Kick-Ass 2 | Apressado e desajeitado


[dropcap]S[/dropcap]e Kick Ass 2 tivesse que ser resumido em apenas uma palavra seria apressado, tanto em relação aos quadrinhos originais tanto diante do primeiro filme. E o resultado disso não poderia ser outro senão decepcionante, ainda mais para quem se divertiu tanto com esse “herói de verdade”, e só queria uma continuação para matar a saudades.

Ainda que o Kick-Ass – Quebrando  Tudo tenha sido lançado em 2010, e o gibi no mesmo ano (a minissérie teve sete edições e acabou só em 2012), a impressão que fica é ainda que todo material está próximo demais desse segundo filme, fresco e fácil demais de ser comparado. E tirando a novidade da premissa divertida e o apuro visual de Matthew Vaugh na direção, o que sobra apenas é algo capenga e sem vida. Que agora é dirigido por um Jeff Wadlow (do “meio Karate Kid” Quebrando Regras), bem intencionado, mas obviamente receoso de se perder na copia do primeiro. O que nem de longe seria um problema.

O que se vê agora é um filme sobre “heróis de verdade” em um “mundo de verdade”, mas que, na maioria das vezes prefere virar a cara para a realidade. Por definição, Kick Ass é violento e cínico o bastante para levar a sério um monte de malucos fantasiados, e o que Wadlow faz é deixar isso um pouco normal e censurado demais para um filme que, nos Estados Unidos, foi lançado com o grau mais alto de censura. Perto do primeiro, Kick Ass 2 é uma menininha.

E falando em menininha, a Hit-Girl de Chloe Grace Moretz continua sendo o lado mais divertido e dinâmico do filme, ainda que, nem de perto ela seja aquela pequena psicopata vestindo uma peruca roxa. Pior ainda, talvez seja ela quem mais sofra na mão de um roteiro que não percebe o quanto é repetitivo e não se importa de levar as três histórias principais exatamente com o mesmo andamento, motivações e reviravoltas. Enquanto ela precisa se ajustar à vida de adolescente comum, o próprio Kick-Ass (Aaron Taylor-Johnson) tenta ser aquele herói que não é (além de se juntar a um grupo de vigilantes) e, do lado dos vilões, o ex-Red Mist (Christopher Mintz-Plasse sem fazer nada de muito criativo) decide juntar seu próprio grupo de malfeitores fantasiados e se vingar do cara que explodiu o pai com uma bazuca.

Kick-Ass 2 Filme

Disso, a única parte empolgante é mesmo um terceiro ato onde tudo deixa de ser visto em linhas paralelas e nada parece realmente acontecer. Nesse momento, os três personagens principais podem colocar para fora todos seus problemas com os pais. O trio então seria um prato cheio para Freud, pois só são movidos por óbvias questões inacabadas com figuras paternas, e como isso nem de perto isso é encarado com qualquer sutileza, é difícil não se cansar com a repetição da problemática.

O pior é que, enquanto o roteiro não deixa nada de realmente divertido acontecer (e ainda apele para um jato de vômito e de diarreia muito mais em foco que qualquer momento violento que o filme merecia), deixa enfraquecer toda linha tremendamente divertida do vilão, que se torna o Motherfucker (assim que causa um “acidente” na própria mãe) e decide que seu poder será ter muito dinheiro enquanto forma o grupo mais politicamente incorreto que poderia, cheio de nomes racistas e situações imbecis. É apenas o Motherfucker que parece se esforçar para continuar naquele filme divertido de 2010, onde se dava risada de decapitações.

Um filme que agora não sabe nem aproveitar a presença inesperada de Jim Carrey, quanto mais aquela vontade de ser caoticamente engraçado que imperou no primeiro e agora deixará muitos fãs com a impressão de que foram enganados somente diante da possibilidade de engordar os cofres com uma história que poderia ter sido muito melhor trabalhada.


Kick-ass 2 (EUA/RU 2013), escrito por Jeff Wadlow, Mark Millar & John Romita Jr (mini-série), dirigido por Jeff Wadlow, com Aaron Taylor-Johnson, Chloe Grace Moretz, Morris Chestnut, Christopher Mintz-Plasse, John Leguizano e Jim Carrey.


Trailer do filme Kick-Ass 2

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