e mais pela possibilidade de isso ter ocorrido de fato em algum canto do Oeste selvagem.


“The Homesman” (EUA, 2014), escrito por Tommy Lee Jones, Kiera Fitzgerald e Wesley A. Oliver, à partir do livro de Glendon Swarthout, dirigido por Tommy Lee Jones, com Tommy Lee Jones, Hilary Swank, Meryl Streep, Grace Gummer, William Fichtner, Tim Blake Nelson, James Spader, John Lithgow e Miranda Otto.


Trailer – Dívida de Honra

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