Emergência | Pelo menos chega a algum lugar

É difícil entender onde Emergência, novo lançamento da Prime Video, quer chegar. Ele com certeza estende o tapete para o espectador acompanhar duas histórias que seriam interessantes, mas é como se o tapete enrugasse em um lugar e o próprio filme tropeçasse nesse lugar e se arrastasse até o final. Isso quer dizer que a mensagem está lá, mas ao custo do filme que queria ser.

Se a ideia inicial do filme dirigido por Carey Williams e escrito pela roteirista K.D. Dávila era uma espécie de Superbad com o peso de uma discussão racial poderosa, talvez o filme falhe por não encontrar essa relevância. Se a ideia era um drama com uma discussão racial poderosa, falha por ser um pouco Superbad demais.

Curiosamente, o filme nasce de um curta-metragem premiado em Sundance que entende muito melhor as intenções da dupla de realizadores. Nos seus onze minutos de duração, três jovens que moram juntos, dois negros e um latino, descobrem a porta da frente da casa aberta e uma moça branca desmaiada no meio da sala. O curta acompanha o trio tentando descobrir se o melhor a fazer seria ligar ou não para a Emergência. O pequeno filme está quase que completamente dentro do longa, com cada linha do roteiro, mas o filme vai além e esse é seu maior problema.

Nele, Kunle (Donald Elise Watkins) é um universitário com um futuro promissor, já seu melhor amigo Sean (RJ Cyler) não se importa de curtir um pouco a vida enquanto está na faculdade. A ideia inicial do segundo é completar uma “Turnê Lendária”, uma noite onde os dois iriam passar por todas festas que acontecem no mesmo dia antes do feriado de “Spring Break”. O problema é a branca desmaiada na sala e a decisão que eles têm com o outro morador da casa, Carlos (Sebastian Chacon): Levar a desconhecida até a porta do hospital e deixar ela por lá.

EMERGENCY

Nesse momento, o filme cai em um lugar que tenta ser minimamente engraçado (não é) enquanto discutem a relação deles entre si e com o mundo, afinal são minorias étnicas dentro de uma sociedade que não se importa muito de conviver com um racismo absolutamente estrutural. A ideia é boa e resulta em algumas poucas situações interessantes, mas o filme dispersa.

De um lado ele se perde tentando desenvolver um arco com a irmã da garota desmaiada perseguindo eles. Do outro (ao melhor estilo Superbad mesmo!) existe uma pequena mentira entre os melhores amigos que pode colocar a relação deles em risco. Por fim, uma lembrança do quanto a discussão racial do filme é importante e uma guinada meio surpresa para esse lado.

No meio disso, mesmo descambando para um lugar menos interessante, o trabalho do diretor Carey Williams é interessante e objetivo, mantendo sempre o ritmo e valorizando a capacidade do elenco, que aproveita o bom texto de K.D. Dávila para construir cenas que podem estar perdidas no meio de intenções ruins, mas que sempre apresentam diálogos inteligentes, ágeis. Um roteiro que aproveita qualquer linha para ser pertinente e responsável.

E talvez o maior sucesso de Emergência seja isso, mesmo se perdendo diante do material original muito mais eficiente que o longa, ainda assim faz com que um pouco do mundo ao nosso redor possa ser discutido através dessa história. Na maioria das vezes, isso acaba sendo suficiente para o filme chegar em um lugar onde deve ser visto e discutido. Se o filme queria ser outra coisa, perde completamente, mas pelo menos nesse lugar ele chega.


“Emergency” (EUA, 2022); escrito por K.D. Dávila; dirigido por Carey Williams; com RJ Cyler, Donald Elise Watkins, Sebastian Chacon, Sabrina Carpenter, Maddie Nichols, Madison Thompson e Diego Abraham


Trailer do Filme – Emergência

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