“Esporte é toda a forma de praticar atividade física que, através de participação ocasional ou organizada, visa equilibrar a saúde ou melhorar a aptidão física e/ou mental e proporcionar entretenimento aos participantes.”
A definição acima pode ser a oficial sobre o que define algo como sendo esporte ou não. Na prática, no entanto, a definição de uma atividade como esporte é muito mais baseada na cultura local e na tradição do que propriamente no conceito da palavra. É por isso que futebol de areia, capoeira e kung fu não são esportes, enquanto saltos ornamentais, xadrez e judô são. Em essência, não há diferença alguma entre essas seis diferentes formas de entretenimento, no que tange a sua validade como prática esportiva. Porém, enquanto os três últimos trazem glórias e são reconhecidos universalmente em nossa sociedade, os três primeiros ou são completamente ignorados ou ainda buscam pelo mesmo reconhecimento.
No documentário Free to Play, nós temos acesso a um universo que está apenas começando sua luta por esse tão sonhado reconhecimento da comunidade esportiva, o universo dos e-Sports, ou jogos eletrônicos. Focando a narrativa no torneio The International realizado em Colônia, na Alemanha, em 2011, ao acompanhar a jornada de 4 jogadores de destaque de 4 times de países diferente, o filme nos faz adentrar em uma atmosfera muito comum a ambientes esportivos, o de competição extrema. Criando essa energia comum a qualquer esporte, o filme investe inicialmente em desenvolver o cenário de alta competitividade dos e-Sports, assim como a dificuldade adicional que alguém que busque uma carreira nessa área terá, fazendo com que o espectador entenda a situação atual desse esporte no mundo.
Conforme ficam mais bem definidos o cenário, os jogadores escolhidos como “protagonistas” e o que são exatamente os e-Sports, o longa cria uma excitante narrativa – típica de filmes esportivos, mas não menos interessante por isso – com os 4 times de destaques, mostrando as ambições de seus 4 “craques” e realizando de forma impecável a já conhecida história do azarão que vence no final.
O jogo em questão é Dota 2, um jogo multiplayer de estratégia online que é, como diz o título do longa, “de graça para jogar”. Incrivelmente bem-sucedido em seu modelo de negócios, o jogo atingiu também sucesso como esporte ao conseguir que uma parcela gigantesca de seus jogadores casuais – 6 milhões por mês – assistisse ao torneio ao vivo via streaming. O sucesso do torneio também veio pelo fato dos criadores do jogo oferecerem 1,6 milhões de dólares em prêmio, um recorde disparado de qualquer outro evento anteriormente realizado com e-Sports, e fator que acabou gerando interesse na mídia tradicional, resultando em matérias em revistas e jornais em todo o mundo.
A importância desse torneio realizado em Colônia é um marco para o começo de uma nova era dos jogos eletrônicos. Mas, talvez temendo soar demais como propaganda – tanto o jogo, quanto o documentário foram feitos pela mesmo companhia, a Valve Corporation – o filme procura falar mais em termos gerais, deixando de se aprofundar melhor no impacto que o torneio e o jogo realmente tiveram. Por outro lado, há diversas oportunidades em que o longa poderia, ao menos, comentar sobre a imensa importância de outros games que também colaboraram para o inicio destes novos tempos – como StarCraft 2 e League of Legends –, mas o deixa de fazer, muito provavelmente, por serem jogos feitos por empresas rivais.
Mas ainda que o filme peque aqui ou ali, seus erros são mais por não investir mais nos interessantíssimos temas que aborda do que propriamente por cometer erros ou perder o ritmo. Ágil, excitante, e incrivelmente atual, Free to Play é um filme obrigatório tanto para fãs do cinema, quanto para fãs do esporte. Um filme surpreendente que, por ser gratuito para baixar, tudo que espera de nós é que ajudemos a divulgá-lo. Eu estou fazendo a minha parte, e você?
Free to Play (EUA, 2014), com Benedict Lim, Danil Ishutin e Clinton Loomis.