Kraven – O Caçador | É ruim, mas não era para ser bom, era?

Existe uma miríade de vilões do Homem-Aranha, há quem diga que sua galeria de opositores seja até mais interessante e divertida do que a daquele rapaz lá de Gotham City (e é!). Uma quantidade enorme de bandidos chinfrins que foram picados, mordidos, apaixonados ou apenas se inspiraram nos mais diversos bichos. São poucos aqueles que os fãs do Amigão da Vizinhança levam realmente a sério e, com certeza, Kraven, o Caçador, era um desses. Até agora.

Mesmo com seu bigodão estiloso e o coletinho com juba de leão, Kraven foi a estrela de uma das histórias mais importantes do Homem-Aranha, A Última Caçada de Kraven, de 1987. Mas além disso, o personagem sempre foi esse vilão que beirava uma força da natureza e não tinha objetivos cretinos ou megalomaníacos, simplesmente queria caçar o Homem-Aranha. Portanto, você que for até o cinema ver Kraven – O Caçador, não se engane, o personagem é ótimo, o filme é que não é.

E também esqueça o bigode e a aquela distância temática dele para outros vilões menos criativos, o Kraven cinematográfico (vivido por Aaron Taylor-Johnson) é tudo aquilo que esse universo cinematográfico aranhoso da Sony merece. Depois de Venom, Morbius e Madame Teia (devo estar esquecendo de algum!) o “novo” Kraven é a mistura de um ataque de leão com uma poção mágica aplicada pela jovem Calipso (interpretada na fase adulta pela ganhadora do Oscar Ariane DeBose). A moça também é saída das páginas do Homem-Aranha e por lá foi parceira do Kraven por um tempão.

Mas não para por aí! Kraven tem a maior quantidade de vilões ruins do Homem-Aranha por “frame quadrado” da história do cinema. Quem sequestra o meio-irmão de Kraven, Dimitri (Fred Hechinger), para chantageá-lo é o Rino (Alessandro Nivola) em uma versão com uma mochilinha (a explicação é maravilhosa!). O próprio meio-irmão, assim como nas HQs, é o futuro Camaleão, e tanto ele, quanto Rino, acabam tendo uma ligação com um tal de Miles Warren, que é o Chacal, mas esse não aparece, é só citado e vai ficar para um segundo filme que não deve acontecer.

Por fim, mas absolutamente menos importante, Rino contrata o Estrangeiro (Christopher Abbott) para ajudar na captura de Kraven. Sim! O ESTRANGEIRO! Um personagem que o total de cinco pessoas no mundo lembram da existência e ganha um dos poderes mais vergonhosos da história dos quadrinhos nos cinemas. Sua habilidade nos quadrinhos nem é tão diferente, mas no cinema ela fica ridícula.

Talvez porque, o que está nos quadrinhos têm uma gradação de ridículo que se permite estender essa corda de maneira mais aceitável. Um mundo crível e que se leva a sério não está preparado para esses dois parágrafos anteriores sem devidas adaptações minimamente competentes. A Sony parece não se importar com isso e aposta apenas nos fãs indo até o cinema com a esperança de ver mais ligações desses filmes descartáveis com o Homem-Aranha. E como a esperança é a última que morre, essa torneira não deve fechar tão cedo.

Para fazer isso casar com as baixa expectativa de todos, Kraven é escrito por um trio especializado em filmes de ação esquecíveis em que os personagens ficam viajando pelo mundo. Richard Wenk, de Assassino a Preço Fixo e Os Mercenários 2, e a dupla Art Marcum e Matt Holloway, de MIB – Internacional, o último Transformers e Uncharted. E a impressão é essa mesma, de um filme escrito por essas pessoas com esses currículos, já que as linhas de diálogo são sofríveis, os personagens absolutamente vazios e as motivações capengas, mas tudo dentro do mínimo necessário para um punhado de cenas de ação competentes, divertidas e violentas.

A direção fica nas mãos de J.C. Chandor que vem tentando afundar sua carreira depois dos ótimos Até o Fim e O Ano Mais Violento, com o fraco Operação Fronteira e agora esse Kraven. Mesmo sem muita coisa para desenvolver, pelo menos sua câmera parece se divertir com as possibilidades absurdas, GCI e dólares. Então, de ação e cenas estilosamente violentas, ninguém vai sofrer de abstinência.

No fundo disso tudo, movimentando os traumas de todos personagens está ainda um Russel Crowe com um sotaque russo que é pura canastrice e diversão (semelhante ao que ele fez no seu Zeus de Thor Amor e Trovão!). Porque, se você vai ter Russel Crowe em um filme ruim, que ele sempre tenha um sotaque russo!

Infelizmente quadrinho não tem sotaque, mas nos gibis existe aquela sensação de que nada é tão ruim que não possa piorar o suficiente para se tornar divertido, principalmente nas histórias do Homem-Aranha e seus vilões sem inspiração. E Kraven – O Caçador (o filme), chega muito perto disso. Na verdade, faz melhor que isso, deixa a sensação de que você, fãs dos quadrinhos, sabe o quanto seria desastrosamente interessante a Sony gastar ainda mais dinheiro para fazer uma continuação que colocasse nas telas todos esses vilões mixurucas (sem o Homem-Aranha, é claro!) em mais um filme meio sem roteiro e com umas cenas de ação bacanas.

E não se enganem, a galeria de vilões do Cabeça de Teia ainda tem uma lista infindável de gente ridícula e que merecia um filme!


“Kraven – The Hunter” (EUA, 2024); escrito por Richard Wenk, Art Marcum e Matt Holloway; dirigido por J.C. Chandor; com Aaron Taylor-Johnson, Ariana DeBose, Fred Hechinger, Alessandro Nivola, Christopher Abbot e Russell Crowe.


Trailer do Filme – Kraven – O Caçador

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