Nascido na África do Sul, Neil Blomkamp tem apenas 34 anos, mas já em seu currículo um baita sucesso de bilheteria, Distrito 9, fator que, com certeza, lhe permitiu assinar essa sua nova ficção científica, Elysium, muito menos corajosa, mas ainda em busca de Elysium postercutucar uma ou outra ferida do mundo atual. E o mais legal disso, sem precisar se desvencilhar de um filme de ação bacana.

Assim como em seu primeiro filme, o diretor parece então continuar em busca das mazelas de uma sociedade moderna que, de modo pouco sutil, é um retrato exagerado de um cenário dos dias de hoje (ou de um passado recente, como o Apartheid serviu de inspiração para Distrito 9). E agora, em um futuro próximo (2154) e em um Planeta Terra que se tornou praticamente inabitável, pelo menos para quem tem dinheiro e vai morar nessa espécie de estação que orbita a Terra, é prima (circular) da nave do 2001 e tira o nome (e título do filme) do paraíso da mitologia grega.

E a enorme falta se sutilezas continuam com o plano aéreo que começa o filme (enquanto explica a situação) e mostra que tudo virou uma enorme, marrom e aos pedaços favela onde todos parecem (não à toa) saídos do lado de baixo da fronteira dos Estados Unidos. Blomkamp então não deixa claro se o resto do mundo compartilha daquelas referências “hispânicas”, mas lembra de que lá do lado de cima (que pode ser enxergado como um sonho distante) tudo é multicultural, arborizado com suas mansões e jardins. Completamente distópico, já que cada moradia tem seu aparelho de cura, enquanto lá embaixo todos ocupam salas de espera sujas em hospitais apinhados de doentes.

“Distópico” ainda por que é controlada pela mão de ferro da personagem de Jodie Foster, uma espécie de “ministra da defesa” do Elysium e que não parece muito empolgada com a ideia de ter que ser pacifista com a população da Terra. E é nesse cenário que surge Max (Matt Damon), um funcionário genérico de uma fabrica qualquer que após um acidente de trabalho descobre que não tem muito tempo de vida e decide que dará um jeito de partir em busca da sua salvação, lá em Elysium (em um daqueles aparelhos). Mas para isso terá que fazer um trabalhinho para um “criminoso local”, Spider (Wagner Moura estreando em Hollywood, fazendo bonito e, na companhia de Sharlto Coplay, sendo os únicos que compõe personagens e não seguem no piloto automático).

Na verdade, Spider é chefe de uma espécie de rede de “coyotes” (entre outros crimes) que vivem de tentar “invadir” o Elysium em tentativas suicidas, e completa um conjunto de personagens que só não é completamente egoísta e impossível de se torcer pela presença da enfermeira vivida por Alice Braga e sua filhinha, com leucemia em estado final e precisando de um tratamento (adivinhem onde!). E essa é a primeira coisa que logo salta aos olhos na trama de Blomkamp: seu esforço para não mastigar personagens bonitinhos em busca da salvação do mundo, uma realidade que, muitas vezes, pode afastar o espectador de seu filme (assim como fez comDistrito 9). E mesmo que isso aos poucos se remedeie em um final pra lá de esperançoso e libertador, é extremamente difícil aceitar que durante todo tempo o diretor lhe peça para torcer por um cara só preocupado com sua vida, mesmo diante do destino de toda humanidade (virando as costas até para a pobre criança moribunda filha de sua ex-namorada).Elysium Filme

E nesse caso, em um esforço “hollywoodianamente bobo” que prejudica demais o filme, Elysium força uma série de flashbacks desse garotinho loirinho e órfão que sonha com um futuro que paira sobre o céu de sua vida sem muita esperança. Como se isso pudesse fazer alguém entender seus atos no presente, ainda que não precisassem de qualquer explicação. Blomkamp parece então sacrificar seu próprio filme para aliviar a tensão de seu protagonista, deixando tudo muito mais digerível, porém incomodo em termos de narrativa. Bastaria o final do filme para entender o ciclo de Damon, e não esse monte de baboseira melodramática na figura dessa freira e desse lar adotivo que pipocam vez ou outra na tela.

Elysium então tinha tudo para ser um filme simples, com uma estrutura extremamente bem construída e um final que ruma em direção ao épico mesmo com o espectador só se dando conta disso nos últimos segundos, fosse qual fosse a natureza estragada de seu protagonista (exatamente como aconteceu e funcionou perfeitamente no filme anterior do diretor). Uma experiência que, de modo pouco sutil, faria suas críticas a essa distância de classes, onde quanto mais rico, mais longe da realidade a sociedade fica. Que incomodaria muito mais pela proximidade do mundo fora das telas do que pelo egoísmo do herói, que nesse caso se portaria muito mais como um instrumento na mão de um cineasta em busca de uma mensagem.

E tirando essa “verdade”, e ainda um trabalho esteticamente pouco inspirado de Blomkamp, que em certos momentos parece estar guardando uma ou outra resolução visual mais bacana para certas sequencias de ação, mas faz muito pouco em relação a isso, o que sobra para Elysium é ser apenas mediano e pouco eficiente. Que não será lembrado por suas qualidades, mas sim por ser o filme “daquele diretor do Distrito 9”, que cutuca as feridas, mas não expõe o machucado.


Elysium (EUA, 2013), escrito e dirigido por Neil Blomkamp, com Matt Damon, Jodie Foster, Sharlto Copley, Alice Braga, Diego Luna e Wagner Moura.


Trailer do Filme Elysium

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